Olhares

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Maria não me olha muito e isso é reconfortante, ou ao menos dentro do possível me alivia, estamos no bar do cassino, ainda sinto como se quisesse matar alguém, minhas mãos soam, meus pés estão gelados, e o meu estômago gira a todo momento, calafrios, e todos os sintomas que sempre sinto quando fico em algum lugar cheio, faz um bom tempo que não faço isso, então, é pior ter que suportar a situação.

Ela também não falou nada desde que nos sentamos, enfiou o indicador três vezes no copo de bebida que pedi pra nós dois, pedi cerveja, não tenho o hábito de beber, eu realmente nem posso beber com muita frequência devido a uma série de coisas, mas enfim, eu a convidei para beber algo, então...

—você não Fala Jack?—pergunta ela, e enfia o dedo mais uma vez na cerveja mexendo a bebida com gestos circulares.

Acho que isso não deveria ser tão sexy, ela faz isso, e enfia o dedo na boca, e essa já é a quarta vez seguida que ela chupa o indicador desse jeito que me deixa com a calça cheia, deve ser a falta de sexo, não é possível, bem, algo tenho que reconhecer, apesar dela não ter uma beleza convencional—na qual estou acostumado—ela tem sua beleza, assim de perto ela é mais bonita, mesmo que seja rechonchuda, o rosto dela é bonito.

—falo—respondo tentando não gaguejar—apenas estou... estou... Cansado.

Cansado... Bela colocação.

Ela se vira pra mim, mas permaneço duro em meu banco, me sinto, realmente incomodado quando ela me olha, mas afinal de contas, eu vim atrás dela certo? Não sei por que, nem entendo bem o que acontece comigo mas vim atrás dela, e aqui estou ao lado dela, sobrevivendo a exatos trinta e dois minutos e sete segundos ao terror que está sendo permanecer aqui.

—você é um vampiro?

Sinto que minha garganta arde e oprimo a extrema vontade que sinto de rir, rir, e rir muito, e bastante devagar me viro pro rumo dela, eu a olho, e Maria está me mirando seus olhos cor de âmbar estreitos e irritados pra mim.

—tenho que te avisar que se você for um vampiro...

—eu não sou um vampiro!—esclareço, e considero essa mulher uma louca—de onde tirou que sou um vampiro?

—bem—Maria se endireita cheia de petulância—você é branco demais e sua mão é gelada.

—que falta de criatividade—respondo com bastante sarcasmo, é, esse é o meu tom habitual de conversar com as pessoas.

—é mesmo?—seus olhos se estreitam ainda mais pra mim, e me sinto intimidado—pois eu saberia reconhecer um vampiro se visse.

Eu não acredito que ela ficou bêbada com apenas três copos de cerveja!

Ainda existem mulheres assim?

—você está bêbada?—questiono, o meu português não é muito bom, raramente coloco em prática.

—mas que ofensa!—reclama bastante séria—é óbvio que não!

Acho o sotaque dela bem interessante, na verdade, o jeito como a boca dela se estreita quando ela fala é curiosamente intrigante.

—acho que já vou...

Ela começa a se erguer, mais imediatamente eu a seguro pelo braço, Maria me fita, e vejo em seus olhos que não gostou disso, parece que ela tem... medo. Subitamente ela se solta da minha mão, então também me levanto, farei o que devo fazer, levarei ela pra onde ela está hospedada, ao menos para que chegue bem.

Atraído (Livro I) - DEGUSTAÇÃODonde viven las historias. Descúbrelo ahora