Vinte e três.

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Não que eu tivesse desmaiado, eu apenas adormeci depois de algum tempo emergindo naquele silêncio, acordei pouco depois com os ossos congelando, senti uma pontada terrível em minha cabeça. Reparei na pessoa encostada nas rodas do carro, também dormindo, segurando a minha mão.

- Emma? – cutuquei-a com delicadeza. Ela abriu os olhos tentando reconhecer o local onde estava. – Você não precisava ter feito isso.

- Tudo bem. – disse, passando as mãos pelo rosto.

- Não precisava ter ficado.

Ela sorriu, insinuando algo a mais.

- Você se mataria se não fosse por isso.

- Provavelmente. – concordei, sorrindo de volta.

O silêncio nos fez companhia novamente.

Danny me encontrou no momento seguinte, nos puxando de lá. Emma tentou disfarçar que estava em minha companhia, e então desapareceu na nossa frente. Cambaleei um pouco enquanto retornava ao iate.

- Ei, sem ressentimentos, ok? – Jordan me abraçou – Agora é o grande momento da noite e quero você por perto.

Tentei me concentrar em ficar sóbrio.

Alguns amigos dele batucaram na lataria do iate.

- GIRA GARRAFA!

Revirei os meu olhos me desvencilhando do abraço de Jordan, mas ele enfiou o maldito objeto no meu peito enquanto todos pareciam animados demais descendo do iate, direto para as docas, e sentaram-se em círculo.

Cheguei por último, me ajeitando ao lado de Danny, só depois fui perceber Scott ao meu lado. Minha cabeça parecia latejar ainda mais com aquilo. Ainda era possível ouvir o dj tocando músicas mais calmas dali, para os casais que resolveram ficar.

- Posso passar a garrafa pra alguém? – Perguntei para Jordan, que negou.

- Ande logo com isso – Scott reclamou.

Bufei, posicionando o vidro no meio do nosso seleto círculo de idiotas, e orei comigo mesmo quando girei.

Carmine.

Carmine era uma garota que frequentava a mesma aula de inglês que eu. Trocamos poucas palavras no passado, ela parecia ser do clube do teatro ou algo assim, vestia umas meias coloridas até o joelho.

- Verdade ou desafio? – perguntei, cansado.

- Desafio – ela disse, animada. Sorri. Então, pensei; "Essa garota tem tudo para fazer Danny sair do buraco emocional que estava.

Olhei para o meu amigo.

- Um beijo de dois minutos no meu amigo Daniel aqui – o empurrei para o meio do círculo. Ele parecia desconcertado, mas gostou da ideia. O suficiente para ficarem muito mais do que dois minutos. Todos aplaudiam, assoviando.

Carmine girou a garrafa, e a cada nova pessoa, eu agradecia pela ação divina de ninguém conseguir me pegar. Meus instintos ainda estavam balançados, e por mais que eu quisesse, não conseguia olhar para Emma. Não quando confundia os seus olhares sendo para Scott, ao meu lado, tamborilando os dedos nos próprios joelhos.

Armaram uma fogueira por ali, com velhos tocos de madeira e galhos secos de árvores.

Por que Emma correria atrás de mim naquela noite se estava com Scott agora?

Por que ela insistia em deixar as coisas tão difíceis e me impedir de seguir?

Abaixei minha cabeça, amontoando um pouco de areia ao meu lado.

Quando os lobos saemOnde histórias criam vida. Descubra agora