Capítulo 1

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— Helena, você viu onde coloquei a pasta com as planilhas do faturamento mensal? Quero analisá-las e ver se temos condições de fazer algumas mudanças – Guilherme perguntou aproximando-se da minha mesa, onde eu digitava um documento no meu notebook.

— Gaveta do meio, do lado esquerdo da sua mesa – respondi sem nem olhá-lo.

— Obrigado, não sei o que seria de mim sem você.

— Também não sei – rimos juntos e voltamos ao trabalho.

Guilherme e eu somos sócios em uma empresa de publicidade e marketing digital, nos conhecemos na faculdade. Encontrava-me no final do curso e ele estava em busca de jovens empreendedores para um projeto na área de publicidade e informática. Após algumas entrevistas e explanações fui selecionada. De lá para cá, nos tornamos amigos e sócios, sabemos quase tudo um do outro, sempre nos apoiamos, somos como arroz e feijão.

Decidimos trabalhar apenas nós dois e um office boy, em um pequeno escritório em um edifício comercial, no centro de São Paulo.

Eu sou organizada, extrovertida, criativa e linda. Ele é desatento, sisudo, crítico e, claro, lindo. Casamento perfeito, pelo menos no trabalho. Engraçado como nunca passamos disso, jamais teve nenhum olhar diferente ou insinuações, nada. Somos uma dupla incrível. Apesar da minha irmã, que é uma romântica incorrigível, achar que ele é meu príncipe encantado. Eu apenas observo a expressão sonhadora dela.

— Guilherme, podemos fazer isso depois do almoço? Hoje é dia de encontrar a minha irmã, a Mel e a Raquel.

— Podemos sim, mas duvido muito que você chegue no horário, é bem capaz que esse almoço se transforme em lanche e depois um jantar – fala, sorrindo.

— Verdade, há dias que não nos encontramos, temos muito o que fofocar, mas prometo chegar no horário, estou curiosa para saber dessas mudanças – rindo, levanto e me despeço com um beijo em sua bochecha. Mas por um descuido, ele vira o rosto e acabamos encostando nossos lábios em um breve selinho.

Ficamos nos encarando por alguns segundos, e lembro que tenho que sair para encontrar as meninas.

Combinei com elas de almoçarmos em um restaurante simples, próximo ao escritório, pois precisava voltar no horário. Fui a pé mesmo, e no caminho fiquei pensando no Guilherme, em como nunca tinha observado o quanto ele é bonito, rosto quadrado, barba ralinha, olhos profundos e, principalmente, fiquei pensando como gosto do seu abraço, me sinto segura. Mas o que é isso Helena? Ficou doida? Estamos falando do Guilherme, seu amigo e sócio. − Rapidinho cheguei ao restaurante e espantei esses pensamentos absurdos.

Nosso almoço foi super divertido. Minhas primas, minha irmã e eu somos muito unidas, aliás, toda a nossa família é assim, irmãos, tios, primos. Onde tem Cavalcante, tem alegria. Claro que, como em toda família, sempre existem alguns embates, mas logo se resolvem e voltamos à festa.

Fofocamos, rimos, falamos sobre coisas sérias, mas a todo instante lembrava do acontecido com o Guilherme, sei que foi rápido, mas me encantei com a maciez dos seus lábios. Para, tá ficando louca, Helena! − pensei ao divagar durante o almoço, mas logo me recompus.

Voltei do almoço e Guilherme, já estava à minha espera.

Passamos toda a tarde envolvidos com as planilhas, tentando encontrar uma forma de investir uma parte do nosso lucro em algo voltado para o social. Guilherme teve uma ideia fascinante, que amei, lógico. Ajudar microempreendedores, sem condições de se promoverem, com uma boa campanha publicitária. Ficamos muito animados com essa possibilidade.

Fim de expediente. Outro descuido. Olhares indecifráveis, e uma cabeça dando voltas. Se minha tia Dorinha estivesse aqui, diria logo: Se joga sobrinha, esse Guilherme é tudo de bom!

Segui para casa sorrindo sozinha, lembrando-me dela. Sentia saudades de titia que estava viajando pela Europa. Ela resolveu tirar um ano sabático, e eu até imagino as loucuras que deve estar aprontando por lá.


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