GUERRA INTERMINÁVEL

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"Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma". 

(Levítico 17:11)

Eu precisava salvar Mel... ela não merecia esse castigo. Winter. Meus dentes trincaram. Tentava encontrar um meio de me desvencilhar das mãos de Theo sem que ele arrancasse minha cabeça enquanto pensava em dezenas de formas distintas de matar Winter. Apostaria o que quer que fosse, se não fora ela quem despertara Theo. Os ciúmes que sentia de meu relacionamento com Mel a estavam matando... ela apenas disfarçava alegando que não aguentava mais se alimentar de modo alternativo, mas isso não fizera diferença alguma em mais de cinquenta anos, por que faria agora? Ela ainda estava ressentida com o término do namoro depois de uma década e se vingava de mim, porque sabia muito bem que eu jamais quis que Mel virasse vampira, embora ela devesse se sentir culpada por dar a imortalidade a quem mais odiava. Ela se contentaria só com o fato de me atingir, se a conhecia como supunha.

Demorei dois anos para entrar na escola. Eu não suportava a ideia de voltar àquele ambiente idiota, mas era o único jeito de estar perto de Mel, exceto por meio de vídeos, fotos e a distância sem ser notado, senão por seus cães de guarda. Talvez para ela eu fosse só mais um cara que a namorava por ser filha do Governador, mas ela não desconfiaria de minha coleção de notícias a seu respeito e jamais saberia do grau de minha devoção antes de conhecê-la. Esse era meu maior segredo. Maior até que ser vampiro. Eu a amava. Só havia uma explicação razoável de que no lugar onde estava um coração que parara de bater fazia séculos parecia vivo de novo. O nó preso na garganta quando estava com ela... sentira algo parecido no tempo que era humano. E o cheiro do seu sangue lembrava um pó tóxico que queimava minhas narinas e fazia minha garganta ficar arranhada e ressecada, embora a sede fosse o menor dos meus problemas.

Graças a esse período de observação quase diária que o Sr. Jackson finalmente se convenceu de eu sentia algo por sua filha além de obsessão e pediu ao Sr. White, diretor da escola, que também era lobisomem que me desse os documentos necessários para ingressar no último ano do Trinity High School. Mas eu havia falhado... falhado em proteger Mel, em lhe garantir uma vida normal e feliz como ela merecera e agora ela seria uma de nós. Como iria para a Faculdade de Medicina em que fora aprovada? Levaria um ano ou mais até que se acostumasse com o cheiro de sangue. Como teria filhos, se, após a transformação, o veneno a esterilizaria? Como explicaria à sua mãe toda essa história maluca? A culpa que sentia era lancinante, pior do que qualquer sofrimento físico ou tortura que pudera conceber.

— Não! — gritei, mas já era tarde demais.

As presas de Winter estavam cravadas no pulso de Mel. O veneno não demoraria a fazer efeito. Primeiro, ela sentiria uma queda de temperatura tão forte que seu corpo iria a zero grau em menos de cinco segundos... o choque iria matá-la. Seu coração pararia de bater. Aquele ritmo descompassado que eu poderia identificar a quilômetros de distância, mesmo com o barulho no pórtico do Trinity, jamais bateria de novo. Em seguida, cada célula sofreria uma metamorfose e exteriormente só seria possível ver um cadáver gélido, imóvel e pálido por algumas horas. Então, seus olhos se abririam e a única coisa que encheria seus pensamentos seria a sede implacável por sangue humano.

— Argh... que nojo! — Winter cuspiu. — Theo, ela é uma pulguenta também.

Pulguenta? Melissa era uma pulguenta? Meu Deus... não podia imaginar como era um alívio escutar essa palavra, embora sempre soasse ofensiva ao ouvido de qualquer lobisomem. Entretanto, não fazia o menor sentido... Bom, ao menos, nos meus cálculos Mel não poderia ser uma lobisomem. A linhagem se alterna, pulando uma geração... o pai dela atualmente comandava a alcatéia, como o bisavô fizera no passado... mas ela? A menos que algum ancestral da mãe tivesse uma conexão... seria coincidência demais... e que coincidência maravilhosa. Eu ri. Não havia motivos para rir numa situação como aquela, porém, ignorando o nojo de Winter e a frustração de Theo, eu ri de novo.

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⏰ Last updated: Feb 18, 2017 ⏰

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BAILE FATALWhere stories live. Discover now