Capítulo V

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 Era domingo à tarde e Ava encontrava-se a trabalhar na loja de música como todos os fins de semanas. A loja vendia principalmente discos em vinil mas também havia uns quantos instrumentos disponíveis. Naquele momento havia apenas alguns clientes, até que entrou um rapaz moreno, com roupas pretas e tatuagens nos braços. Ele dirigiu-se à rapariga e disse:

- Bom dia, ruivinha. Tens alguma coisa dos Royal Blood?

- Sim, acho que temos. Procure na secção de Rock com a letra "R".- respondeu Ava.

- Oh, pensei que me podias ajudar a procurar.- disse o rapaz com um olhar sedutor.

Ava susteve um suspiro e saiu de trás do balcão. Foi até à secção onde se encontrava o disco e pôs-se a procurar.

- Já te vejo a trabalhar aqui há algum tempo, ruivinha. Qual é o teu nome?- perguntou o rapaz.

- Não me parece que saber o meu nome te vá a ajudar a encontrar o disco.- respondeu Ava tentando não fazer notar a irritação que sentia por lhe ter chamado "ruivinha".

- Mas ajudaria se eu quisesse pagar-te um café. Quando é que é o teu intervalo?- questionou ele.

- Eu estou demasiado ocupada para ir beber cafés. Aqui está o teu disco!- respondeu a rapariga entregando-o.- Violet, podes ir à caixa com este cliente, por favor?

O rapaz não pareceu ficar desiludido com a outra empregada da loja todavia voltou-se para trás e disse:

- O meu nome é Zach, volto noutro dia para irmos beber alguma coisa.

Ava anuiu, o que pareceu agradar-lhe, e virou as costas. De repente, pensou no que Molly diria se tivesse presenciado aquela cena. Certamente ficaria desiludida com ela e voltaria com a conversa de que já era mais do que hora de Ava arranjar alguém "para sair dessa miséria de vida de solteira". Contudo o que sabia Molly da vida dela? Ao contrário da colega de escola, a ruiva não sentia nenhum vazio por não ter um namorado ou alguém em quem estivesse interessada, seria apenas uma complicação desnecessária na sua vida. E de complicações estava ela cheia.

Por volta das 16:00 o turno acabou e Ava dirigiu-se a casa. Quando passou pelo café da rua notou que os gémeos estavam sentados na esplanada.

- Olá! Então rapazes, o que é que se passa?

- Olá. Ocorreu um acontecimento bastante raro. Os nossos pais encontraram-se em casa ao mesmo tempo.- respondeu David com um ar desanimado.

- E qual é que é o problema?- interrogou Ava. Agora que se apercebia ela nunca tinha pensado que os gémeos tinham um pai. Era lógico que tinham, todavia nunca se haviam cruzado nem nunca ouvira falar dele.

- O problema- começou Daniel a relatar- é que quando eles estão juntos nunca resulta bem. Quando saímos o pai estava a gritar com a mãe pelo dinheiro que ela esbanjava e a mãe estava a chorar de raiva e a partir loiça porque descobriu que o pai teve um caso com uma mulher qualquer do clube. Au!- David acabara de dar um chuto no irmão.- Ok pronto, não devia ter dito isto, esquece o que ouviste.

- Sem problema. Querem ir para o meu apartamento em vez de ficar aqui?- realmente a rapariga estava com pena dos dois irmãos. Mesmo que a família dela não fosse perfeita e tivesse acabado sozinha a viver com Isaac, quando se lembrava dos seus pais só boas recordações lhe vinham à cabeça.

- Está bem, vamos ver como é que a outra metade vive.- retorquiu Daniel.

- Oh por favor, nós vivemos no mesmo prédio!- exclamou Ava.

- Pois mas a nossa cozinha não é na mesma divisão da sala.

Subiram as escadas e quando chegaram ao sexto andar repararam que a porta estava aberta. O trio entrou lá dentro para perceber o que se passava:

- AAAHHHHRRGG!- gritou Ava em choque.

«Não, não, não» - pensava ela - «Eu não vi isto. O quê? O que é que aconteceu?».

Daniel tirou a amiga do apartamento e ficou com ela no patamar a tentar acalmá-la. Por outro lado David entrou, no entanto a cena não o chocava menos. A casa tinha sido vandalizada: o sofá virado para trás, tudo o que estava antes em gavetas encontrava-se agora tombado no chão, as almofadas estavam rasgadas e a televisão partida. Todavia o pior era Isaac. O velho encontrava-se amarrado a uma cadeira no meio da sala, com os pés numa bacia com água que se encontrava ligada a uma tomada por um fio. O rosto estava paralisado numa expressão de puro horror e no abdómen havia uma mancha escarlate do golpe que ditara a sua morte. David não precisava de se aproximar para saber que ele não estava vivo, também não era como se o estômago o permitisse. Olhou melhor e percebeu que havia um anel no meio do chão. Apanhou-o e constatou que era impossível pertencer a Isaac e duvidava que fosse de Ava.

Ele tinha de pensar depressa por isso dirigiu-se ao quarto de Ava, que tinha sido atravessado pelo mesmo tornado. Pegou na mochila dela e despejou todos os materiais da escola para o chão. A organização de David era considerada um dom por muitos, por isso ele conseguiu meter lá roupa, sapatos, e tudo o que a rapariga precisava. Por entre o caos reparou que havia uma caixa de madeira aberta com centenas de notas espalhadas pelo chão, apanhou-as e pô-las na mochila, não sabia se precisariam de dinheiro. Por último pegou numa caixa de brincos e depositou lá o anel. Quem sabe, talvez fosse uma pista do assassino.

 De repente um pensamento  que lhe provocou um arrepio na espinha, atravessou a mente do rapaz. E se o assassino ainda estivesse ali escondido, à espera do melhor momento para fazer dele a sua próxima vítima? O rapaz pegou na mochila e deu um sprint dali para fora fechando a porta atrás de si.

Quando chegou ao patamar deparou-se com o irmão a abraçar a amiga e a tentar acalmá-la, contudo ela estava com um tom branco doentio e não parava de tremer. Ao aproximar-se percebeu que ela não parava de sussurrar «Isaac, Isaac, Isaac».

- E agora o que fazemos?- perguntou-lhe o irmão.

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