De volta ao lar.

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Acordei com a luz do sol em meu rosto, Justin estava abrindo as cortinas, bufei e cobri meu rosto com a coberta.

— Ah não, nada disso. — Ele veio até mim e descobriu meu rosto.

— Como você tá? — Passei a mão no rosto e coloquei o cabelo pra trás.

— Melhor do que nunca. — Sorriu.

— Ótimo! — Sorri, olhando pra ele. — Da próxima vez dorme no sofá, céus, como é espaçoso! — Menti e ele riu, sabia disso.

— Tudo bem, pessoa que dorme no cantinho da cama sem se mexer.

— Olha aqui, eu te bato, hein? — Levantei a mão.

— Acordamos um pouquinho tarde. — Justin olhou o relógio. Puxei seu braço e olhei também, eram 12:23.

— Caramba. Mas merecíamos isso.

— Muito. — Concordou.

— Vamos sair pra comprar roupas?

—  Eu vou voltar no apartamento da Lucy, Allie. — Ele só podia estar louco. Pus a coberta pro lado e me sentei na cama.

— Você não pode fazer isso.

— Nós precisamos de armas.  — Ele andou de um lado para o outro, e pôs as mãos no bolso.

— Era o que tinha na mochila? — Engoli seco. — Eu não sou muito boa com isso.

— Eu te ensino. — Sorriu convencido.

— E o carro?

— Eu vou resolver tudo. — Balancei a cabeça positivamente e soltei um suspiro baixo.

— Eu vou na minha casa. Tem coisas que eu não posso deixar pra trás..

— Tá, a gente vai agor..

— Eu vou sozinha. — Disse antes que ele terminasse.

— Tudo bem, se você quer. Mas cuidado. — Me alertou.

Eu estava porca, seria mesmo ótimo ir em casa, pegar algumas coisas e tomar um bom banho em meu banheiro.. Só tinha medo do que ia sentir ao entrar novamente naquela casa, eu não sei se vou aguentar. Estou sendo até mais forte do que imaginei que seria, mas ir lá é como atirar na minha própria cabeça.

Levantei e me ajeitei, — Tenho que dizer que foi inútil depois de pular de um prédio, cair em uma banca de frutas e correr feito uma condenada. — Eu estava cheirando a uma mistura louca de suor e banana.

— Preciso ir. Te vejo mais tarde. — Sai do quarto.

No corredor, três garotas conversavam, mas pararam ao me ver e deram aquela olhadinha básica: De baixo pra cima.  Ah, qual é? Eu estou ótima.  Mordi o lábio tomando coragem e passei entre elas.

— Benzinho, se quiser te empresto uma hidratação pro teu cabelo ficar igual o meu. — A garota mexeu em meu cabelo e as amigavas concordaram, soltando risadas.

— Tira essas patas de mim se ainda quiser ter cabelo. — Encarei ela por um instante e me virei saindo dali. Talvez eu não tenha escolhido bem o hotel.

Eu não ia andar até minha casa, então chamei um táxi, tinha pegado um dinheirinho do Justin. Só para emergências, como essa, óbvio. 

Ao entrar em casa, senti como se nada tivesse acontecido antes, senti como se estivesse chegando da escola e logo encontraria meu irmão bagunçando meu quarto e minha mãe gritaria: "O jantar está pronto".
Mas não era mais possível.. Eu sabia disso. Eu que nunca gostei daquelas frases que todos repetem, me peguei tendo que admitir, a gente só da valor quando perde.  Queria eu poder voltar, abraçar mais, brigar menos, passar mais tempo com eles, eu só.. queria.

Olhei nossas fotos espalhadas pela sala e subi as escadas devagar. Entrei em meu quarto e fui direto pro banheiro.
Eu nem preciso dizer o quanto estava precisando daquela banho..
Vesti uma calça, uma blusa e um casaco, como eu realmente gostava de me vestir.

Na noite passada estava usando uma bota com um pequeno salto que o Justin comprou. Devo dizer que correr com aquilo me quebrou. E como minha vida tem sido: Correr. Coloquei um tênis desta vez. 

Peguei uma mochila e pus algumas roupas dentro. Mexi no meu guarda roupa, peguei um álbum de fotos e guardei.

Queria deitar na minha cama e fingir por um segundo ser uma garota normal, mas eu não conseguia parar de pensar na minha mãe e Pether deitados no chão, todo aquele sangue..

Respirei fundo e o som de algo caindo invadiu o quarto.

Senti minhas pernas tremerem, confesso que estava com medo, devia ter aceitado a companhia do Justin.

Coloquei a mochila nas costas e peguei um estilete em minha escrivaninha.

— Patético.. — Murmurei.

Andei devagar até a porta e abri a
mesma lentamente, passando por ela.
Desci os degraus com cuidado, olhando para cada canto com atenção.
Fui até a cozinha e me deparei com uns talheres no chão. E então ouvi outro barulho, me virei assustada.

— Ai.. — Pus a mão sobre meu peito.

Era só um gato.

— Você me assustou. — Me abaixei e peguei ele no colo. — Sabia que geralmente nos filmes,  as pessoas se conformam achando que foi realmente o gato que fez o barulho e depois o assassino aparece atrás? — Soltei um riso e acariciei seu pelo, em seguida coloquei ele de volta ao chão.

Eu não quero mais voltar aqui, eu nem mesmo penso: "Quando tudo acabar, voltarei aqui". É estranho porque eu sinto que deveria, mas eu não consigo pensar dessa forma.

Peguei algumas coisas que me lembravam eles, mas de forma boa, essa casa, agora, só me lembra a morte.

Olhei em volta me despedindo do lugar. Andei em lentos passos até a porta e abri a mesma em seguida, olhei para trás mais uma vez soltando um suspiro e fechei a porta.

THE BOXWhere stories live. Discover now