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Colin Laqueuille é o seu nome, Colin Laqueuille é o nome que arruinou a vida de Francesca Roquefor.

§

"O Cantinho" é uma lanchonete modesta mas para desconforto de Francesca é também a lanchonete onde todos os seus antigos colegas de liceu gostam de ir, e como se a situação não fosse má o suficiente não são o tipo de jovens que passam oito horas nas aulas e duas no café mas sim o contrário.

Francesca tinha conseguido este trabalho à cerca de duas semanas apenas, mas já tinha sido o suficiente para se aperceber de que os teria de continuar a ver durante os próximos meses, tendo em conta o seu estado já ficou feliz por ter um emprego e felizmente daqui a cinco meses estaria apenas atrás do balcão e não a servir às mesas como tinha sido acordado com o patrão, o Sr. Gonçalves sempre teve muito carinho pelo grupo de amigos de Francesca quando estes costumavam passar tardes sentados na sua lanchonete, então quando ela lhe pediu desesperadamente um emprego ele mesmo sem realmente precisar de uma nova empregada aceitou dar-lhe um lugar.

Tinha começado o seu turno de segunda-feira à quase duas horas quando começou a chegar o grupo habitual de alunos que tal como ela deveriam estar numa sala de aula e não numa lanchonete, mas ao contrário deles ela não tinha realmente escolha e odiava-os por isso, não que a culpa fosse deles, mas odiava ver que não davam valor ao que ela mais adorava na vida, ela era uma jovem que adorava assistir às aulas, principalmente as de arte, por certo podia voltar a qualquer momento que quisesse, quando congelou a matricula os pais trataram de tudo com o diretor da escola e explicaram a situação, e tendo em conta que ela era uma aluna que nunca causava problemas, e não podendo descartar o facto de ser também de boas famílias, e de o liceu depender em grande parte das ajudas monetárias largamente generosas que o seu pai dava. Se tudo corresse como planeado ela estaria de volta aos corredores do Liceu no próximo ano, talvez não a estes mas a uns bastante parecidos.

Está concentrada na sua dobragem de guardanapos quando é trazida para a realidade por uma voz estridente que chama o seu nome, Francesca é capaz de conhecer aquela voz em qualquer lugar que se encontre.


- Francesca! - gritou Gina a sua melhor amiga ainda com um pé fora da lanchonete.

- Eu já vos atendo, podem se sentar. - sussurrou Francesca sem grande alternativa mas com grande ânimo na sua voz e rapidamente deixou o que a ocupava de lado e foi em direção ao grupo de amigos que acabava de se sentar na mesa ao lado da grande janela.

- Não têm aulas? - perguntou ela enquanto entregava os menus.

- Tivemos furo, e ainda bem porque não tinha preparado nada. - respondeu rapidamente João, claramente o mais rebelde de todos.

- Tiveram furo de quê? - Francesca parecia quase desinteressada mas havia alguma nota na sua voz que mostrava precisamente o contrário, e foi então que apercebendo-se do pânico da amiga Gina respondeu.

- A matemática - despachando-se a acrescentar assim que viu os pequenos olhos da amiga arregalarem e ficarem quase do tamanho de todo o rosto - foram todos para trás do clube não devem aparecer aqui tão cedo, ao que parece o Rodrigo tem um novo produto que arranjou através de um primo colombiano. - pelos vistos devia ter omitido a parte do produto colombiano porque a expressão de Francesca ficou ainda mais aterrorizada tentando salvar a situação seguiu com o seu pedido - podes me trazer uma tarte de morangos que eu tanto adoro?

- Sim, claro e acabaram de ser preparadas pelo Gerard portanto devem estar deliciosas.

- Estão sempre deliciosas para a Gina! Traz-me um café, dos grandes se faz favor.

- Sim, então e tu Tiago?

- Não sei, traz-me um café para ver se acordo.

- Está bem, vão querer mais alguma coisa? - continuou a escrever no seu pequeno bloco A5 que trazia sempre consigo enquanto os três amigos diziam que não e davam inicio a um debate que os faria descobrir porque o professor de matemática estava ausente, como era habitual iam discutir bastante, gritar ainda mais e no final nenhum ia ter razão e o João ia acabar por sair para fumar um cigarro, e passaram apenas cinco minutos e o João já se estava a levantar para sair tirando do bolso do seu casaco de couro preto um cigarro e um isqueiro, Francesca ri enquanto observa o amigo e vê o seu raciocínio mostrar-se mais uma vez correto.

§

A este seguiu-se Gina que muito raramente saía de algum lugar quente para matar um vício como o do tabaco, de frente para o João acende o seu cigarro e começa a ficar com uma expressão de quem está prestes a matar alguém.


- O que foi Gina? Diz lá. - não é que ele esteja realmente interessado mas já conhece demasiado bem a amiga para saber que ela está prestes a rebentar e que só está à espera que ele lhe dê autorização para começar a relatar o que tanto a incomoda.

- O que foi? Não viste como ela ainda fica? Só espero que aquele parvalhão não se lembre de aparecer!

- Nós tentamos já não falar sobre esse "parvalhão", mas sabes bem que daqui a pouco estão aí temos duas horas antes da próxima aula. - e sem tempo de dizer mais nada começa a sentir o corpo a tremer, mas não de frio - e por falar em parvalhão vem ali um bando deles.

- Ai que não acredito! Ele vai ver o que lhe acontece se entra por esta porta!

- Está quieta! - amarrou-a pelo braço e atirou os cigarros ainda não acabados para o chão e despachou-se a entrar e arrastar a amiga com ele.


Ao ver a cara furiosa da amiga sendo arrastada para a mesa o Tiago e a Francesca que estavam a conversar sobre as aulas que ela tem perdido só conseguem soltar gargalhadas, mas numa fração de segundos as gargalhadas dão lugar a um silêncio perturbador.

Penelope entra no cantinho como se fosse dona do lugar, seguida por um bando de rapazes e raparigas cujos nomes seria gasto desnecessário de tinta e papel, Rodrigo entra também e quando o coração de Francesca parece acalmar e bater ao ritmo normal a porta volta a abrir e é então que entra Colin, tira o gorro e penteia os seus cabelos escuros com os dedos finos e ligeiramente compridos, entra e vai diretamente sentar-se na mesa com o grupo que entrou segundos antes dele, Francesca tenta disfarçar o desânimo de ele nem ao menos ter olhado em volta a procura dela mas a tristeza que os seus olhos têm não passa despercebida aos amigos.


- Tenho de ver se o Gerard precisa de ajuda!


Ela não corre mas a vontade era mesmo essa então vai para a cozinha num passo mais apressado.


- Imbecil - a verdade é que apesar de Gina ser a única a dar a sua opinião mais sincera e embora todos se sentiam da mesma maneira em relação a ele a diferença é que os rapazes tinham a habilidade de reagir a estas situações com sangue mais frio, o que não foi o caso no entanto há três semanas quando se encontravam todos à porta do liceu.

Eterno AmorWhere stories live. Discover now