2. Solfieri

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"Vede-a? Murcha e seca como o crânio dela!"

Solfieri in Noite na Taverna.


Como vocês bem sabem, Roma é uma cidade histórica, nela se misturam desde ruínas de templos e edifícios de um império glorioso, até praças e igrejas de mais de mil anos de idade.

Era em Roma. Em um belo dia dos meus dezesseis anos, eu estava de férias com meus queridos pais, depois de um dia inteiro de longas visitas a museus e ruínas históricas, nós buscávamos um pouco de descanso ao ar livre.

Minha mãe disse que existia uma praia muito perto de Roma, a chamada Lido di Ostia, de início eu não queria ir, mas meus pais insistiam que o por do sol nessas praias italianas era muito bonito e eles desejavam aproveitar o verão italiano à beira do mar.

Mesmo a menos de uma hora para o por do sol, o calor ainda era escaldante, eu estava em um dos típicos restaurantes italianos situados dentro da praia com meus pés envoltos por uma areia grossa e escura como eu nunca tinha visto antes.

Foi então que vi aquela sombra de mulher à beira da praia, não conseguia distinguir a cor de seus cabelos. Sua pele era parda, mas todo seu corpo estava num tom dourado à luz do sol, ela sorria e ao seu redor se encontravam outras formas femininas, mas nenhuma me despertou tanta atenção quanto àquela beleza única e distante à beira do mar.

Junto das amigas, ela entrou no mar.

E eu, sentado numa mesa daquele restaurante no meio da praia, estava em um estado em que só aquela moça me chamava a atenção, nada mais importava, apenas a sua visão sobre as água do mar.

Saí do transe e pedi aos meus pais que me deixassem sair um pouco e andar pela praia. Eles imediatamente estranharam a pergunta, sabiam que naquele dia eu estava naquele lugar à força. Mas a vida é assim mesmo, os dias em que nós somos forçados a fazer algo, são os dias em que o destino age ao nosso favor e naquele momento, o destino estava se banhando nos mares italianos e eu tinha que ir buscá-lo.

Meus pais permitiram que eu andasse pela praia, caminhei um pouco e senti-me em um lugar no meio da areia, onde eu ainda podia ver o mar, o sol poente e aquela linda menina no meio das águas.

Aos poucos, a moça se perdeu no mar, eu não a via mais, me levantei imediatamente e vi as outras meninas que a acompanhavam vindo em direção à praia.

Elas traziam um corpo, era a moça! Era aquela beleza única que elas traziam puxando pelos braços e pernas, uma expressão de pânico se colocou em seus rostos assim que elas pisaram seus pés na praia. E eu, em pé diante daquela cena, resolvi ajudar.

Corri tão depressa quanto me era possível, observava seu corpo dourado estendido sobre a areia escura da praia enquanto suas companheiras espremiam sua barriga e seus lábios se abriam convulsivamente espirrando água de dentro de seu corpo.

Cheguei subitamente e me ajoelhei ao lado da donzela que se afogava. As amigas ao redor gritaram em italiano para mim, não entendia uma só palavra e nem desejava entender, tudo que eu desejava naquele momento era aquela linda moça de cabelos castanhos.

Beijei-a com todo o fervor e admiração que estava sobre mim desde a primeira vez que a vi sobre aquele sol no verão italiano, empurrei o ar dos meus pulmões para a sua boca e pude sentir o seus fartos seios de encontro ao meu, seus lábios estavam molhados e frios, mas seu corpo estava quente do sol e da vida que retornava a ela naquele momento.

Vi seus olhos se abrirem em um rápido reflexo, ela estava viva, por causa de mim, não consegui soltar aquela linda moça que eu tinha nos braços, tudo que eu podia fazer era admirar aquela forma feminina de olhos cor de avelã, suas pupilas estavam dilatadas de espanto, ela não me conhecia, talvez nunca tivesse me retribuído o olhar, mas ali estávamos. Sobre olhares espantados de suas amigas e de outras pessoas que observaram a cena, unidos por um momento único em que eu salvara a vida de alguém.

Quando finalmente conseguimos nos levantar, a moça me agradeceu fervorosamente em italiano e depois tirou uma flor que estava em seu cabelo e me deu como gratificação pelo meu ato.

Ela agradeceu mais uma vez e já estava se virando para ir embora, quando eu a peguei pela mão.

Ela parou de repente e exclamou como se desejasse saber o que mais eu queria.

Peguei meu celular que estava no bolso e pedi para que eu pudesse fotografá-la.

Ela aceitou e assim eu consegui uma foto daquela linda moça que tinha sido salva pelo meu amor.

— Não se lembra, Bertram? Quando estávamos sentados aqui neste mesmo bar e tu viste a foto de uma donzela no meu celular?

— Então essa era a tua musa italiana Solfieri — respondeu Bertram com um tom muito sério.

— Solfieri, tens certeza de que isso não é um conto? ­— perguntou Johann num tom duvidoso.

— Deveras que não! Por meu pai e minha mãe que ficaram na minha terra natal e sentem minha falta todos os dias! — exclamou Solfieri — Vede! Ainda tenho a flor que se apoiava em seu cabelo!

Ele abriu a blusa e do lado de dentro dela estava uma flor segurada por um broche.

Todos se entreolharam espantados.

— E essa meus amigos, é a história de como eu salvei uma vida numa praia no verão italiano e de como tive uma das melhores visões da minha vida. — finalizou Solfieri enquanto estendia o celular na mesa e mostrava outra foto que ele tirara com a donzela italiana.

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