Capítulo 20

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-Ainda estás a trabalhar? – estou enfrente à escola de surf de Kai, a falar com ele por telemóvel.

-Não, porque? – perguntou de volta.

-Pensei que podíamos fazer uma visita aos nossos minorcas… - respondi-lhe, referindo-me às crianças que vivem no hospital onde ando a estagiar. É repugnante a coragem que os pais têm para abandonar os seus filhos porque tem síndrome ou uma doença rara… É incrível a força que estas crianças têm para lutar pelas suas vidas…

-Claro, vou só acabar de arrumar umas coisas… Vens buscar-me? – percebi o entusiasmo na sua voz.

-Estou cá fora à tua espera…- disse-lhe e desliguei o telemóvel.

Eu e Kai começamos a fazer visitas regulares aquelas crianças quando me apercebi que passavam a vida rodeadas de máquinas. Tentei ir lá sozinha, mas não tive coragem; tive medo que não fosse bem recebida ou que não aguentasse ver o seu sofrimento, por isso convenci Kai a ir comigo. Assim que entramos naquela sala pela primeira vez, alegria percorreu a cara daquelas. Saímos de lá com uma nova perspectiva de vida.

Desde então, uso a companhia dessas crianças maravilhosas para escapar à realidade.

Entretanto Kai já tinha entrado no carro e já íamos a caminho do Hospital Central de Hawai. Logo que chegamos fomos recebidos com uma grande festa. Separamo-nos e cada um foi ter com o seu grupinho habitual, eu com as pequenas e Kai com os meninos.

Estava agora sentada no chão, rodeada por quatro crianças, a ler uma história quando sou interrompida com o choro de uma outra criança. Levantei-me e fui ter com a enfermeira que entrava na sala com a tal criança no colo, aparentava ter três/quatro anos.

-Chegou há pouco, foi entregue pela mãe… Segundo o que me foi dito, ela é toxicodependente e não tem condições para cuidar de uma criança com leucemia. – a enfermeira informou-me assim que percebeu o meu estado de preocupação. Entretanto a criança já tinha parado de chorar e observava-me atentamente.

-Então, como te chamas?

-Keike – o menino respondeu de forma carinhosa.

-Olá Keike, eu sou a Laína. Quantos anos tens? – perguntei-lhe pegando-o ao colo. Keike levantou quatro dedos.

-Ui que menino tão grande! – disse fazendo-lhe cócegas. Soltou uma gargalhada tão deliciosa. Só então puder perceber a sua beleza natural: moreno, cabelo loiro e olhos cor de mel um pouco rasgados. Levei-o até à roda onde estavam as outras crianças e sentei-o ao meu lado. Apresentei-o às meninas, que ficaram encantadas, e depois continuei a ler a história. Keike manteve-se sempre ao meu lado agarrado à minha perna e foi assim que adormeceu.

Quando acabei de ler a história levei-o até uma das camas presentes na sala e deixei-o lá. Fui chamar o Kai, que estava a montar um puzzle com os meninos.

-Kai, já passa da hora de almoço… É melhor irmos andando – sussurrei. É sempre a esta hora que a sessão de quimioterapia começa.

A Drop in the OceanTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang