A Love Letter

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Olá, meu amor.

Acho que hoje é um bom dia para lhe entregar essa carta, espero que não esteja muito atrasada, você me conhece, sabe como eu posso procrastinar um pouco as coisas, mas vamos iniciar pelo dia que você me assegurou que não iria para lugar nenhum, acho que foi lá que nossa história realmente começou. Naquele tempo eu não pensei muito sobre os desdobramentos que aquilo acarretaria. Talvez estivesse perdida demais nos meus próprios anseios para temer alguma coisa, ou talvez você me passasse a segurança necessária para não ter medo.

Lembra quando você, eventualmente, me fez desistir daquela ideia estúpida de abandonar aquele nosso apartamento em Portland? Mencionado algo sobre a crise imobiliária e más vizinhanças, o que me fez sorrir pela primeira vez naquele dia. Então me levou até o quarto e me abraçou até eu adormecer.

Era estranho, após todos aqueles anos, sentir esse tipo de proximidade com alguém, óbvio que eu tinha Octavia, Murphy e Raven, mas eles nunca me forçaram a sair da minha bolha de conforto, não os responsabilizo, a única culpada era eu, mas, até a sua chegada, minha querida, eu não sabia como lidar com essa responsabilidade. É como você sempre costumava dizer; não sei o que você faria sem mim. Bem, eu também não sei. De qualquer forma, eu compreendi que não poderia alterar o passado, mas deveria ser corajosa o bastante para admiti-lo e me desculpar pelo que eu havia feito. E, foi só após sua interferência, que pude finalmente fazer as pazes com ele, consegui encarar minha mãe e pedir perdão. Nós três viramos um belo trio, você não acha?

Lembra da época onde eu pensei que havia feito mais uma amiga? Que você, o grande amor da minha vida, seria apenas minha amiga? Também não acredito que cheguei a cogitar isso, por sorte você estava lá para me colocar nos eixos.

Nessa época eu empurrei qualquer sentimento que ainda cogitava a ideia de nascer e o tranquei, para que ninguém tivesse acesso, mas era difícil, já que bastava vê-la sorrir para meu coração se preencher de felicidade, você sempre causou em mim o efeito de borboletas no estômago, igual os clichês daqueles filmes românticos que você me forçava a assistir. Eu vejo um por semana, sempre pensando em você.

A Clarke que eu conheci, levando aquela travessa de torta a minha porta, se monosprezava e sentia-se uma inútil. A Clarke que você se tornou deu aulas de teatro numa ONG, criou sua própria companhia e se apresentou nos maiores palcos do País, e, acima de tudo, não ligava para a opinião de ninguém. Eu me orgulho imensamente do quão longe você chegou e para mim era uma honra estar na platéia, exaltando cada um dos seus sucessos.

Para ser sincera, essa não é a primeira carta que eu escrevo para você, na realidade, eu fiz uma carta antes de nos tornamos uma família, mas nunca tive coragem de entregá-la, e, apesar de piegas, nela eu coloquei cada um dos motivos de amá-la, acho que desisti por não existir papel infinito, mas lembro que o primeiro motivo era seu sorriso, que era capaz de iluminar os cantos mais escuros da minha alma... Ao final dela eu a pedia em namoro, mas acabei riscando essa parte. Eu queria, na realidade, era te pedir em casamento, mas com apenas um mês de convivência achei que pudesse te assustar... Mal sabia eu que nada era capaz de te assustar.

Nosso primeiro beijo foi numa das tardes em que estávamos passeando com o Pongo, sinto saudades dele, pelo caminho tomávamos sorvete, aquele de pistache que você adorava e que eu tomava só pra ter ver feliz, e parecíamos um típico casal lgbt de Portland. Eu amava a sensação das pessoas realmente acharam que éramos um casal. Quisera eu ter aquela sorte, àquela altura. Então você me pegou pela cintura e ficou na pontinha dos pés para conseguir alcançar minha boca. Eu comeria pistache pelo resto da minha vida após aquilo. Seus lábios estavam gelados, mas sua língua era cálida e deslizava sobre a minha de forma dominante, como se soubesse que pertencíamos uma a outra. Eu poderia viver naquele beijo e eu sei que surtei um pouco após o acontecido, mas sendo completamente honesta, você era noiva daquele idiota, Finn. Sabe amor, eu ainda não acredito que nossa doce Maddi casou com o filho daquele cara, Athos, até o nome é pretencioso, mas estou fazendo como você me ensinou e o trato bem, talvez você tenha razão e ele não seja um completo idiota como o pai.

Por falar da Maddi, ela está bem, entrou para o médicos sem fronteiras com o marido e segue os passos da sua mãe, que, assim como você, partiu cedo demais. Ontem ela me enviou uma foto com um gorila, minha pressão anda até um pouco alta depois disso. Aiden também está ótimo, meu menininho, eu sei que não devemos ter um filho preferido, mas vou admitir que Aiden é o meu, espero que não fique tão brava assim. Nosso bebê é um dançarino incrível, como você bem sabe, ele saiu numa tour com alguma cantora pop que dança num palco néon fluorescente. Eu vi um vídeo deles uma vez e quase me deu um ataque epiléptico, mas o importante é ele estar feliz.

Hoje faríamos 45 anos de casadas, olhei na internet e isso são bodas de rubi. Então feliz bodas de rubi, meu amor, hoje também faz três anos desde a última vez que toquei suas mãos, beijei seus lábios e senti seu cheiro. Nunca pensei que você partiria antes de mim, inclusive acho que fizemos uma aposta sobre isso em algum momento da nossa vida, então me espere que eu irei cobrar essa dívida.

Eu tento ser feliz e otimista, como você sempre foi, até o final, quando aquela doença maldita a tirou de mim, mas alguns dias são mais difíceis que outros, hoje, enquanto escrevia essa carta, não pude evitar algumas lágrimas. Inevitáveis, você diria. Eu prefiro saudosas. Uma parte se entristece por não tê-la mais fisicamente, outra parte se alegra por tudo que vivemos e pelo legado que deixamos em nossos filhos. Pelo amor que espalhamos, pelas risadas, pela cumplicidade e, as vezes, as discussões que sempre acabavam nos amadurecendo.

Um dia Aiden me perguntou se eu acreditava em vida após a morte, eu pensei por algum tempo e só então respondi que só acreditaria em uma vida se você estivesse nela.

Acho que essa carta está meio atrasada, meu amor, mas, de qualquer forma, eu a escrevi.

Descanse bem e em breve estaremos juntas.

Com amor, Lexa Griffin.

my dream girlOù les histoires vivent. Découvrez maintenant