Capítulo Um - DEGUSTAÇÃO

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Os saltos de seus sapatos retiniam na calçada enquanto Morgana acelerava os passos para escapar da chuva que caía impiedosamente. Não que ela fosse torrencial, mas era forte o suficiente para estragar seu penteado, molhar seus pés e embaçar as lentes dos óculos de leitura que se esqueceu de guardar antes de ir para a rua.

Credo, aquela segunda-feira estava mesmo saindo pior do que a encomenda.

Morgana amava o que fazia, de verdade. Os conflitos emocionais das famílias, as situações tão delicadas que tinha de solucionar com diplomacia... Para ela, era fascinante lidar com a emoção de tudo aquilo. Só tinha de dosar um pouco de compreensão aqui e paciência ali para as coisas se resolverem.

No entanto, não podia dizer o mesmo das audiências de segunda-feira...

Odiava-as de todo o seu coração, detestava-as com uma paixão ferrenha!

E isso porque era o dia dos divórcios litigiosos, das piores brigas de guarda, do choro e do ranger de dentes. Não havia diálogo, não havia paciência, oh, não! Segunda-feira era o dia oficial das dores de cabeça.

Além do mais, ela não estava no clima para tanto drama e azar.

Tudo começou a dar errado já antes mesmo do almoço. Morgana queimou o pescoço com o secador de cabelo, seu batom favorito quebrou, o limpador de para-brisa do carro enguiçou e, por fim, a tela do smartphone trincou quando ele caiu na calçada. À tarde, descobriu que esquecera o guarda-chuva no restaurante, atrasou-se por causa da fila do banco e afundou o pé dentro de um buraco cheio de água na frente do escritório.

Sim, sim, parecia que tudo era um pretexto para que ela tomasse um banho de descarrego, como Luana sempre aconselhava.

Ao entrar na Brenner e Associados, Morgana grunhiu um cumprimento para Jenifer, a recepcionista, e tratou de se fechar na sua sala. Em seguida, jogou os sapatos molhados para um canto mais escondido e se atirou com força na cadeira giratória.

E quase caiu de bunda no chão.

Nem deu tempo de soltar um palavrão. Recuperou o equilíbrio e lançou um olhar zangado à cadeira.

Pelo amor de Deus. Esperava sinceramente que o final da tarde fosse um pouquinho melhor.

Desde que a reprise de sua novela mais divertida havia terminado, as coisas estavam complicadas para Morgana. Sem Ísis Madalena e Paolo, de Fronteiras do Amor, só lhe restava Corações em Chamas, que estava numa fase meio chata, com todo mundo feliz e contente.

Olhou em volta de sua sala, finalmente se acalmando. Aquele ambiente sempre a tranquilizava. Luana tivera razão em sugerir que trouxesse algum verde ao local, embora fosse insistente em lhe aconselhar a decorá-lo com coisas laranjas também. Quando Morgana se negou — não era muito fã do laranja —, a amiga resolveu o problema lhe empurrando uma plantinha com flores daquela cor.

Um presente de grego já que Morgana não costumava cuidar de plantas e foi Jenifer quem se sensibilizou, acabando por tomar conta da coitada.

Encarando a florzinha laranja como se ela fosse uma colega de escritório nem um pouco bem-vinda, Morgana bateu com as unhas sobre a mesa de forma impaciente enquanto se decidia por onde continuar aquele dia de cão. Foi então que algo colou em seu dedo e ela olhou para baixo.

Era um post-it com a letra de Jen, informando que Marco precisou remarcar a última reunião. Pela enésima vez.

Froga. Fazia algum tempo que o Dr. Greier e ela tentavam conciliar as agendas para discutirem a possibilidade de ele integrar à equipe do escritório. Se conseguissem um acordo, Brenner e Associados contaria com cinco advogados renomados.

Meu Adorável Professor [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora