IV. Clarke

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43 dias. Levei quarenta e três dias para finalmente beijá-la. Não acho que ela tenha sido pega de surpresa pelo ato, talvez um pouco despreparada, mas não surpresa, muito embora isso não a tenha impedido de quebrar o beijo e se afastar de mim.

O misto de sentimentos que vi em seus olhos nunca sairá da minha cabeça. Ela me queria. Lexa estava disposta a se abrir novamente para alguém, a se permitir amar, mas não daquela forma... Não enquanto eu vivesse com o Finn e tentasse reparar qualquer coisa que tivéssemos. Ela não me queria pela metade e eu temia que tivéssemos chegado naquele limite, onde eu precisava tomar uma decisão antes que perdesse ambos.

Eu estava confusa, não confusa pelos sentimentos que nutria por ela, confusa pelos sentimentos que um dia nutri por Finn, confusa sobre minha sexualidade, confusa pelas decisões que havia tomado nos últimos anos... Já havia cometido erros demais na vida, não queria mais um para a lista, além do mais, talvez fosse apenas uma curiosidade? Algo passageiro... Talvez não, e essa dúvida me corroía dia após dia.

Não nos falamos por uma semana após ela me enxotar do seu apartamento. Não precisei de uma bola de cristal para confirmar que ela estava me evitando, Octavia fez questão de me contar e me ameaçar durante uma não tão amistosa ligação, se bem me recordo ela me chamou de 'incubada', 'vaca egoísta', 'vadia' e ameaçou me bater caso eu ferisse Alexandra... Não fiquei ofendida, possivelmente ela tivesse razão.

"Lexa!" ouvi alguém chamar do corredor. Ninguém antes tinha batido no apartamento da artista gritando seu nome, seus amigos tinham as chaves do lugar e os demais vizinhos mantinham uma certa distância da morena.

Estreitei os olhos e espiei pelo olho mágico quem era a misteriosa pessoa. A mulher parecia nervosa, pois zanzava de um lado para o outro. Estava na casa dos quarenta anos e tinha sutis traços asiáticos. Novamente a curiosidade me venceu e eu abri a porta, pegando a atenção da desconhecida.

- Posso ajudar?

Ela me estudou, seus olhos âmbar marejados como se estivesse prestes a entregar uma péssima notícia. – Você conhece a garota que mora aqui? – apontou para o apartamento diante do meu.

Acenei afirmativamente – Lexa – respondi simplesmente e esperei, afinal, não sabia quem era aquela mulher, tampouco o que ela queria.

Seu rosto iluminou-se como uma lâmpada e ela sorriu... Eu conhecia aquele sorriso, foi a coisa mais difícil que consegui arrancar de Lexa.

- Ela está bem?

A pergunta me deixou mais confusa do que eu estava antes. Inclinei o rosto levemente para o lado – Acho que sim, quem é você?

A mulher abaixou a cabeça e deu um riso nasalado, triste, mas ao mesmo tempo conformado. – Ela não falou sobre a própria mãe... – suspirou e olhou para o teto, como se tentasse não chorar. Eu não sabia o que fazer, muito menos o que dizer, até porque Lexa realmente nunca tinha mencionado uma mãe, ou qualquer outro familiar.

Fiquei em silêncio.

- Meu nome é Anya, você poderia entregar isso para ela, por favor? – tirou uma carta do bolso e a empurrou na minha direção.

Passei alguns segundos sem esboçar nenhuma reação, mas no fim acabei pegando a carta – Tudo bem – concordei.

Anya me sorriu tristemente mais uma vez antes de dar as costas e partir.

Virei a carta entre os dedos e dei de ombros, pelo menos agora eu tinha uma desculpa para falar com Lexa.

Como um relógio Suíço a garota chegou às 5pm em ponto. Esperei trinta minutos antes de bater na sua porta.

my dream girlWhere stories live. Discover now