BAILE FATAL

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"Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma".

                                (Levítico 17:11)


Abri a porta do carro antes que o segurança tivesse chance de demonstrar seu cavalheirismo forçado e, mal coloquei os pés do lado de fora, uma chuva de flashes em todas as direções ofuscaram minha vista. Abaixei o rosto e disparei escada acima, subindo os degraus com velocidade, e inquieta até alcançar a porta do salão de festas, em que, para meu alívio, só haveria um fotógrafo para cada cinco pessoas que iriam se formar e a condição contratual era que eu seria tratada como igual aos demais alunos. Sem nenhuma foto a mais ou a menos.

Não era fácil ser a filha do Governador do Texas. Não me importaria se meu pai fosse eleito para um lugar como Forks, o que incluiria o anonimato em todo o país, menos para os habitantes de lá. Mas o simples fato de pertencer a uma antiga família rica que estava envolvida com a política desde quando o primeiro inglês pisou em solo estrangeiro, após uma longa travessia pelo Atlântico, já me tirava qualquer possibilidade de uma existência pacata.

Eu estava me acostumando a ser o centro das atenções, mesmo sem nada para oferecer aos outros. Ao menos, minha terapeuta me dizia isso sessão após sessão. Não sabia se por ser realmente verdade ou se meu pai a subornara para que eu parasse de brigar com todos dentro de casa o tempo inteiro. Eu não queria ser a menina fútil do papai. Eu não queria aquela vida com poder, riqueza e fama que parecia ser tão contrária aos meus ideais de simplicidade. E o pior era que meus surtos involuntários me faziam ser o que não queria. Eu não pedi nada daquilo. Simplesmente era assim e eu devia aceitar.

— Mel, quer um pouco de ponche?

A voz agradável e rouca de Christopher sussurrou em meus ouvidos enquanto uma dezena de garçons estendiam suas bandejas com salgados, doces e bebidas em minha direção, gritando "Srta. Jackson" e disputando minha atenção.

— Não, Chris. Muito obrigada.

Rapidamente ele pegou um copo sobre uma bandeja, tomou um gole do ponche e me tirou furtivamente da entrada do salão, deslizando por mesas, seguranças, garçons, cadeiras... Tudo aconteceu muito rápido. Quando percebi, estava longe de tudo e de todos. E os seguranças ficaram tão perdidos quanto eu, menos Tyler e Cooper. Os dois guarda-costas favoritos de meu pai. Eles se viraram na mesma hora para onde Chris me levara e contraíram os lábios como cães com raiva.

— Enfim... a sós, não é?

— Sim, sim... — prendi o ar.

Christopher era o aluno mais gato de toda a escola. Ele entrou no último ano e sempre se saíra bem em todas as provas, inclusive de Literatura. Eu estava muito feliz em não ter que olhar para a cara horripilante da Sra. Parker toda manhã com suas histórias de terror sem graça. A explicação mais razoável era sadismo.

Ele não tinha um corpo tão atlético como os rapazes que praticavam esportes, mas não ficava atrás deles. Era assim que Jess tentava afugentar meu interesse por esse nerd esquisito como o chamava pelas costas. Seus olhos eram verde-oliva e tinha o sorriso mais inocente e gentil que conhecia. Os cabelos espetados e negros como uma densa floresta escura.

Era o meu terceiro namorado em menos de um mês. Não que eu fosse o tipo de garota que saía com qualquer um. Na verdade, todos os outros dois caras que namorei de um dia para o outro disseram que não queriam mais nada comigo. E a versão oficial que deveria ser contada era que eu terminei com eles. Isso alimentaria as revistas de fofoca por uma estação e seria oportuno para o mais novo escândalo de corrupção que meu pai era acusado de estar envolvido.

BAILE FATALWhere stories live. Discover now