Quando chego no orfanato ouço as vozes de várias pessoas na recepção, estava começando a ficar preocupada com as consequências que eu teria que arcar.
- Rhidian, acho que é melhor você não entrar. - Diz o pai de Rhidian parado na porta.
- Por quê?
- Eles acham que ela fugiu com você e eu não estou com cabeça pra ficar levando bronca do erro que você cometeu.
Rhidian abre a boca para respondê-lo, mas acaba desistindo.
- Tudo bem, estou esperando você no carro então.
Sinto a mão do Sr Vaughan me empurrar com força para dentro.
- Espero que você já tenha uma história na sua cabeça, não é pra dizer que estava na minha casa o dia todo. - Ele sussurra no meu ouvido.
Concordo com a cabeça. Na recepção estava a assistente social, a psicóloga e mais dois policiais; eles demoram um pouco para perceber a minha presença.
- Pelo amor de Deus! Zoe, você deixou todos nós preocupados. Até chamamos a polícia. - Disse a assistente social apontando a cabeça de leve para os policiais.
- Desculpa. - Digo cabisbaixa.
- E quem é esse homem com você? - Pergunta um dos policiais.
- Eu encontrei ela, roubando comida de uma lanchonete agora de noite. - Ele diz.
- Você viu algum garoto loiro junto com ela? - O outro policial pergunta enquanto anota algo numa folha.
- Não, ela estava sozinha.
A psicóloga anda até mim.
- Rhidian Morris o nome dele, não é?
O pai de Rhidian me olha irritado como se fosse minha culpa, eles terem o nome do seu filho.
- É, mas ele foi totalmente contra a minha ideia de fugir. Ele já morou em um orfanato e disse que fugir não adiantaria nada.
- Você quer que eu acredite nisso? - Ela perguntou.
- Eu só queria voltar pra casa e tentar encontrar meu pai. - Digo o mais triste que consigo.
Todos olham para mim surpresos.
- Eu não sabia que você sentia tanta falta do seu pai.
- Ele não era muito presente, mas é o meu pai.
Parecia que eles estavam começando a acreditar em mim.
- Eu acho que mais do que nunca você precisa ocupar a cabeça. - Diz a assistente social.
De repente um vaso de porcelana cai no chão, de trás dele aparece Rhidian vermelho de vergonha.
- Espero que não seja muito caro, mas se vocês quiserem eu limpo. Sem problemas. - Ele diz olhando para toda a terra espalhada no chão.
- Não era pra você estar dentro do carro? - Pergunta o Sr Vaughan.
- Tava com muito calor.
- Você conhece ele? - Pergunta o policial com a folha na mão.
- Ele é meu filho.
- Eu só queria ver se a Zoe voltaria de boa, só isso. Eu fiz o meu pai ir para lanchonete, ver a zoe roubando e trazer ela pra cá de novo. Deveriam me agradecer. - Diz Rhidian. Ele para por um momento como se estivesse pensando em algo. - Tive uma ideia. Com minha experiência em orfanatos, sei que uma criança que foge sempre acaba fugindo de novo depois e um dos melhores lugares pra isso é a escola, porque demoram mais pra perceber sua ausência. Mas se vocês tivessem alguém pra olhar ele ou ela de perto? Alguém como eu. Sou amigo da Zoe e o quê eu mais quero é o bem dela. Porque não colocam ela na minha escola?
Olho para Rhidian e ele está sorrindo como se tivesse tido a melhor ideia do mundo.
Todos parecem pensar bem na ideia dele e gostar realmente dela, menos é claro o pai de Rhidian.
- Até que não é uma má ideia. - Diz a assistente social. - Você voltaria a estudar se fosse na escola do Rhidian?
Olho para Rhidian brava, ele tinha acabado com a chance de eu ficar sem ir para uma escola diferente. Mas ao ver seu sorriso, não consegui dizer não.
- Tudo bem.
***
Estudar na escola da cidade vizinha só tinha um problema: o transporte. O pessoal do orfanato não queria de jeito nenhum me deixar ir de ônibus, com sorte, ou nem tanto, a mãe de Rhidian se propôs a me levar e buscar.
- O que foi? - Pergunta a Sra Vaughan me olhando através do retrovisor. Pelo jeito eu não estava conseguindo disfarçar meu nervosismo.
- Não é nada. - Digo.
- Se você estiver preocupada por ter perdido mais de um mês de aula não se preocupe, eu já perdi três e não repeti de ano. - Falou Rhidian
- Não é isso... É que eu não gosto de entrar em uma escola nova. Eu não consigo fazer amizade.
- Não se preocupe, as pessoas lá não são tão ruins. - Diz Rhidian. Apesar de estar nervosa acabo rindo.
Não estava tão confiante quanto Rhidian, ele já tinha dito que todo mundo me conhecia por causa do meu desaparecimento e eu não estava com vontade de ser conhecida como a menina que acabou de perder a mãe.
Quando chegamos na escola, não estava tão nervosa como antes. Um professor já estava na frente me esperando.
— Olá! Você é a aluna nova, né? Bem vinda a sua nova escola.
— Obrigada!
— Eu sou o Sr Jeffries. Gostaria de te mostrar a escola e já te levar pra sua sala.
— Ela não é da minha? Rhidian pareceu realmente aborrecido.
— Não, Rhidian. Ela é um ano mais nova que você.
— Sério?
— Sim. - Respondi.
Depois disso, sigo o diretor até minha sala. Ela parecia com qualquer outra em que já estive, vários grupos de adolescentes alguns sentados em cima da mesa; como sempre todos viraram para mim e começaram os cochichos. Eu odiava entrar em uma escola nova, ter que fazer todo aquele processo de adaptação e interação me irritava. Nos primeiros dias eu sempre dava problema, e agora morando em um orfanato tinha medo do que poderia acontecer caso eu me metesse em uma confusão.
— Bem quero que vocês conheçam sua nova colega...
— Zoe. - Falei.
Me sentei na primeira carteira, não seria minha primeira escolha, mas era a única vazia. Neste momento começa minha nova vida.
KAMU SEDANG MEMBACA
Segredos
Manusia SerigalaTalvez tudo o quê você queira seja ser diferente ou especial, mas você já imaginou todas as consequências que isso pode te trazer? Como uma pessoa diferente das outras eu te digo sua vida pode mudar completamente de um dia pro outro, de ruim para pi...