A Atriz: Algemas

662 30 24
                                    

Era um dia como outro qualquer, monótono e entediante. Tudo que mais queria era chegar à minha casa, tomar um banho quente e afundar debaixo do meu edredom quentinho! Descasar essa era a palavra chave. É do que mais precisava.

Coloquei as chaves em cima da mesa perto da entrada - uma relíquia herdada pela minha avó - junto com minha bolsa pesada e corro para o banheiro, em busca do tão sonhado banho, eis que o telefone começou a tocar insistentemente.

Evitar qualquer tipo de ruído - daqueles bem demorados e nasalados - foi totalmente impossível. A minha irritação subia pela minha espinha alcançando o topo da minha cabeça. Que alma infeliz seria aquela que atrapalharia meus planos?

O alô saiu da forma mais estúpida que meu cansaço permitiu. Foi aí que me arrependi até a última geração. Aquela voz inconfundível, a que me tira do eixo, atrapalha meus sonhos e que tem o poder de deixar minha calcinha completamente molhada ecoou do outro lado da linha. Era ele. Começou perguntando se estava bem. Minha vontade foi de dizer que estava encharcada e não era por conta da água do meu banho. Em vez disso respondi como qualquer pessoa normal faria. "Estou bem, porém um pouco cansada" - fala sério!!! Acreditem respondi isso.

Fez um silêncio, que para me pareceu milênios e então ele soltou naquele tom de suplica: "Que pena! Queria que você viesse até minha casa, preciso te mostrar uma coisa". Podia ver nitidamente em minha mente a cara que ele fazia quando usava esse tom de voz. Se normal era difícil resistir, assim impossível ficar indiferente. Como essa pessoa era mal comigo. Minha resposta: "Me dê trinta minutos.".

Adeus banho demorado e cama. O que tive foi um banho rápido certificando se estava tudo em ordem - lê-se pelos indesejáveis pelo corpo -, afinal ir para casa dele nunca era algo inocente. O homem sempre tinha más intenções. E como eu gostava daquilo!

Com um pouco mais de trinta minutos cheguei até a casa dele. Ele abre aquela porta da forma mais cretina, cafajeste e deliciosa que um homem poderia fazer. Simplesmente o diabo estava estonteante em seu terno escuro ajustado em seu corpo.

Ele sabia como me provocar. Sabia da minha atração por homens de terno. Foi usando um muito parecido com esse que nos conhecemos. Filho da puta lançou aquele maldito sorriso de canto de boca. Esse é o nosso código. Veio em minha direção sem dizer uma única palavra, colocou suas mãos grandes e macias do redor do meu rosto - como gosto quando ele faz isso - e me deu aquele beijo demorado. Daqueles que fazem as pernas ficarem bambas, que faz com que não existam segredos. Meu corpo me trai nesse momento, não consigo controlar, ele sabe disso.

Alguma coisa é dita em meu ouvido, mas não consigo entender. Estou ainda sobre o efeito daquele beijo. Só o vejo tomando minha mão e me levando até a sala. Serviu-me de uma taça de vinho. Devo confessar essa não é minha bebida favorita. Sou viciada em cerveja. Ele gosta também, mas como um homem refinado gosta de se mostrar entendedor. E naquele momento o vinho estava perfeito.

Bebemos e conversamos trivialidades por um tempo. Ele é um homem controlado, mas percebo que está impaciente ansioso e ele não costuma ser assim. Também estranhei não ter me tomado ali na entrada mesmo. Normalmente é assim. Depois conversamos, aí fazemos sexo de novo e dessa forma entramos em um ciclo interminável até estarmos exaustos e entregues ao sono.

Pergunto: "Você quer me dizer alguma coisa? Estou te achando agitado. O que aconteceu?". Ele me olhou com aqueles olhos multicores. Digo isso porque nunca sei definir que cores são. Para mim são as cores do desejo. Em resposta deu aquela apertadinha neles e mordeu a parte inferior da boca. Vendo isso digo: "Anda logo! Está me matando de curiosidade!".

Ele levantou e foi até o balcão. De lá retornou com um embrulho me entregando: "Abre". Desconfiada abri com cautela. Assim que avistei seu conteúdo olhei de volta para ele. E lá estava ele com os olhos fixos em mim, com cara de menino levado.

A Atriz e outras históriasWhere stories live. Discover now