Capítulo 15 - O Jogo

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A noite na boate foi ótima pra mim, mas para Mariana não posso dizer o mesmo. O movimento foi bem fraco. Continuei evitando a Carol, e ela insistia em falar comigo.

Chegamos em casa à uma da manhã, e pra minha "surpresa", Miguel estava no meu quarto de novo.

Ana: o que você faz aqui?

Miguel: vim te pedir perdão, Ana. - a voz dele me dava um certo ódio. A presença dele estava me causando ódio.

Ana: eu não vou te perdoar. - disse firme.

Miguel: pequena, por fa... - interrompi ele.

Ana: não me chame mas assim. Você acha que só por que eu não fui criada com outras pessoas que eu sou boba?

Miguel: Ana, eu não disse isso...

Ana: calado. Apenas ouça. Se você pensou que eu ia dar alguma chance a você, se enganou. - deixei cair algumas lágrimas, mas eu pude ver ele chorando muito. - Não sou aquela pessoa que você pisa e fica por isso mesmo, muito pelo contrário. Acho que você não me conhece. Agora saia daqui.

Miguel: Ana, por favor - falou entre soluços.

Ana: sai agora ou eu grito e digo a sua mãe que você tem invadido meu quarto.

Miguel: tudo bem. É isso que você quer, vou aceitar.

Ana: não foi eu quem escolheu isso, Miguel. - ele me olhou ainda chorando muito, e saiu.

Quando ele fechou a porta, desabei a chorar. O que eu sinto por ele ainda é muito forte. Eu não vou esquece - lo da noite para o dia. Vou dormir, pois amanhã tenho mais contas a acertar.

Me preparei para ir a escola e juntei alguns dos meus desenhos. Mandei mensagem para o André me encontrar na hora da entrada (sim, agora eu tenho celular) e ele disse que vai me esperar. Tranquei meu quarto e desci pra comer algo. Apenas Patrícia e Mariana estavam na mesa. Eu não falei pra vocês, mas a Mariana é tão preguiçosa que disse que eu posso comer junto com eles na mesa!

Ana: bom dia.

Patrícia: bom dia.

Mariana: bom dia. Você sabe se Miguel já acordou, Ana?

Ana: não senhora. Não ouvi nada. Achei que ele já tivesse descido com vocês.

Patrícia: olha mãe, aconteceu alguma coisa com o Miguel, ele tá estranho desde ontem. Você sabe de algo, Ana?

Ana: não, estive a tarde estudando ontem.

Mariana: ótimo. Vou subir e ver se falo com ele.

Miguel: não precisa. Bom dia. - quase engasguei ao ouvi - lo.

Mariana: bom dia meu precioso. Por que essa cara inchada? O que houve meu bebê?

Miguel: Nada não mãe. Não estou com fome. Vou esperar vocês no carro. - E ele saiu.

Comecei a sentir remorso por ele estar daquele jeito. Ele é lindo demais para ficar com aquela cara.

Terminamos o café e fomos para o carro. Miguel estava no banco de trás e eu sentei ao lado dele, Patrícia foi na frente, como sempre. O caminho foi totalmente silencioso. Ninguém nem tossiu. Chegamos na escola e Caroline me esperava ao lado de Fábio e André.

Ana: bom dia gente.

Os três: bom dia.

Ana: André, aqui estão os desenhos. O que você acha? - Fábio também viu e os três ficaram boquiabertos com as imagens.

André: foi você mesmo que fez Ana?

Ana: Sim. O que achou?

Fábio: já escolhemos o cenário. Acho que nao tem ninguém na sala que vai fazer melhor viu.

André: Ana, cadê o Miguel?

Ana: já deve ter entrado. Gente, não vou poder ficar hoje. Vocês podem levar os desenhos? Na saída eu os pego de volta.

André: claro que sim. Pode deixar. Aliás, eu posso falar com você depois? É em particular.

Ana: Sim sim. Claro.

Fábio: então vamos entrar cara, que já deu nossa hora. Falou amorzinho - disse dando um beijo na Caroline.

Caroline: até mais meu amor. - eles entraram e eu fui para trás da escola com a Carol. Tinha um morro coberto por uma grama muito alta, e como não estava chovendo, foi tranquilo subir. - Ana, vem comigo. Sempre que eu cabulo passo por aqui. É mais rápido. - E a segui.

Chegamos na rua da casa dela e a mesma estava vazia. Carol estava morando sozinha fazia um tempo. Entramos na casa e ela me ofereceu algo pra comer ou beber, mas recusei. Fomos para a sala e eu não aguentava mais a curiosidade.

Ana: fala logo que jogo é esse.

Caroline: relaxa. Se quiser tirar os sapatos, fica a vontade. Mi casa es tu casa. - affz!

Ana: Caroline, eu não estou aqui para brincadeira. Vamos. Desembucha!

Caroline: ok. Vamos lá. Funciona assim: Você tem que ser levada por uma das garotas para participar, se o garoto aceitar você já está dentro do jogo e seu nome vai para a lista, caso o contrário, os seguranças do dia vão te avaliar e dizer se te aceitam ou não.

Ana: e como é essa avaliação?

Caroline: Você tem que aguentar os dois de uma vez. Continuando, você recebe um número impar, e os garotos um número par. A mudança é feita semanalmente e você não pode dizer a ninguém seu número e nem quem foi a outra pessoa. O que acontece na casinha, morre na casinha.

Ana: o Fábio sabe que você tá nessa?

Caroline: ele foi o meu primeiro.

Ana: e se algum garoto quiser participar?

Caroline: é só ele pedir para o dono do jogo, no caso, o André.

Ana: André? - ela fez um sim com a cabeça - e assim, ele já tranzou com alguma das garotas?

Caroline: Sim, com todas. Ana, amanhã eu vou ir de novo. Você aceita ir comigo?

Ana: e-eu não sei Carol. Acho que isso não me serve.

Caroline: Ana, você já trabalha fazendo isso, mas esse jogo é apenas para diversão.

Ana: diversão? Eu não levo isso como diversão!

Caroline: faça por prazer, então. Vamos amiga!

Ana: e se... E se eu pegar o Miguel?

Caroline: isso é ruim?

Ana: é péssimo! Eu não estou mais falando com ele. Quero distância.

Caroline: Ana, você me perdoou, o que te impede de perdoa - lo?

Ana: nada. Apenas o fato de ele ter me iludido esse tempo todo. Me responda uma coisa, a Patrícia está nesse meio?

Caroline: sim. Ela quem me levou. E foi logo com o Miguel.

Ana: eles são irmãos e... Isso pode?

Caroline: pode sim. Se alguém recusar os outros meninos fazem uma votação. A maioria das vezes eles ficam e elas saem.

Ana: já saíram muitos?

Caroline: Sim, mas já voltaram todos. Quase toda a escola participa Ana, só falta você e os "santinhos".

Ana: vou pensar. Até amanhã né?

Caroline: Sim. Me manda mensagem ok.

Ana: ok. Vou mandar sim. - ela me abraçou bem forte.

Caroline: amiga, eu amo você de mais. Quero o seu bem, mas acho que você deveria conhecer mais o que é a vida. - me soltei do abraço e olhei bem para ela. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ela segurou bem.

Faltando vinte minutos para o final da aula, decidimos voltar para a escola. Não parei de pensar no que eu iria fazer. Se eu entrava no jogo, ou não. Chegamos na escola e o pessoal da minha sala já tinha sido liberado. Miguel estava sentado sozinho com os fones de ouvido. Pensei em me aproximar para lhe fazer companhia, mas achei melhor não. Mas o coração falou mais alto. Aliás, ele gritou.

Fugindo da Realidade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora