•3• But he doesn't belong to me

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Passei o dia inteiro andando por Seul. Havia me acostumado a ficar o dia todo com Jimin, mas imaginei que não era bom eu voltar pra lá, pois não queria enfrentar um questionamento enorme naquele momento. Mas eu estava com tanta saudade dele... Queria ouvi-lo chamar meu apelido outra vez, como chamou tantas vezes. Lembrei de um dia em especial, em que estávamos em minha casa e ele fazia de tudo pra me irritar.

Flashback on

-Jiminnie... cala a boca, por favor, quero prestar atenção no filme- disse a ele enquanto ele cantava uma música irritante. Ele estava mais feliz do que o normal, e não calava a boca um segundo. Eu estava deitada no chão da sala e ele sentado ao meu lado de pernas cruzadas, como um indiozinho. Um indiozinho irritante e muito lindo. Pausei o filme e me sentei, o encarando enquanto ele parava de cantar e sorria pra mim.

-Oi amorzão- disse sorridente e eu comecei a rir. O que ele queria?

-Baby J, você está muito encapetado hoje. Explica pra tia o que houve - disse pegando em suas mãos e olhando em seus olhos, como se aquilo fosse caso de vida ou morte. Ele olhou para fora e abriu mais ainda o sorriso.

-Nada, apenas estou muito feliz em estar aqui com você, assistindo esse filme muito bom, que conta a história de...- parou em meio a frase, já que ele não tinha a mínima ideia de sobre o que era o filme.- Enfim, sua presença, minha cara Dama, é muito estimada por mim.- Ri da formalidade e soltei suas mãos, voltando a me deitar no chão. Ele parou por um segundo, e quando percebeu que eu já não prestava atenção nele, começou a me chamar.

-Lottie, Lottie, Lottie! Looottiieeee- fingi que não estava ouvindo e fechei os olhos, como se fosse dormir. Cinco minutos depois, senti algo em meu pescoço puxando minha pele.

-Nho nho nho nhooo nho- bati em sua mão, porém não foi o suficiente.- nhoooooooo nhonho- me levantei, ficando em pé na frente dele.

-Jimin, melhor correr ou você vai sofrer as consequências de ser um ser humano tão irritante.- quando eu disse isso, Jimin olhou assustado pra mim, logo depois fazendo uma cara tão, tão fofinha que não pude resistir. Pulei em cima dele, ficando os dois deitados no chão, e comecei a beliscar todo o seu rosto. Ele ria freneticamente, e quando vi que estava sem ar, parei para que ele pudesse respirar. Estávamos tão próximos que eu quase podia ver meu reflexo em seus olhos.

Quantas vezes ficamos nessa situação, tão perto um do outro, com uma oportunidade de fazer algo a mais e nunca fizemos? Tudo isso era medo de perder a amizade? Confesso que, em um certo momento da vida, fui muito apaixonada por ele. A ponto de fazer qualquer coisa por ele, só querer ele, e imaginar como nós dois ficaríamos juntos. Após um tempo isso passou, mas vez ou outra eu me pegava com a esperança de que ele se declarasse pra mim um dia.

Nos encaramos e ficamos ali, apenas olhando um ao outro, e de repente ele começou a se aproximar... cada vez mais perto, sentia sua respiração contra minha pele. Não me afastei em momento algum. Quando achei que ele me beijaria, senti uma mordida em meu nariz e ouvi Jimin rindo muito alto, enquanto corria para o outro lado da sala. Me levantei e comecei a correr atrás dele, e depois de algum tempo voltamos a assistir o filme como se nada tivesse acontecido.

Flashback off

Após alguns minutos sem saber o que fazer, resolvi ir até o antigo restaurante de tia Chang. Eu ia lá às vezes, sentava na calçada ao lado de fora e apenas observava o novo prédio que estava sendo construído. Era duas vezes mais alto do que o antigo e seria bem mais bonito... porém não pertencia mais a tia Chang. Ela acabou se mudando para a Inglaterra junto a seu marido, provavelmente para morar com meus pais por lá. Por falar neles, eles vieram ao meu funeral, mas não era como se sentissem tanto quanto minha tia ou Jimin, não me viram crescer e não me conheciam nem um pouco. Estava viva por todos esses anos, mas nunca descobri o real motivo de terem me mandado para a Coreia. Talvez ainda haja tempo para isso... mas para quem perguntar? Não tenho pistas e não consigo ir para a Inglaterra, Jiminnie provavelmente não sabe de nada, e se ele não sabe, duvido que outro alguém saiba.

Estava em meu caminho para o restaurante, quando vi Jungkook passar em direção ao prédio de Jimin. Não queria perder aquela visita logo hoje, seria um ótimo jeito de descobrir a reação de Jimin depois do que houve de madrugada. Assim que o garoto passou, corri atrás dele, sempre naquela distância normal. Voltamos ao prédio e ele entrou, enquanto eu subi pelo mesmo lugar por onde desci noite passada. Quando cheguei à varanda, me assustei ao perceber que Jimin não estava no quarto e comecei a criar teorias sobre onde ele poderia estar, porém todas elas foram desnecessárias já que, alguns minutos após minha chegada, ele saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura enquanto bagunçava os cabelos. Eu sempre disse a ele que ele era o menino mais gostoso que eu conhecia, porém ele nunca levou a sério porque era eu quem falava isso. Mas era a mais pura verdade, e agora vendo aquele corpinho outra vez, todas as razões de eu chamá-lo de gostoso bateram na minha cara de uma vez só. Fiquei tão distraída o vendo passar que me esqueci que ele provavelmente poderia me ver, e só me toquei disso quando ele olhou exatamente para onde eu estava, parou e começou a me encarar. Senti algo estranho dentro de mim... ansiedade? Ele estava mesmo me vendo? Eu o encarava fixamente sem saber o que fazer, quando ele começou a andar em minha direção. Parou tão perto de mim que eu pude sentir o calor irradiando de sua pele, o cheiro do sabonete do banho recém-tomado,as gotículas de água descendo pelas laterais do seu rosto. Sorri ao sentir sua proximidade. Era algo tão inédito, eu perto dele daquele jeito, que nem consegui raciocinar instantaneamente o que aconteceu a seguir. Ele continuou me olhando e sorriu, seus olhos virando duas pequenas linhas. Quando de repente ele apenas chacoalhou a cabeça e olhou para o chão, tentando afastar algo de sua mente. Deu meia volta e foi até seu guarda-roupas, enquanto eu olhava perplexa para o lugar onde ele estava há alguns segundos. Será que ele havia me visto ...mas como? Sem desespero, espanto, choro, alegria, ou sei lá, qualquer sentimento anormal? Uma nuvem de decepção pairou sobre minha cabeça.

Mas o que exatamente eu queria, que ele começasse a ver gente morta? Obviamente ele não era o garoto do Sexto Sentido ou algo do tipo, então por que, afinal, me veria? Eu nem deveria ficar decepcionada com isso, passei um ano inteiro em sua casa todos os dias e ele nunca me viu. Nunca me sentiu por perto, talvez nem fizesse questão disso. Passei tanto tempo me iludindo de que ele me veria, de que um dia as coisas pudessem voltar a ser como eram e eu e ele seríamos os dois inseparáveis outra vez... Finalmente minha ficha caiu e eu percebi que isso é impossível. Eu estou morta. Nem um corpo tenho mais, por que caralhos eu teria uma vida normal? Ah, claro, eu também não tenho vida, sou apenas uma nuvenzinha de poeira pensante que ninguém vê, ninguém sente. Jimin estava claramente olhando além de mim naquele momento, e meu cérebro retardado fez com que parecesse que o menino estava olhando diretamente para mim. Mas não, ele nunca mais me veria. Eu o amo, mas isso não vai fazer com que ele me olhe diretamente nos olhos enquanto eu estou morta. Ele não pertence a morte.

Eu o amo, mas ele não me pertence.


On The Other Side |PARK JIMIN|Where stories live. Discover now