A noite na boate foi ótima pra mim, mas para Mariana não posso dizer o mesmo. O movimento foi bem fraco. Continuei evitando a Carol, e ela insistia em falar comigo.
Chegamos em casa à uma da manhã, e pra minha "surpresa", Miguel estava no meu quarto de novo.
Ana: o que você faz aqui?
Miguel: vim te pedir perdão, Ana. - a voz dele me dava um certo ódio. A presença dele estava me causando ódio.
Ana: eu não vou te perdoar. - disse firme.
Miguel: pequena, por fa... - interrompi ele.
Ana: não me chame mas assim. Você acha que só por que eu não fui criada com outras pessoas que eu sou boba?
Miguel: Ana, eu não disse isso...
Ana: calado. Apenas ouça. Se você pensou que eu ia dar alguma chance a você, se enganou. - deixei cair algumas lágrimas, mas eu pude ver ele chorando muito. - Não sou aquela pessoa que você pisa e fica por isso mesmo, muito pelo contrário. Acho que você não me conhece. Agora saia daqui.
Miguel: Ana, por favor - falou entre soluços.
Ana: sai agora ou eu grito e digo a sua mãe que você tem invadido meu quarto.
Miguel: tudo bem. É isso que você quer, vou aceitar.
Ana: não foi eu quem escolheu isso, Miguel. - ele me olhou ainda chorando muito, e saiu.
Quando ele fechou a porta, desabei a chorar. O que eu sinto por ele ainda é muito forte. Eu não vou esquece - lo da noite para o dia. Vou dormir, pois amanhã tenho mais contas a acertar.
Me preparei para ir a escola e juntei alguns dos meus desenhos. Mandei mensagem para o André me encontrar na hora da entrada (sim, agora eu tenho celular) e ele disse que vai me esperar. Tranquei meu quarto e desci pra comer algo. Apenas Patrícia e Mariana estavam na mesa. Eu não falei pra vocês, mas a Mariana é tão preguiçosa que disse que eu posso comer junto com eles na mesa!
Ana: bom dia.
Patrícia: bom dia.
Mariana: bom dia. Você sabe se Miguel já acordou, Ana?
Ana: não senhora. Não ouvi nada. Achei que ele já tivesse descido com vocês.
Patrícia: olha mãe, aconteceu alguma coisa com o Miguel, ele tá estranho desde ontem. Você sabe de algo, Ana?
Ana: não, estive a tarde estudando ontem.
Mariana: ótimo. Vou subir e ver se falo com ele.
Miguel: não precisa. Bom dia. - quase engasguei ao ouvi - lo.
Mariana: bom dia meu precioso. Por que essa cara inchada? O que houve meu bebê?
Miguel: Nada não mãe. Não estou com fome. Vou esperar vocês no carro. - E ele saiu.
Comecei a sentir remorso por ele estar daquele jeito. Ele é lindo demais para ficar com aquela cara.
Terminamos o café e fomos para o carro. Miguel estava no banco de trás e eu sentei ao lado dele, Patrícia foi na frente, como sempre. O caminho foi totalmente silencioso. Ninguém nem tossiu. Chegamos na escola e Caroline me esperava ao lado de Fábio e André.
Ana: bom dia gente.
Os três: bom dia.
Ana: André, aqui estão os desenhos. O que você acha? - Fábio também viu e os três ficaram boquiabertos com as imagens.
André: foi você mesmo que fez Ana?
Ana: Sim. O que achou?
Fábio: já escolhemos o cenário. Acho que nao tem ninguém na sala que vai fazer melhor viu.
André: Ana, cadê o Miguel?
Ana: já deve ter entrado. Gente, não vou poder ficar hoje. Vocês podem levar os desenhos? Na saída eu os pego de volta.
André: claro que sim. Pode deixar. Aliás, eu posso falar com você depois? É em particular.
Ana: Sim sim. Claro.
Fábio: então vamos entrar cara, que já deu nossa hora. Falou amorzinho - disse dando um beijo na Caroline.
Caroline: até mais meu amor. - eles entraram e eu fui para trás da escola com a Carol. Tinha um morro coberto por uma grama muito alta, e como não estava chovendo, foi tranquilo subir. - Ana, vem comigo. Sempre que eu cabulo passo por aqui. É mais rápido. - E a segui.
Chegamos na rua da casa dela e a mesma estava vazia. Carol estava morando sozinha fazia um tempo. Entramos na casa e ela me ofereceu algo pra comer ou beber, mas recusei. Fomos para a sala e eu não aguentava mais a curiosidade.
Ana: fala logo que jogo é esse.
Caroline: relaxa. Se quiser tirar os sapatos, fica a vontade. Mi casa es tu casa. - affz!
Ana: Caroline, eu não estou aqui para brincadeira. Vamos. Desembucha!
Caroline: ok. Vamos lá. Funciona assim: Você tem que ser levada por uma das garotas para participar, se o garoto aceitar você já está dentro do jogo e seu nome vai para a lista, caso o contrário, os seguranças do dia vão te avaliar e dizer se te aceitam ou não.
Ana: e como é essa avaliação?
Caroline: Você tem que aguentar os dois de uma vez. Continuando, você recebe um número impar, e os garotos um número par. A mudança é feita semanalmente e você não pode dizer a ninguém seu número e nem quem foi a outra pessoa. O que acontece na casinha, morre na casinha.
Ana: o Fábio sabe que você tá nessa?
Caroline: ele foi o meu primeiro.
Ana: e se algum garoto quiser participar?
Caroline: é só ele pedir para o dono do jogo, no caso, o André.
Ana: André? - ela fez um sim com a cabeça - e assim, ele já tranzou com alguma das garotas?
Caroline: Sim, com todas. Ana, amanhã eu vou ir de novo. Você aceita ir comigo?
Ana: e-eu não sei Carol. Acho que isso não me serve.
Caroline: Ana, você já trabalha fazendo isso, mas esse jogo é apenas para diversão.
Ana: diversão? Eu não levo isso como diversão!
Caroline: faça por prazer, então. Vamos amiga!
Ana: e se... E se eu pegar o Miguel?
Caroline: isso é ruim?
Ana: é péssimo! Eu não estou mais falando com ele. Quero distância.
Caroline: Ana, você me perdoou, o que te impede de perdoa - lo?
Ana: nada. Apenas o fato de ele ter me iludido esse tempo todo. Me responda uma coisa, a Patrícia está nesse meio?
Caroline: sim. Ela quem me levou. E foi logo com o Miguel.
Ana: eles são irmãos e... Isso pode?
Caroline: pode sim. Se alguém recusar os outros meninos fazem uma votação. A maioria das vezes eles ficam e elas saem.
Ana: já saíram muitos?
Caroline: Sim, mas já voltaram todos. Quase toda a escola participa Ana, só falta você e os "santinhos".
Ana: vou pensar. Até amanhã né?
Caroline: Sim. Me manda mensagem ok.
Ana: ok. Vou mandar sim. - ela me abraçou bem forte.
Caroline: amiga, eu amo você de mais. Quero o seu bem, mas acho que você deveria conhecer mais o que é a vida. - me soltei do abraço e olhei bem para ela. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ela segurou bem.
Faltando vinte minutos para o final da aula, decidimos voltar para a escola. Não parei de pensar no que eu iria fazer. Se eu entrava no jogo, ou não. Chegamos na escola e o pessoal da minha sala já tinha sido liberado. Miguel estava sentado sozinho com os fones de ouvido. Pensei em me aproximar para lhe fazer companhia, mas achei melhor não. Mas o coração falou mais alto. Aliás, ele gritou.
![](https://img.wattpad.com/cover/79705172-288-k512572.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fugindo da Realidade (COMPLETO)
Romance16 anos, estudante, morena... O sonho de ser livre de uma "prisão" talvez estivesse longe de acontecer para Ana. Vivia com seu pai, que a tratava como a pior pessoa do mundo. Será que ela realmente vai conseguir fugir dessa realidade? Acompanhe essa...