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Era uma segunda feira comum, como tantas outras segundas feiras. Homens e mulheres saíam para trabalhar enquanto crianças corriam pelas ruas, desviando das charretes. Luhan era apenas mais um dos rapazes mandados para longe da família a trabalho. Não havia nada de especial sobre si, ou ao menos assim pensava quando pisara para fora do trem naquela manhã. Suas roupas eram de segunda mão, seu casaco gasto já havia sido remendado nos cotovelos. Ajeitando seu suspensório, se apressara a pegar sua mala e procurar pelo cocheiro que deveria lhe levar até a fazenda onde passaria a trabalhar e morar. De onde vinha os rapazes sempre se separavam da família muito cedo. Alguns se juntavam a milícia, outros acabavam por casar. Luhan fazia parte daqueles que partiam para longe em busca de um emprego melhor do que o que poderia conseguir em seu vilarejo. Não que o prospecto de limpar currais fosse realmente empolgante, porém quando a oportunidade de trabalhar na fazenda dos Wu surgira, Luhan não pensara duas vezes. Precisava de emprego e o dono da fazenda estava disposto a pagar bem pelo trabalho, oferecendo também morada e comida. Vindo de uma família pobre, Luhan não tivera a oportunidade de estudar e sabia que aquilo era o melhor que conseguiria com seu grau quase nulo de experiência. Era bom em trabalho braçal, seus pais tinham um pequeno curral que costumava cuidar e também era responsável pela casa quando estava só. Saberia se virar.

O caminho até a fazenda seguia por uma estrada de barro tortuosa e esburacada. O balanço da carruagem lhe deixava um tanto enjoado, mas Luhan estava acostumado com situações desconfortáveis e não demoraria muito até chegar a seu destino. Afastando um pouco a cortina que cobria a pequena janela, deixara-se distrair com o campo, admirando os pastos verdes e as árvores que, naquela época, já estavam dando seus frutos. Tentava ignorar os sentimentos de ansiedade que borbulhavam em seu estômago, mascarando-os com falsa apatia.

Quando finalmente cruzaram os portões da fazenda, Luhan se permitira soltar um suspiro aliviado. O cocheiro lhe ajudara a encontrar o casebre que moraria, lhe dando algum tempo para se lavar e o avisando que em uma hora o caseiro viria o buscar para mostrar o que deveria ser feito e o tornar familiar com o lugar. Luhan assentira, agradecendo, e então fechara a porta.

Não havia muito o se que observar. Ao lado da porta um cabide de madeira fazia companhia ao capacho de lã sob seus pés, a sua frente se estendia um pequeno espaço com um sofá de dois lugares e uma lareira, a qual Luhan era grato, pois sabia que os invernos naquela região eram rigorosos. Não havia sala de estar, mas uma pequena mesa com duas cadeiras ocupava o restante do espaço. A cozinha era logo ao lado, também pequena, tinha alguns armários desgastados e um balcão amplo o suficiente para cozinhar. O fogão à lenha precisava de uma limpeza, mas serviria. No quarto, uma janela inesperadamente grande para uma casa tão pequena, uma cama de casal - que Luhan considerava um luxo comparado a sua cama anterior - e um armário para guardar suas roupas assim como uma penteadeira antiga.

Sabia que o banheiro era fora da casa, mas preferira começar a desfazer sua bagagem. Não possuía muitas coisas, o dinheiro que entrava em casa sempre usado apenas para o essencial, mas as roupas que ganhara de seu irmão, que casara bem, para algumas situações mais formais seriam suficientes. Havia também três calças e cinco camisas para trabalho, dois casacos para o inverno, três pares de sapato e algumas roupas de dormir.

Quando acabara, retornara para a sala e não fora necessário esperar muito para que o caseiro aparecesse. Anunciara sua presença com duas batidas fortes na porta e, por um segundo, o pensamento de que a porta cairia caso sofresse mais um ataque semelhante cruzara sua mente, ao que rira baixinho e então prosseguira para abrir a porta.

O caseiro, o homem baixinho e provavelmente nos seus sessenta anos, lhe sorrira de forma simpática.

- Bom dia meu rapaz, teve uma boa viagem?

HowlWhere stories live. Discover now