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Nícolas estava com o carro do seu pai, o que me deixou meio temeroso já que ele era de menor e não tinha carteira de motorista, mas o mesmo me disse que estava com a provisoria, o que não me deixou melhor.

Fomos conversando o caminho todo, ele estava segurando minha mão na maioria dele, só soltava para trocar de marcha. Ele me perguntou mais sobre o circo, e eu expliquei para ele como as coisas funcionavam.

— Posso te fazer outra pergunta?

— Bom, por que não?

— Como era a sua mãe?

Sem conseguir segurar eu abri um enorme sorriso.

— O melhor ser humano da face da terra... — ele apertou a minha mão. — Minha mãe era um anjo na vida de todo mundo. Me lembro de quando eu era pequeno quando eu morava na Itália, morávamos em um vilarejo bem humilde e sempre em dias frios, ela e meu pai juntavam todos moradores e faziam uma sopa, então ela juntava todos e nos contava historia.

Fiquei olhando para a estrada e meus olhos encheram-se de lágrimas.

— Ela sempre olhou o mundo por um lado mais colorido... Raramente eu a encontrava triste, sempre sorrindo. Meu pai pensou em desistir tantas vezes do circo, mas ela nunca deixou, sempre colocou ele pra cima e posso dizer que se não fosse por ela, nós não estaríamos aqui hoje. Sabia que a maioria das pessoas que estão conosco hoje é por causa dela? Por todo lugar que íamos, ela colocava alguém para ficar com a gente... Morador de rua, pessoas que não tinham onde morar, pessoas que foram expulsas de casas, eles sempre dizem que devem a vida deles a ela.

Eu limpei meus olhos.

— Quando ela morreu, ela me disse que não era para chorar por ela, não de tristeza... Ela me disse que tinha feito tudo o que tinha que fazer aqui na terra, sua missão já tinha acabado. Ela veio ao mundo para mudar muitas vidas e mudou. Ela era bailarina no circo... A mais bela de todas.

— Desculpa te fazer chorar, eu não queria...

— Tudo bem — eu o interrompi. — Não choro de tristeza, choro de emoção, tenho muito orgulho da minha mãe...

— Assim como ela tem de você.

Eu sorri para ele e dei um beijo na sua mão.

— Para onde estamos indo?

— É um segredo...

— Espero que não me mate...

— Só de beijos.

— Gostei!

Ele gargalhou e voltou a prestar atenção na estrada.

***

Uma praia deserta. Ele me trouxe para uma paria deserta. Estava uma noite linda e tudo estava iluminado pela luz da lua. Ele sorriu pra mim e começou a tirar as coisas da caminhonete do seu pai.

Olhei no relógio e marcava 02:00 da manhã, estava uma noite bem quente e abafada.

— Gostou? — ele perguntou me abraçando por trás.

— Se eu gostei? Eu adorei cara. Esse lugar é lindo.

— Foras quatro horas de viagem que valeram a pena.

Eu me virei para ele e passei a mão em seus cabelos loiros, ele fechou os olhos aproveitando o carinho e eu beijei cada uma das suas têmporas. Ele sorriu e passou o nariz por meu rosto, bem lentamente e aquilo me deixou mais uma vez arrepiado.

— Vem, vamos montar a barraca e ascender a fogueira.  

— Nesse calor? — eu perguntei sorrindo. 

FReaK ShOwOnde histórias criam vida. Descubra agora