Capítulo 10

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A tal confraternização está acontecendo num salão de festas logo na entrada da cidade vizinha.

Um manobrista estacionou o carro assim que descemos dele. Adam me ofereceu o braço e eu o peguei, a contragosto. Minha má-vontade devia estar tão evidente que ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou para eu sorrir.

– Não pode me obrigar, já estou aqui, é mais que o suficiente. – Reviro os olhos.

– Um sorriso pode iluminar a mais sombria das almas. – Ele responde.

Eu juro que tentei não engolir em seco, nem crispar os olhos, nem franzir a testa, muito menos olhá-lo de soslaio, mas não pude evitar. Seu olhar está longe, mas aquele meio-sorriso está presente. Ele acabou de citar um verso de uma das minhas músicas favoritas.

Entramos juntos no salão e eu, só de ver a decoração e a quantidade de pessoas, tive que me controlar para não me esconder atrás do varapau. O meio-sorriso se dissipou devido ao seu longo suspiro, que logo deu lugar à sua máscara.

A cor dos seus olhos já lembra gelo de tão claros, mas ele conseguiu transformá-los em dois icebergs. Acho que está tão desconfortável quanto eu.

– Adam! Que bom que veio! – Diz o anfitrião. É Harrison Cooper, atual presidente da empresa.

Ele abre um sorriso tão falso quanto o rosto da mulher que acompanha o Sr. Cooper, que está cheio de botox.  

– Eu não perderia por nada. – O presidente pousa seus olhos em mim. – Esta é Belle, minha protegida. 

Estendo um braço a ele. O Sr. Cooper o ignora, dando-me um rápido abraço, sorrindo muito. 

– É um prazer conhecê-la, senhorita.

– O prazer é meu. – Sorrio de volta.

A mulher se aproxima para me cumprimentar, mal consegue sorrir direito, mas ainda assim parece simpática. Talvez esse casal não seja tão ruim quanto imaginei, veremos o resto dos convidados.

Sinto o peso de muitos pares de olhos em mim, o que me faz ter ainda mais vontade de me esconder. Adam olha ao redor, procurando por uma mesa vaga. Todas são redondas, com oito assentos, e, no centro de cada uma delas, foram colocados vasos de flores. Rosas vermelhas. Há diversos lustres que eu não acredito que sejam de cristal, mas não posso duvidar de nada nesse ambiente de pessoas absurdamente ricas.

Adam puxa a cadeira para mim numa mesa um pouco afastada do resto. A alguns metros de nós tem uma espécie de pista de dança. Que tipo de confraternização é essa? Ele me pega olhando e sorri.

– Você dança?

– Tive aulas de dança por um longo período da minha vida, sim. – Respondo, sem desviar meu olhar de lá.

Mordo o lábio. Nada disso parece certo. Adam deve estar acostumado com isso, mas eu não. O mais perto que já cheguei disso foram os bailes da minha antiga escola e não eram nem de longe tão luxuosos quanto este.

– No que está pensando? – Ele pergunta, como que para quebrar o silêncio.

Solto um suspiro.

– Que eu vou voltar para casa aleijada, morrendo de dor nos pés por causa desse salto enorme, que isso é muito exagerado para mim e que você está sendo amigável só porque estamos no meio de muitas pessoas.

Olho-o, inexpressiva, apesar do tom acusador da minha voz. Adam cerra os punhos e suspira, parece até arrependido. Não o conheço bem o suficiente para saber quando ele está mentindo, mas desta vez parece ser real. 

Sombras da Luz (Pausada)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora