Capítulo 4

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Passei a noite em claro, pensando nessas últimas horas. Como pode num curto espaço de tempo tanta coisa mudar?

Chegamos em Campos do Jordão e foi aquela festa! Como amava tudo aquilo. Minha avó linda e meus tios e primos, todos reunidos. Mas algo não parecia normal. Eu sentia no ar que a vovó estava aprontando. Minha prima Mel e eu sentíamos, na verdade. E ambas observávamos atentas.

Bia também estava esquisita na festa, mas ninguém como minha prima, Raquel, que veio com seu amigo Henrique, dizendo para nós que aquele era seu namorado. À quem ela pensa que enganou?

Espere, dona Raquel, que vou já resolver essa parada – sorri maliciosamente, me encaminhando para ...

Ela pensava que ainda era apaixonada pelo Vitor, um primo metido a gostoso, que nunca deu bola para ela. Raquel era tão cega por esse cara, que não enxergava o quanto esse Henrique gostava dela.

Passei o almoço dando bola para Henrique, e observei o quanto a Quel ficou bolada. Fiquei me acabando de rir internamente, ao constatar o quanto minha prima é bobinha. Depois da minha pequena travessura, fui para a varanda e, olhando para o céu, fiquei refletindo enquanto admirava as constelações. Me bateu uma saudade do Guilherme, o que será que ele estaria fazendo? Será que também estaria pensando em mim? Queria ele ali. Tinha certeza de que minha avó iria gostar muito dele...

Não vou mentir, do almoço até a hora da festa tudo passou como um borrão. Não estava entendo todo aquele emaranhado de sentimentos por Guilherme. Tudo que sabia era que o queria ali. Minha mãe percebeu minha estranheza e veio conversar comigo. Eu contei tudo o que vinha acontecendo. Ela apenas sorriu, principalmente da analogia que fiz sobre a paixão e a batida do carro. E depois me explicou que eu podia realmente estar gostando do Guilherme, que essa batida já acontecera e eu apenas não havia percebido, porque ao contrário dos homens, nós, mulheres, não somos tão ligadas em carro – gargalhamos, e me senti mais tranquila.

— Leninha, Leninha! Corre aqui – Mel entrou em casa aos berros, dizendo que havia um carro batido no portão da casa da vovó. Levantei-me de onde estava sentada com mamãe e corri rumo à saída.

— Calma, Mel! Será que tem alguém machucado? – questionei, caminhando apressadamente. — Vou chamar alguém para ajudar a pessoa – ao me aproximar do grande portão de entrada, observei atentamente e percebi que conhecia aquele carro – Meu Deus, Mel, é o Guilherme! – exclamei, estarrecida, sem olhar para minha prima.

Saí correndo, feito uma louca, e a cada passo confirmava minha suspeita, era mesmo o Guilherme. Mas o que estava acontecendo?

Quando me aproximei, percebi que o capô do automóvel estava totalmente amassado. Ele bateu no poste da rua em frente ao portão da casa da vovó, mas estava do lado de fora, encostado no carro com um sorriso besta no rosto.

— GUILHERME! – gritei. — O que foi isso? Como você bateu esse carro? O que você está fazendo aqui? E por que está com esse sorriso besta na cara? – terminei berrando, com as mãos na cintura. Esse cara era louco.

— Leninha, estava distraído pensando em você. Não aguentei a saudade e pequei o endereço com sua irmã – ele disse tudo isso aproximando-se de mim, eu estava totalmente confusa, e ele, mesmo percebendo, avançou para me agarrar pela cintura. — Leninha, aconteceu a colisão.

Como uma batida de carro, tudo aconteceu rapidamente. Nos envolvemos loucamente num beijo intenso e libidinoso. Como uma batida de carro, percebo que estou loucamente apaixonada por Guilherme. Como uma batida de carro, somos eclipsados para um lugar somente nosso.

Quando nos separamos, caímos na gargalhada feito loucos. Minha família inteira estava na varanda assistindo a tudo, e vibrando com o espetáculo. Ele, porém, sequer parecia se importar. Apenas sorria, carinhoso, enquanto me encarava com aqueles familiares olhos expressivos que, naquele dia, carregavam um brilho fora do convencional.

— Helena, nesses anos todos nunca pensei que isso pudesse acontecer. Sempre lhe vi como minha amiga, mas depois daquele selinho, tudo mudou. Percebi o quanto você é linda, o quanto seu sorriso ilumina meus dias. Sentir seus lábios nos meus, acendeu algo em mim, que não sei te explicar, só sei que quero você.

Retribuo seu sorriso, antes de responder:

— Guilherme, comigo foi do mesmo jeito. Não compreendia nada, mas agora eu consigo entender: eu também quero você. É em seus braços que quero estar – falo, jogando-me nele, enquanto nos abraçamos e nos beijamos apaixonadamente.

E a festa ficou completa. De uma vez só, ele conheceu todos os membros da família Cavalcante. Minha avó ficou super encantada com nossa história.

Depois da festa, onde vovó nos comunicou sua mais nova aventura, resolvemos passar mais alguns dias em Campos do Jordão, só que em uma pousada.

Vivemos esse momento intensamente. Talvez o fato de sermos amigos e sempre termos nos respeitado, tenha contribuído para nosso envolvimento.

Nunca imaginei que meu "felizes para sempre", estivesse o tempo todo ao meu lado. Que fosse preciso apenas uma batida de carro, uma colisão, para abrirmos nossos olhos e corações.

Ficamos mais três dias nessa pousada em estilo europeu, o lugar era lindo. Guilherme se mostrou um verdadeiro príncipe, e eu? Sendo neta de Catherine Cavalcante, imaginem como me comportei...


♥Fim♥

ColisãoWhere stories live. Discover now