Primeiro capitulo

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Era uma noite escura, mais do que as outras, não se via nenhum sinal da lua, no caminho de volta pra casa, percebi que as luzes da rua estavam estranhamente apagadas. Em tamanha escuridão e silêncio, eu ouvia apenas um pequeno ruído assombroso, que aos poucos foi ficando cada vez mais alto. Congelei quando percebi que eram passos junto aos meus, procurei em volta duas ou três vezes e não encontrei absolutamente nada, mas eu sabia que alguma coisa se mexia atrás de mim então, caminhei depressa olhando para trás por repetidas vezes. Não era medo, era uma sensação que eu nunca tinha sentido antes, parecia um pouco de curiosidade misturada com excesso de adrenalina. Apertei os meus passos para que pudesse chegar mais rápido em casa. Subi as escadas correndo, e quando abri a porta do meu quarto vi um vulto negro entre as cortinas. Bati a mão no acendedor.

─ Feliz aniversário. ─ Gritou minha mãe, jogando em cima da cama a chave do carro, que tinha me prometido.

Acordei assustada com o grito dela, o sol batia no meu rosto através da cortina que se balançava na sacada. Eu estava quase ofegante, não era muito de sonhar e também nunca tive um sonho tão estranho assim. Era uma manhã de domingo, calma como todas as outras, ainda sentada na cama, lembrei que aquele dia que amanhecia, fazia exatamente dezoito anos da morte do meu pai. Ele se foi no dia em que eu nasci e todos afirmam que foi um acidente provocado pelo asfalto úmido, quando ele voltava de um passeio na floresta. Apesar de ter passado tanto tempo, sentia como se minha mãe ainda escondesse muito sobre sua morte.

Eu sorri e agradeci, ela me lançou um olhar carinhoso e saiu. Eu gostava da maneira em que ela agia diante de algumas situações como essa. Jogar a chave do carro em cima da minha cama, pra mim era bem melhor do que me trazer ele com um enorme laço rosa.

Aquele dia foi muito cansativo pra mim, não sei por que minha mãe sentia tanta necessidade em comemorar meus dezoito anos. Eu não gostava muito de comemorar os meus aniversários, mas esse foi impossível de impedir. Realmente eu confesso que tive uma infância bem protegida por ela, mas a figura de um pai me fazia falta.

De vez em quando eu matava umas horas, revendo as poucas fotos que minha mãe guardava em uma caixa. Algumas delas eram do meu pai. Ao observá-las, eu imaginava como ele seria, mas nada passava da minha incrível imaginação, pois eu sabia apenas três verdades sobre ele. Que ele se chamava Henrique Ferraz, que morreu no dia em que eu nasci e que era um homem bom. Nada, além disso.

Era quase seis horas da tarde quando sai dentro de casa e fui andar pelo meu quintal, precisava ficar um pouco fora de barulho e de tantas pessoas juntas. Minha mãe conhecia gente demais, ainda bem que a maioria dos convidados era amigos dela, porque se fosse os meus, caberiam tranqüilamente no sofá da sala e ainda levando em consideração o enorme sofá que tinha em minha casa, com certeza sobraria muito espaço. Em minha pequena saída para respirar um pouco, aproveitei para dar mais uma olhada no lindo e enorme carro de cor prata que minha mãe me presenteou, eu estava maravilhada, era meu primeiro carro.

Sentei no primeiro degrau da longa escada que dava acesso a porta da frente da minha casa, para esperar a chegada de uma pessoa muito importante em minha vida, e nessa espera comecei a pensar como seria se eu tivesse o poder de decidir o dia de amanhã. Seria muito gratificante para mim, já que eu nunca confiei muito no destino, sempre quis ter o controle da minha própria vida. Acho que minha intenção sempre foi procurar diferentes modos de viver. Nunca me conformei muito com o que era normal, sempre assistia a programas e séries que me faziam sair da realidade, na verdade, eu sempre gostei de ficar fora desse mundo.

Era uma vezWhere stories live. Discover now