Rússia parte 1

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Não tive nem tempo de ficar perdida quando Alex foi embora. Não me deram um tempo para descansar de um ano dormindo no ferro, ou para ao menos tomar um café da manhã reforçado.
Achei que escapando de Illéa as coisas seriam mais fáceis, eu poderia viver finalmente sem ter que me preocupar com Clarkson e suas ameaças, seria feliz e despreocupada. Bom, descobri que o poder feminino de Celeste e Nicoletta são muito mais assustadores do que qualquer um que eu já tenha presenciado. Antes mesmo que o carro pudesse sumir de nossa vista, elas me arrastaram por corredores e portas desconhecidas, e mesmo que eu me esperneasse e implorasse por respostas, elas não me contavam o que estava acontecendo.

_Celeste! Porque estamos passando pela cozinha? Para onde estamos indo?- tento me desvencilhar dos braços, mas elas são mais fortes do que eu imaginava. Minha tentativa causou o efeito necessário, e elas param. As duas se entreolham, trocam olhares sérios, olhares sérios de quem está tramando alguma coisa. Não sei de onde o lenço veio, se esteve com elas o tempo todo, ou se simplesmente arrancaram uma parte do vestido e tamparam meus olhos para que eu não veja o caminho, mas eu só conseguia pensar em uma palavra. Desnecessário. Eu acabei de sair do hospital, Alex acabou de ir embora e minha filha está com a babá em algum lugar da Itália, não é como se eu tivesse com cabeça para qualquer outra coisa nesse momento, mas mesmo insistindo, elas continuavam de boca calada. E isso me irrita profundamente.

_Já chegamos?- corto o silêncio.

_Não.- ouço a resposta em unissono. Fecho a cara emburrada por dois segundos, então a abro novamente.

_E agora?

_Não America.- uma das duas diz.

_Ainda não chegamos?- elas permanecem em silêncio.- Já chegamos?- mais silêncio. O objetivo é irritar. Ás vezes resolvem que tudo isso é um completo exagero e resolvem finalmente me contar o que está acontecendo- E agora? Chegamos?

_Sim. Pode tirar a venda.- as duas me soltam e relaxo. Assim tão fácil? Retiro a gravata que cobria meus olhos e procuro pelas duas, que estão encostadas na porta atrás de mim. As olho em um sinal de interrogação, mas só recebo um sorriso.

_Nossa, uma porta. Muito obrigada meninas.- não deixo de usar o máximo de sarcasmo que consigo.

_O presente não é a porta queridinha.- Celeste me abraça e me empurra até a parede, de frente para a maçaneta.

_Eu sei que não é a por...- tento explicar, mas me interrompo. Nem vai adiantar dizer alguma coisa. - Porque estou aqui?

_Não podemos dizer.- elas se entreolham e cruzam os braços, quase que em sincronia.

_E o que tem ali dentro?-silêncio. -Eu pelo menos vou gostar?

_Não posso dizer.- Nicoletta me manda uma piscadela.

_Então me expliquem pelo menos porque toda essa gracinha para chegar até aqui?

_Isso nós podemos explicar!- Celeste bate palmas para si mesma- Não tem um porque. Só achamos que seria divertido. Viu como foi divertido!- reviro os olhos e dou de costas para as duas. Me viro para a porta entalhada de ouro e giro a maçaneta lentamente, em uma mistura de medo e curiosidade. Foi exatamente como naquelas cenas de filme, onde algo grande está para acontecer e todos os acontecimentos parecem ser em câmera lenta. A música de suspense e a cara de expectativa. Isso só não aconteceu por um mínimo detalhe que estragou tudo. Antes mesmo que eu pudesse girar a maçaneta a primeira vez, Celeste empurra a porta e passa na minha frente, deixando que a luz do quarto me envolva.

_Você está demorando demais.- é o que ela diz antes de me empurrar para dentro do cômodo. Não sei onde estou no palácio, ou se ainda estou nele. Mas pela decoração do lugar eu imagino ainda estar no castelo. Poderia ficar muito tempo prestando atenção em todas as pinturas nas paredes e nos adereços, mas uma voz que eu conheço bem, me chamam a atenção e sou desperta de meus pensamentos.

Plane CrashOnde histórias criam vida. Descubra agora