Cinco - Família

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— Steve, não adianta, eles não querem falar com você... – Disse Maggie tentando ser o mais compreensível que conseguia. – Não sei o que você fez, mas sei que os meninos estão magoados e Erick não quer falar o que houve, e... Não Steve, não quero que você me diga o que aconteceu, só quero que resolva sem causar mais problemas a ninguém!

    Ela desligou o telefone e subiu, a porta do quarto de Erick estava aberta e de mansinho Maggie se aproximou e viu Daniel e Erick de mãos dadas com os corpos bem próximos, Daniel ensinava Erick a conduzi-lo, por um instante a mulher pensou que o filho precisava urgentemente de aulas de dança, mas então ficou chocada ao perceber o que foi que havia acontecido para que seu filho se sentisse tão magoado com o pai.

    — Droga Steve, como pôde? – ela murmurou consigo mesma e limpou uma lágrima que escorreu pelo seu rosto.

    Os meninos passaram o resto do dia ali, e então Daniel disse que precisava voltar para a casa de Steve, e Erick concordou, Maggie como sempre, pediu que Daniel retornasse mais vezes, e ele apenas assentiu, sua expressão era triste. Ele não poderia mais voltar para aquela família, por sua culpa havia criado uma situação ruim entre Erick e Steve, dois homens que em pouco tempo ele aprendeu a amar.

    Sua decisão estava tomada, quando entrou na casa de Steve ele estava dormindo no sofá, então rapidamente Daniel recolheu tudo o que era seu e guardou na mochila, vestou seu melhor agasalho e retesou na hora de colocar o relógio que Steve lhe dera de presente de Natal. O presente era seu, mas ele não sabia se era justo levar consigo, já que estava escapando daquele lugar do mesmo modo que entrou. Então se lembrou do tempo que passara ali, e mandou pro inferno tudo o que era justo ou injusto e colocou o relógio, aquela era uma lembrança que ele carregaria consigo para sempre.

    Ao sair de casa sua mente já sabia onde ir, então seus pés apenas fizeram o trabalho de conduzi-lo de volta ao lugar de onde saiu, ele tinha sua própria família, não poderia se apropriar da família dos outros, Tommy dissera que ele deveria voltar, e ele sentia muita falta do irmão, embora a mágoa que sentia com relação aos pais ainda fosse muito grande.

    Enquanto caminhava sua mente vagava pelos últimos meses, ele queria aprender a jogar xadrez com Jasper, queria ver várias maratonas de filmes antigos com Maggie, queria ouvir Erick tocar mais vezes o piano, e mais importante, queria um abraço de Steve, se lhe perguntassem qual seria seu último desejo, seria este, apenas mais um último abraço daquele homem, que mesmo sem precisar demonstrou um carinho especial por ele.

    — Steve... – Daniel murmurou, e então parou diante da porta que meses atrás havia deixado aberta.

    Nada mudara naquela vizinhança.

    Isso era o que ele mais temia.

    Antes de bater na porta esta se abriu e Daniel viu o rosto do irmão contemplando o seu, Tommy tinha os olhos marejados e agarrou Daniel pela blusa e o puxou para um abraço apertado.eles não se demoraram, subiram juntos e ambos foram pra cama, mas o sono havia abandonado Tommy e ele estava tão feliz com o retorno do irmão que não conseguiu fechar os olhos.

    Quando Daniel acordou pela manhã percebeu que estava sozinho no quarto, ele sentiu o cheiro de café forte vindo da cozinha, sabia exatamente o que tinha que fazer, como se houvesse lido anteriormente em um roteiro. Ele se levantou, trocou de roupa, vestiu jeans limpos e pegou uma camisa de Tommy e vestiu também, era como um escudo, enquanto usasse aquela camisa ele se sentiria protegido, e então desceu as escadas com cuidado e entrou na cozinha.

    Vivian se assustou com a presença dele e deixou escapar um grito que acabou assustando o marido e o filho mais velho.

    Tommy e Edward olharam na direção da porta e viram Daniel, como num passe de mágica, o rosto de carne e osso do pai se transfigurou em pedra e se tornou indecifrável, seus olhos frios encararam o filho de cima a baixo, enquanto Vivian, dura como ferro caminhou mecanicamente até o filho e o abraçou se separando dele mais que imediatamente, como se ele tivesse alguma doença que pudesse ser contagiosa.

Entre NósWhere stories live. Discover now