Não Tive A Intenção... Nem Tentei Fugir

406 45 10
                                    

Não sou sempre flor. Às vezes

espinho me define tão melhor. Mas

só espeto o dedo de quem acha que

me tem nas mãos. – Clarisse

Lispector

****

Seus olhos se perderam nos dela, ele estava hipnotizado, e nem se importava com as pessoas que o olhava, ele só queria... Olhar mais um pouquinho para ela. Ela também o olhava, mas com um ar curioso, talvez se perguntando por que ele a olhara tanto.

— Estêvão? Estêvão? – O advogado o tirou de sua hipnose.

— Sim! – Voltou os olhos para ele.

— Sente-se, vamos começar a leitura do testamento.

E assim Estêvão e Aninha fizeram. Eles não sabiam o porquê suas presenças ali, e nem mesmo os outros, mas com certeza estavam se corroendo de curiosidade, e outros de ódio.

— Bom – disse o advogado – vou começar a leitura, já que todos os interessados estão aqui. – Ele tosse, coçando a garganta, era a deixa para ele começar. – Eu, Enrico Goulart, me encontrando no meu perfeito juízo, livre de qualquer coação, deliberei esse meu testamento, como efetivamente o faço, sem constrangimento. Para Cecília, minha esposa (Cecília sorriu descaradamente) que compartilhou anos de sua vida comigo, não deixo nada! (logo desfez o sorriso o maldizendo). Para minha querida cunhada Josefina (sorriu emocionada) eu deixo as joias que estão em meu cofre forte, as joias que comprei para a mulher que um dia tanto amei, meu único e verdadeiro amor, e como ela não poderá mais recebê-las, não vejo pessoa melhor para possuí-las. Para Fernando e Sérgio, nada! Meus bens adquiridos serão dispostos a meu filho, meu único filho, Estêvão San Roman (surge um espanto na mesa, e um sorriso de canto em Maria). Ele ficará com a minha mansão, minhas casas de praia, iates e com a minha empresa. Como meu herdeiro comprovado, ele dará continuidade ao meu patrimônio. E por fim, para minha adorada Cris, como sei que você não se prende a bens materiais, eu deixo a estufa, que você tanto queria ( todos se espantam. Por que ela iria querer uma estufa?) eu assinei um documento, e agora a estufa é um local independente na mansão, que terá você como dona. Quero que você seja vice presidente da empresa e meu filho será o presidente, Cris, auxilie Estêvão no que ele precisar, porque tudo isso é novo para ele. Estêvão, confie em Maria, e faça o que ela achar certo... Ah, apesar da mansão ser de Estêvão e de minha neta Ana Lara, vocês poderão continuar vivendo nela. Caso Estêvão se recuse a receber meus bens, Cecília assume tudo por direito. É isso, desfrutem a minha morte. – Essas foram as últimas vontades de Enrico.

— Como assim? Isso não pode ser possível, Enrico não pode ter um filho! – Cecília entrou em desespero.

— Essa herança por direito é de Cecília, esse cara é um oportunista que quer se dar bem às custas de Enrico! – Se meteu Sérgio.

— Enrico escondeu um filho de nós esse tempo todo, isso só pode ser brincadeira! – Disse Fernando.

Um bando de gente desconhecida brigando por um dinheiro que... Era seu? Onde ele tinha se metido? Aliás, onde o meteram? Ele não podia ficar mais ali, estava se sentindo asfixiado com tanta raiva que aquelas pessoas transmitiam, quer dizer, todas não.

— Já chega! – Se pronunciou por fim, ficando de pé. – Eu não quero um centavo dessa herança! Quem esse cara pensa que é? Iludiu a minha mãe, e quando soube que ela estava grávida, meteu o pé na bunda dela, sem pensar que ela precisaria dele, e agora, depois da sua morte, quer pagar de bom moço, deixando seu dinheiro pra mim? Não, muito obrigado, eu não quero!

Flores De MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora