4

22K 1.8K 73
                                    

Tomei um banho bem mais demorado do que o normal, ordens de doutor Gustavo.

-Não. Eu não senti saudades ainda! -Digo para o Gustavo, que está do outro lado do país, falando comigo por telefone.

Ainda me ensaboo (Não repare. Somos assim mesmo).

-Que cruela! Você ao menos poderia ter ligado mais cedo. -Ouço sua voz sair do aparelho celular, que está alto o suficiente a uma distância.

-Eu sei, mas me ocupei e não tive tempo.

-E BH? É mesmo bonita? -Ele pergunta. E sei que espera um não.

-Incrível. Se pudesse, jamais sairia daqui. Jamais! -O provoco.

-Sei... -Ele murmura. -E quanto a família? Eles foram legais com você?

-Mais ou menos. O pai do senhor Velasco é bem rabugento, mas em compensação a mãe é uma fofa. Ela disse que sou maravilhosa. -Digo.

-Não duvido. Você é mesmo. -Ele diz. -Preciso desligar. Meu plantão começa em dois minutos.

Desligo o chuveiro.

-Beijos, Guto. Estou com saudades. Se cuida.

Desligo o telefone e me enrolo na toalha. Abro a porta do banheiro e encontro Henrique. Sentado na cama.

Arregalo os olhos e tenho de segurar a toalha mais firmemente.

-Quer voltar pra casa?  -Ele pergunta sério.

Meu coração quase para.

-Saia daqui! -Grito, não tão alto para ser um escândalo. -Está maluco? Como você entra sem ser convidado?

Henrique se levanta.

-Eu moro aqui. E além do mais, você não faz meu tipo. -Ele esboça um sorriso irônico. -Pare de se achar demais, doutora.

-O que está fazendo no meu quarto? -Pergunto.

Ele anda pelo ambiente.

-Iria vir pedir desculpas, mas desisti. -Ele pega um dos livros.

-Que bom. -Digo e pego o livro da sua mão. -Agora saia.

-Vai me dizer se quer voltar pra casa? -Ele volta a perguntar.

-Olha, não sei qual é a sua, nem seu problema comigo, mas estou a serviço. Pode me tratar como quiser, não sou a sua empregada! Fui contratada pelo seu pai e você não vai atrapalhar meu emprego, seu mimado! -Digo ferozmente.

-Uau! -Ele dá um sorriso cínico. -Ouvi dizer que as amazonas eram mulheres valentes, mas não pensei que fossem assim.

-Vá se danar! Não me importo com o que você acha! -Digo, agora alto suficiente.

Ele me encara sério. Arfo, ainda mantendo a mandíbula trincada. Ele estreita os olhos mais ainda. Um arrepio percorre minha espinha. 

-Vai me responder? -Ele dá um passo mais próximo. -Quer ir?

Dou um passo a frente, o encarando mais sério ainda.

-Não interessa! Estou aqui a trabalho! Você não vai se livrar de mim tão fácil assim! -Digo. -Se é essa a sua intenção...

-Você não me conhece, doutora!

Ele chega mais perto, sinto sua respiração quente me atingir. Henrique está a menos de um palmo de distância! 

-Nem você me conhece, cowboy! -Provoco.

Ouço uma risada oculta do fundo da garganta dele, e seu sorriso, vagarosamente se mostra, mas os olhos ainda são de predadores! Ele se inclina. Meu coração pulsa. Chega mais perto. Permito. A eletricidade entre nós nos puxa. E mais... e mais... Sinto sua respiração se misturar a minha é já nem sei de quem é qual!

De repente, a porta se abre inesperadamente. Me afasto dele rapidamente e noto quem entra.

-Meu Deus, ouvimos os gritos! -Diz Cristina. -Não sabia se vocês já haviam partido para o tapa. Vim o mais rápido que pude.

Cíntia vem logo atrás dela, e Hector após. 

-Henrique o que faz aqui? -Seu pai pergunta.

Vejo Henrique fica um tanto tenso e puxar bastante ar para os pulmões. Cristina vem até mim. Ainda estou enrolada na toalha e jamais imaginei que pudesse ficar tão constrangida através da carreira que segui.

-Você está bem? -Cristina pergunta baixinho. 

-Sim. -Respondo no mesmo  tom.

-Diga, Henrique! -Hector volta a perguntar. -O que faz no quarto da doutora Helena?

-Nada. Eu apenas vim me desculpar! -Ele diz, querendo apaziguar. E olha para mim, com um olhar feroz de quem diz "é tudo culpa sua!".

Hector continua avaliando o filho com um olhar severo, e Henrique mantém a compostura sem se deixar abalar pelo olhar do pai.

-É verdade, doutora? -Hector pergunta.

-Ahn... -Foco nele, deixando Henrique de lado. Sr. Velasco ainda espera minha resposta. Olho para Henrique. Ele abaixa o olhar, acha que vou desmenti-lo. Mas não farei! -É verdade. Henrique veio se desculpar. 

Não é totalmente mentira, não é? 

-E quanto aos gritos que ouvimos?  -Cíntia pergunta. Vejo Henrique lhe lançar um olhar cortante.

-Eu me assustei! -Digo. -Não estava esperando. Mas achei uma ação nobre da parte dele. 

Henrique me olha surpreso e ignoro, tentando manter a mentira séria.

-Isso é verdade? -Hector pergunta ao filho.

-Eu já disse que havia vindo para me desculpar, não disse? Ela só foi um pouco escandalosa. -Ele diz e revira os olhos.

É minha vez de olhar para ele com um olhar furioso, o qual ele nem se dá ao trabalho de notar. 

-Bom, -Hector diz por fim. -Já que não há problemas, vamos descer, querida!

Cíntia se vira para o marido e assente.

-Vocês dois também! -Hector aponta para os filhos.

Henrique não pensa duas vezes e sai do quarto apressadamente.

-Ele está tentando! -Cristina diz, e solta um suspiro. -Bom, tenha uma boa noite e desculpe a confusão!

Ela sai, assim como todos. Fico olhando em volta. 

A forma como aquele cowboy invocado me olhou. Com desejo talvez? Mas que diabos estou pensando? Não é óbvio que nos odiamos?!

Me arrumo com muita pressa em ir para debaixo das cobertas fechar os olhos e esquecer este incidente! Preciso trabalhar amanhã. Várias seções! Quanto mais rápido eu terminar, melhor! Parece que não vai ser muito fácil, mas eu adoro um desafio!

IndomavelmenteWhere stories live. Discover now