Prólogo - DEGUSTAÇÃO

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Morgana já deveria saber que, às vezes, até os melhores planos podiam dar errado.

Naquele sábado, por exemplo, o jantar se estendeu por mais tempo do que ela previu e quando conseguiu, finalmente, despedir-se de seus amigos, tinha a triste certeza de que perderia os últimos blocos de Coração em Chamas, sua atual novela mexicana favorita, pois já passava das dez e meia da noite.

Até tentou resistir e não dar carona para o tio do namorado de sua amiga Andressa, mas não teve jeito. Sandro lhe direcionou aqueles olhinhos de cachorro abandonado durante todo o jantar e contou sobre como a semana tinha sido estressante com os "anjinhos" dos alunos dele.

E, para selar seu destino, ele lhe lançou aquele sorriso.

Várias e várias vezes.

Um sorriso de lado onde o cantinho da boca subia só um pouquinho e sempre lhe dava vontade de passar a língua.

Ah, sim, o safado sabia que essa combinação de olhinhos mais sorriso era tudo o que precisava para que o seu coração amolecesse.

Além do seu, outro coração amolecia: o de Andressa, que, naquele momento, puxava-a para um canto.

As duas se afastaram da mesa e seguiram até a janela. O apartamento de Guilherme havia mudado um pouco desde o início do namoro com sua amiga. Um quadro ali, um tênis mastigado pelo cachorro dela aqui. Cada vez mais parecia que um casal vivia naquele espaço, e não apenas um solteiro.

Tirando-a de suas considerações, Andressa a cutucou e sussurrou:

— Coitado do Sandro, Morgana. Olha só a carinha dele! Não custa nada dar uma carona. Vocês dois moram praticamente no mesmo bairro.

Apenas por teimosia, pois aquela já era uma batalha perdida, Morgana não olhou para Sandro, que as observava de seu lugar na mesa, junto com os amigos. Somente respondeu, também aos sussurros:

— Eu não me importo em dar carona para ele uma vez que outra, Andressa. Mas você não acha estranho o fato de que Sandro nunca venha de carro? E que viva aparecendo do nada e fazendo essas piadas safadas? E que...

Andressa lhe lançou um olhar incrédulo e a interrompeu:

— Piadas safadas? De onde foi que você tirou isso, Morgana? E aparecendo do nada? Nós sempre o convidamos para jantar...

Morgana mordeu a língua para não retrucar. Poderia até ser neurose sua, mas havia muita coincidência nas caronas e nos horários de chegada dele constantemente coincidirem com os seus.

E nenhum homem passa tanto perfume se não tiver um interesse, pensou desconfiada.

— Não sei que implicância toda é essa — continuou Andressa. — O Sandro é muito querido, um amor de pessoa. Não consigo entender você, nunca o ouvi fazer nenhum comentário indiscreto.

— Só porque não ouviu não quer dizer que ele não faça, Andressa. E você deveria estar no meu lado. Ele é um tarado.

Sua amiga não aceitou bem a reclamação.

— Chega, não quero saber. Pare já com essa paranoia. O Sandro é um doce e você vai lhe dar carona sim. Não é seguro andar de táxi a esta hora e ninguém de nós mora perto da casa dele. Teríamos que fazer uma volta enorme, Morgana, e eu vou passar a noite aqui, hoje. Então deixe de ser criança.

Magoada pela falta de apoio e com pressa de pegar pelo menos o final de Corações em Chamas, Morgana não respondeu mais nada. Deu um tchau coletivo, disse para Sandro que estava indo e não parou para escutar o que Andressa ainda queria lhe dizer.

Meu Adorável Professor [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now