5 - O velho da Rua 48

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Passava da meia noite quando Patrícia, sem conseguir mais conter a empolgação, comenta com os amigos uma história macabra que ouvira dias atrás.

Eles costumavam se reunir para passar o tempo. O P4 – como se autodenominavam – quase sempre jogava conversa fora testando habilidades em jogos de mesa e videogame.

A noite era chuvosa, e na casa, apenas eles, Pedro, Phael, Paulo e a ela.

Fazia precisamente uma semana desde o ataque de pânico de Pedro, acreditando ter visto uma assombração de seus amigos na casa de Paulo.

Ninguém mais tocava naquele assunto. Até as contações de histórias, em especial as ligadas ao que tange o inexplicável, ficaram comprometidas. Foi uma decisão unânime entre eles.

Na semana seguinte, porém, lá estava Patrícia, agoniadíssima como de costume, ignorando o combinado. Segundo ela, fazia tempo que não se falava em um mistério tão intrigante quanto esse do velho da rua 48.

– "Pessoal, eu sei que a gente combinou de não falar mais sobre essas coisas, mas o que eu tenho pra contar é realmente bizarro, sério. Um colega meu da faculdade estava num barzinho e presenciou um alvoroço que por pouco não virou confusão e quebra-quebra." Patrícia contava isso com uma expressão constrangedora, mas sem conseguir esconder o brilho de excitação nos olhos.

– "Tá, seus traíras, dá pra ver na cara de vocês o tamanho da curiosidade. Eu vou descer e ficar no sofá jogando no celular, é o melhor que eu faço. Quando acabarem, me avisem que eu subo e a gente faz alguma coisa. Mas saibam logo que eu tô puto, beleza?" Pedro falou enquanto saía do quarto de Patrícia e descia irritado para a sala.

– "Cuidado lá embaixo." falou Paulo com um tom provocativo, olhando de lado e sorrindo discretamente. Pedro nem deu bola e desceu.

– "Você foi ignorado com sucesso." falou Phael, tentando conter uma risada.

– "Pronto gente, vou contar... tentarei reproduzir exatamente como eu ouvi. Esse meu amigo costuma falar como se estivesse narrando uma história fantástica, acho que algum dia ele vai ser um roteirista ou sei lá o que." Patrícia comentou, olhando nos olhos de Phael e Paulo.

No bar, o clima até que estava agradável, com as pessoas de sempre lamentando os problemas de sempre.

Eu vou explicar tudo com o máximo de detalhes possível, para que você entenda que não se trata de uma história fantasiosa. Tudo o que aqui aconteceu foi exatamente do jeito que vou relatar.

Eu aqui estou contando o meu ponto de vista de um acontecimento que, honestamente, me deixou inquieto. Ponto de vista esse que partiu de uma mesa no canto esquerdo do corredor que dava para a entrada do banheiro do boteco. Um lugar escuro, mas que, coincidentemente, dava pra ver tudo o que acontecia no local.

Quase todos por lá interagiam. Claro, uns mais e outros menos. Eu estava sozinho na minha mesa, e perto de mim, um casal, que por tão sem noção que era quase foi expulso do local por atentado ao pudor. Em situações como essas eu até que tento, sem muito sucesso, ignorar comportamentos primitivos, mas não dá. Pelo amor de Deus, porque eles não arrumam logo um quarto? Seria menos constrangedor para eles e pra mim.

No balcão, que fica do lado esquerdo de onde estou, uns três metros a frente, estava uma mulher. Dizer que ela estava insinuante era o mínimo. De vestido vermelho e salto alto preto, parecia estar pronta para a caça.

Assim de costas, só dava pra ver que era um mulherão de uns 30 anos. Mas aí se ela era uma femme fatale ou uma prostituta eu não tenho certeza, noto apenas que ela perscruta suas redondezas de forma quase promíscua em busca de uma noite, digamos, mais produtiva.

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