Arrependimento

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POV Camila "Cabello" Estrabao

Antes de morrer, meu pai sempre me dizia para tomar cuidado com quem eu me envolvesse. Ele dizia que os sentimentos tratados de forma errada, podiam acabar com a sua sanidade. E para alguém que um dia iria ficar no comando da máfia dele, perder a sanidade não era uma das opções.

Eu me deixei perder essa sanidade quando estava viajando naqueles meses com Lauren. Eu me perdi do grande objetivo da minha vida para viver um amor. Fugi igual a uma adolescente fugiria com alguém que julgasse ser o amor de sua vida. E não, eu não me orgulhava disso. Mas tampouco me arrependia. Aqueles meses de paz me fizeram repensar toda a minha vida, pra se falar a verdade. Pensar no quanto eu amava aquela mulher, no quanto eu queria uma vida com ela, e no quanto eu estava disposta a largar a única coisa que meu pai havia me deixado antes de morrer. Meu orgulho ia por água abaixo quando o assunto era Lauren. Eu parecia um cachorrinho domado. E não, eu também não me orgulhava disso. Pensei por várias semanas no que seria melhor para ela, e a única conclusão que eu havia chegado era aquela que eu tentava afastar o máximo possível da minha cabeça: tínhamos que nos dar um tempo.

Quando pedi por esse tempo, entretanto, eu esperava uma resposta diferente dela. Tudo o que ela fez fora pegar uma mochila, enfiar algumas roupas, e, antes de sair pelo elevador, me dar um selinho demorado. Controlei a muito contragosto a minha vontade de pegá-la pelo braço e pedir para que ela ficasse. Meu orgulho falou mais alto e fez com que eu não fosse atrás dela. E isso me machucava.

As minhas próprias escolhas me machucavam.

E mais uma vez, ali estava eu, sabendo que não havia sido o certo ou o melhor, mas não me arrependendo de tê-lo feito.

Fazia-se um dia que Lauren havia ido embora, mas o vazio já estava ali por semanas, então não foi tão difícil assim assimilar aquilo. Ainda assim era estranho não ter a presença dela por perto; olhar pela sacada e não vê-la sentada na areia, observando o mar.

O meu celular tocou, mas eu não estava no clima para atendê-lo. Queria paz. Queria um copo, uma garrafa de uísque. Queria ficar sozinha. Queria acreditar que eu queria tudo aquilo. Mas na verdade, eu queria apenas Lauren comigo de novo.

Andei até o bar da casa e enchi um copo com a última garrafa de uísque eu tinha. E já havia perdido a conta de quantos copos havia tomado, mas uma das garrafas já tinha ido. Eu estava extremamente tonta, mas aquilo não estava surtindo mais tanto efeito quanto eu gostaria que estivesse. Eu estava quase apelando para a tequila. Drogas, quem sabe?

— E aí, pai — gritei, balançando o copo com o uísque no alto e olhando para cima. — O que acha de eu começar a usar drogas? — Fiz uma pausa para beber um gole do uísque. — Não era você quem sempre me falava "nós vendemos, mas não usamos, porque ser usuário é estupidez"? — Dei o último gole no uísque antes de constatar que assim como o copo, a garrafa também estava vazia. Joguei o copo e a garrafa em qualquer canto da sala e fui até a sacada, deitando-me em uma das espreguiçadeiras. — Talvez fosse hora de começar a ser estúpida.

Fechei os olhos e caí no sono imediatamente.

A claridade me atingiu em cheio. Abri os olhos, piscando várias vezes para tentar focar em alguma coisa, mas assim que encarei o sol, minha cabeça doeu como nunca e eu quis morrer imediatamente. Olhei em volta. Eu tinha dormido na sacada. Mexi meu corpo só para constatar o que eu já sabia: eu estava completamente dolorida.

Saí da sacada e fui em direção do nosso quarto.

Seu quarto, Camila. Agora o quarto é só seu.

Respirei fundo e entrei no banheiro. Eu precisava de um banho longo.

Assim que saí do banho, saí largando a toalha no chão da sala e me jogando no sofá. O barulho do meu celular voltou a preencher o apartamento. A muito contragosto fui atendê-lo.

— Camila — disse eu.

Camila, onde diabos você se enfiou de ontem pra hoje? — um Michael muito do nervosinho falou do outro lado da linha.

— E lá é da tua conta? — perguntei autoritária. — Fala de uma vez.

Ouvi Mike suspirar do outro lado da linha.

Lauren estava sendo vigiada ontem, como você pediu que fosse. Mas perderam o rastro dela — ele disse.

— COMO ASSIM, MICHAEL LAWRENCE? — gritei no telefone. — TUDO O QUE EU PEDI PRA VOCÊS INCOMPETENTES FAZEREM FOI QUE VIGIASSEM ELA. QUE MERDA ACONTECEU?

Mike suspirou mais uma vez.

— Ela estava na praia ontem — ele falou. — Mas quando deixou a praia, perderam ela de vista.

— Michael, como vocês perdem uma mulher de vinte e cinco anos de vista? Ela não tinha nada além de uma mochila com roupas e uma arma!

Depois que ela saiu da praia, ela sumiu, Mila — ele disse.

— Ela simplesmente sumiu?

Sim.

— Como?

— Ela saiu da praia acompanhada.

Fiz alguns segundos de silêncio enquanto a minha mente tentava processar o que Mike havia acabado de dizer. Não faziam nem dois dias que Lauren havia ido embora direito e ela já arrumara outra pessoa? O quão superável isso me faz?

— Mila? — Mike chamou do outro lado.

Respirei fundo antes de falar:

— Quem foi o infeliz? — Mike demorou a falar, então, eu o pressionei: — Mike, quem foi o filho da puta que saiu acompanhado com a minha mulher? Fala, porra! Fala agora que eu mesma me encarrego de enfiar uma bala na cabeça desse desgraçado!

Ouvi Mike respirar fundo antes de falar:

— Ariana. — ele disse, e isso me atingiu como uma faca no peito. — Ela deixou a praia com Ariana Grande.

Não percebi quando exatamente, e sequer ouvi o barulho próximo aos meus pés quando isso aconteceu, só sei que meu celular havia caído no chão, tamanha a minha surpresa.

Não. Eles só podiam estar enganados. Eles estavam mortalmente enganados e eu ia matar um por um daqueles que a vigiavam por estarem me trazendo informações erradas. Eu ia matar um por um, não importando que estivessem trabalhando pra mim. Eles eram inimigos agora, simplesmente pelo fato de terem inventado algo tão desconexo.

Corri até o nosso quarto – meu quarto – e procurei por uma roupa. Vesti-me rapidamente sem sequer olhar para quais eram as roupas. Peguei duas armas, colocando uma em minha cintura e a outra na minha bota cano baixo. Peguei o celular e liguei para Michael, pedindo para que ele me encontrasse no quiosque que sempre nos encontrávamos.

Eu já tinha os meus problemas com Ariana, mas nada que me fizesse nutrir um ódio mortal por ela ou algo do tipo. Mas ela tinha ido longe demais. Ela podia se meter nas minhas férias com Lauren e podia até se meter nas minhas transações, mas se meter com a minha Lauren, aí já era um golpe baixo demais, até para ela.

E pensar sobre isso me fez chegar à conclusão de quê, talvez, ela não tivesse forçado Lauren a ir com ela. Talvez Lauren tivesse ido por conta própria. Tentei dissipar esses pensamentos da minha cabeça. Não faria sentido algum Lauren sair de um relacionamento comigo por conta da máfia e entrar em outro com uma mulher da minha máfia inimiga. Mas, pensando melhor, quantas provas eu já tive de que Lauren podia ser o ser humano mais complexo do universo? Balancei a cabeça, tentando parar de pensar a respeito. Mas algo me dizia que aqueles pensamentos não iam embora tão cedo. Pelo menos não até eu recuperar Lauren ou saber exatamente o que diabos estava acontecendo.

Assim que as portas do elevador se abriram, andei em passos largos até o lado de fora do prédio. A partir daquele momento eu tinha um novo objetivo de vida: destruir Ariana Grande.

Entre o Certo e o ErradoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz