❁ wings || kth ❁

I

🅐🅝🅖🅔🅛

Era uma manhã de outono, Alice abria a porta da sacada, saindo e fechando os olhos ao sentir o ar um pouco gelado que balançava seus cabelos escuros. Aproveitou aquele momento, mas a vista que lhe esperava fez a garota abrir os olhos, ficando boquiaberta com o tapete de folhas que se formava lá em baixo, o tronco da árvore que quase tocava seu telhado e o ninho dos pássaros que agora eram visíveis sem as folhas.

Era a última lembrança que tinha de casa.

Acordou assustada. O lugar branco com cheiro de remédio lhe dava enjoo, tentou arrumar os fios de cabelo que caiam em seu rosto, mas suas mãos estavam presas. O estrondo feito pela porta que foi fechada com muita força a tirou de seus pensamentos, uma mulher de branco entrava na sala murmurando coisas que a garota não estava interessada, queria desfazer os nós que se formavam em sua cabeça. Até que a mulher mais velha estalou os dedos na frente de seu rosto.

"Garota, eu estou falando com você" A mulher dizia, parecendo irritada com seu trabalho.

Alice encarou a enfermeira com uma expressão séria, iria iniciar as tantas perguntas que ansiavam em ser ditas e respondidas, mas a tal mulher de branco foi mais rápida. Colocou a agulha em seu braço, balançando a cabeça em forma de negação.

"Ei! O que acha que está fazendo?!" Falava tentando não falhar sua voz pela dor do líquido entrando em suas veias.

A enfermeira ignorava as perguntas da garota, que sentia a ansiedade pela resposta invadir seu corpo.

"Vamos, já que acordou eu posso te levar lá fora com os outros" A mais velha falava soltando as mãos de Alice da maca.

Recebeu ajuda para se levantar, saindo do quarto e andando acompanhada pelos corredores até a parte de fora do prédio. Aquilo não parecia ser novo para ela, apesar de não ter lembranças firmes o suficiente para garantir que já esteve ali antes.

Era um hospício.

"Junto... Com outros loucos?" Ela disse tentando parecer calma, mas o fato de ter pessoas fora de si em volta dela a deixava nervosa "O que eu fiz pra estar aqui?"

Quando percebeu que suas perguntas estavam cansativas e não iriam ser respondidas, ignorou a enfermeira e seguiu em direção aonde estavam todos. Era um jardim gigante, preenchido com flores e bancos. Em alguns lugares até mesinhas onde pessoas jogavam xadrez. Alice se sentou na grama, arrancando algumas e jogando longe, talvez espantando sua raiva.

Até que dois pés pararam em sua frente, a garota levantou a cabeça e encarou o rosto desconhecido, um menino de cabelos loiro escuro e olhos castanhos. Ele tinha um sorriso quadrado e mantinha seus olhos grudados na menina.

"Não arranque a grama, ela não tem culpa da sua raiva"

Ela ignorou o menino e voltou a fazer o fazia antes, ele se abaixou ficando na altura de seu rosto, dessa vez ele não sorria.

"Eu disse para não arrancar a droga da grama"

Ela não estava acostumada com aquele tom de voz, se afastou um pouco do menino, que riu fraco.

"Quem é você pra falar comigo assim?"

"Kim Taehyung" Ele esticou a mão sorrindo novamente "Alguém provavelmente mais velho que você".

Ela ficava confusa com sua troca de humor, mas esticou a mão também e o cumprimentou. Logo, o garoto sentou ao seu lado e automaticamente Alice se afastou.

"Não tenha medo, eu não mordo" Disse olhando em volta "E essa linda moça que gosta de matar plantas se chama..."

Ela não respondeu, mas Taehyung a olhava sorrindo como se já conhecesse ela.

"Você esta aqui porque mata plantas?" Ele brincou.

A menina revirou os olhos com o comentário. Aquilo não era coisa para se brincar, ela estava em um hospício no meio do nada sem saber o motivo.

"Não brinque com isso!"

Kim arregalou os olhos.

"Eles dizem que sou louco, mas eu acho que só sou incompreendido" Ele falou com as mãos apoiando seu corpo "Meus pensamentos são muito superiores aos deles"

Alice revirou os olhos novamente, levantando.

"Você é louco Kim Taehyung" Ela falou se afastando.

O menino fez o mesmo e correu até alcançar a garota, que suspirou fundo ao ver sua companhia.

"Ah! Não trate os mais velhos assim".

A mais nova não entendia porque ele tinha que falar tudo em um tom debochado. Estava prestes a respoder o menino quando um sinal bateu e vários enfermeiros vinham em direção a uma pessoa em especial, a mesma mulher de antes vinha com um sorriso até ela, mas Taehyung não estava mais ali.

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