Um - Julho

812 41 14
                                    


Steve encarava o próprio reflexo, seu olhar sempre doce, gentil e correto agora estava imerso em preocupação e medo. Aos quarenta e dois anos ele havia conquistado tudo o que uma pessoa pode querer para ser bem sucedido, tinha um bom emprego, uma esposa maravilhosa, um filho adolescente que era bom aluno e parecia seguir os passos do pai.

    Ele era um homem feliz, ou deveria ser, pois sua vida era perfeita...

    — Maggie... – ele ensaiou pela trigésima vez a mesma notícia, não havia um modo fácil para dizer, por isso decidiu abandonar a estratégia de fazer alguma piadinha a respeito do que estava prestes a revelar. – Eu sou gay...

    Com as mãos trêmulas ele abriu a torneira e jogou água no rosto suado. Estava decidido, precisava contar a verdade, então resolveu ensaiar uma última vez. Respirou fundo, deu um pigarro, mudou seu tom de voz para algo mais firme e disse sem hesitar, enquanto ainda encarava seu próprio reflexo no espelho do banheiro:

    — Maggie...

    — Você é gay. – A mulher abriu a porta do banheiro com tanta calma que deu a impressão de ser o vento quem empurrara a porta.

    Ela era bonita, o tempo não fizera desfavor nenhum a ela, muito pelo contrário, sua beleza apenas aumentou a medida que os anos avançavam. Os cabelos sempre encaracolados não perderam o brilho dourado, a pele cor de mel não tinha nenhum dano causado pela idade, ela era mais baixa que Steve e gostava assim, dessa maneira se sentia protegida pelo marido que tanto amava.

    — É Steve, eu ouvi das outras vinte vezes... – ela abriu um meio sorriso, mas seus olhos estavam tristes. – E, por favor, eu imploro, não faça nenhuma piada sobre os meus sapatos, e nem sobre eu não precisar me preocupar por você não olhar para outras mulheres na rua...

    Ele se virou, encarando a mulher que tantas vezes estivera ao seu lado cuidando de toda a sua vida, enfrentando cada obstáculo que a vida havia colocado em seu caminho, para a sua surpresa, o olhar de Maggie era compreensivo e acolhedor, e isso o deixou mais aliviado, porém, partiu o seu coração.

    — E-eu... M-Maggie... E-eu... – ele gaguejou, mas ficou calado a um sinal da mulher.

    — Você vai entender se eu pedir o divórcio, não é? – ela perguntou em um fio de voz.

    E choraram abraçados.

    — Sinto muito, amor... – ele falou com a voz embargada. – De verdade, eu sinto tanto por isso estar acontecendo...

***

Tommy subiu correndo até o segundo andar da casa, quando seus amigos disseram que Daniel, seu irmão mais novo, fugira da escola ele pensou que era alguma brincadeirinha boba, mas percebeu que era sério quando uma das professoras do irmão o abordou no corredor durante o intervalo.

    Segundo a mulher, Daniel saíra correndo no meio da aula, o rapaz parecia abalado e chorava bastante, ao dizer isso, ela logo acrescentou que ninguém havia incomodado o menino.

    — Abra a porta! – Tommy bateu tão forte na porta do quarto que pareceu que estava prestes a derrubá-la. – Daniel, o que aconteceu?! Abre já essa porta!

    — Vai embora! – a voz que veio de dentro do quarto estava embargada e cheia de tristeza.

    Isso foi suficiente para fazer com que Tommy se atirasse contra a porta trancada.

    — O que está fazendo? – Daniel gritou assustado.

    — Se você não vai abrir essa porta, eu vou arrombá-la! – Tommy respondeu, e antes que se jogasse novamente contra a porta ele ouviu o irmão destrancá-la, e então entrou.

Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora