O coração dela não é de ferro!

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    Na manhã seguinte ao sacrifício que Mira fez, Volkan se encontrava sentado no trono do salão do seu castelo, no alto de uma grande montanha de onde deslizava lava. Sua mente estava a planejar um jeito de fazer sua filha feliz antes que ela seguisse os passos de sua mãe, ele não queira perdê-la de jeito nenhum. Mas para que sua filha fosse feliz Volkan teria que fazer com que Yin Chang a aceitasse como esposa, como mulher e que ela fosse a única de sua vida.
No momento em que pensou nisso, o Antigo Rei do Reino de Kon se encontrava na sua frente com a testa franzida, e como o tempo nublado parecia que ele lhe trazia más notícias.
— Volkan... — O Antigo Rei de Kon fala, sua voz parece que se quebraria em milhares de pedaços de gelo.
— O que aconteceu, Kadar? — Pergunta com medo da resposta.
   Naquele momento ele necessitava da resposta, mas o medo da resposta lhe era como flecha a atravessar seu peito e o medo pelo destino a ser traçado pelas pétalas da Xuè Yīng ainda estava em suas veias como gelo.
— Yin Chang acordou e...
— E?
— Ele não se lembra da Mira. Acredito que o destino possa estar a quebrar um amor unilateral por parte da Mira.
— Kadar, você não entende, o Yin Chang foi o primeiro amor da minha filha, e o primeiro amor é que tem como missão decidir qual será o destino que a Mira tomará.
— Volkan, a Yuri fez a escolha dela naquele tempo, não se culpe.
— Como não me culpar? Olhar para a      Mira é como olhar para a Yuri. Não tem como as separar, ainda mais agora que estou vendo que minha filha trilhara os mesmos passos que a mãe.
— Você acha que a Mira vai se desfazer em pétalas? — Kadar pergunta, sua mente não consegue processar a informação.
    Yuri se desfez em pétalas por causa do amor que lhe parecia veneno e Mira estava entrando no mesmo estado que sua mãe...
     Quando Yuri se encontrou com Kadar pela primeira vez, Mira tinha cinco anos e estava com ela, com o vestido vermelho e sua face aristocrata, Kadar sabia que ela se tornaria uma Rainha justa e bela. Ele sabia que Volkan nunca amou a Yuri e pelo jeito ela também sabia, mas mesmo assim estava do seu lado o apoiando... Era como dizem, um Grande Homem sempre tem uma Grande Mulher do seu lado.
— Eu não acho... Eu tenho certeza! — Volkan fala se levantando do trono, sua capa desliza pelos degraus da pequena escada.
— Mira não é como os meus outros filhos, ela saiu à mãe e por causa disso eu posso dizer que se Yin Chang lhe quebrar o coração... Ela vai se desfazer em pétalas.
— Acho que nesse momento temos que fazer alguma coisa, por que se a Imperatriz das Fadas descobrir a verdade...
— Ela pode dar início a uma nova guerra! — Volkan fala enquanto suspira.
   Ele sabia que a  Imperatriz das Fadas iria dirigir sua fúria para os dois reinos se descobrisse que sua neta se desfez em pétalas...
Como sua filha!
— Temos que pensar em alguma coisa, Volkan. Não podemos apenas ficar de braços cruzados e esperar que ela venha com sua fúria e destrua o que lutamos escondidos para criar.
— Acredito que a Mira tenha sido apenas usada para me dizer que a nossa luta não é válida se uma vida importante lhe é tomada.
— Podemos fazer com que Mira se case com o Yin Chang! — Kadar fala enquanto pensa se essa é a melhor escolha, mas ele não consegue ver mais nenhuma ao qual possa se agarrar.
— Mas se ele não se lembra dela, como vamos fazer esse casamento dar certo? Eu não quero que minha filha se torne a Yuri ou pior, a Samia.
— Não fale isso, a Yuri apenas se entregou a dor enquanto a Samia só quis vingança.
— Mas como vamos fazer para esse casamento dar certo?
— Vamos encontrar uma solução, sempre encontramos! — Kadar fala enquanto olha para o horizonte.
— Sim, sempre encontrávamos, mas no trajeto sacrificamos o que nos é mais importante.
 

    Mira sabia que, seu pai a partir do momento em que ela acordou, passou a rondá-la com medo de que ela, num momento de loucura se transformasse em pétalas, sim, Volkan sentia um medo grande e animalesco ao se dar conta de que Mira estava seguindo os mesmos passos de sua mãe.
     Sua mãe... Pensar na sua mãe ainda lhe era doloroso, mas enquanto estivesse ali no jardim da Xuè Yīng ela ainda estaria ligada à sua mãe.
— Porque você está me seguindo? — Ela pergunta olhando para o lago, onde uma pequena libélula se encontrava a pousar nuns pequenos lótus.
— Seu pai me pediu, Sua Alteza! — O homem fala enquanto se senta do seu lado — E também porque eu estava preocupado com a senhorita. — Fala colocando as mãos atrás do pescoço e se jogando na grama.
— Está com medo que eu siga os mesmos passos da minha mãe! — Fala enquanto olha para o lago, um pequeno vaga-lume rodopia no ar.
— Na verdade eu tenho medo que Sua Alteza trace seu próprio caminho a partir do caminho da sua mãe!
— Hummm... Não se preocupe, eu não vou cometer o mesmo erro que minha mãe... Me desfazer em pétalas por causa de um trágico amor.
— Você não vai se desfazer em pétalas... Porque eu não vou deixar! — Osman fala enquanto Mira arregala os olhos e se vira para ele.
     Como assim? Ele não vai deixar com que ela se desfaça em pétalas? Como... A amando? Enquanto ela ama outro homem? Ela queria rir, mas sua risada ficou entalada na sua garganta porque para ela isso era como se fosse algo sobrenatural.
— Como assim? — Pergunta.
    Osman se senta na grama enquanto pensa em como pôr em palavras os seus pensamentos em relação a Mira, ele sabe que ela nunca poderia amar ele como ama Yin Chang.
— Eu posso amá-la no lugar do seu amado Yin Chang! — Fala a olhando nos olhos.
      Ela arregala os olhos sem acreditar naquelas palavras que deslizaram da boca dele. Como amá-la no lugar de outro homem? Ele não era o seu amor, então porque ela tinha que viver um “amor” que ela não corresponderia?
— Você não pode me amar no lugar dele, porque você não é ele!
— Sim, eu não sou ele, mas posso amá-la e fazê-la me amar.
— Acho que... É melhor eu ir!
     Ela se levanta limpando o tecido do vestido escarlate, as suas mãos se encontram a tremer e ela quer apenas fugir para bem longe, onde nada a faça se lembrar das dores que ela se encontrava a passar, suspirando se vira e se dirigi para o castelo de fogo... Para o seu refúgio, seu quarto.
      Nem sempre quando fazemos um desejo para Xuè Yīng o nosso desejo é realizado, bem, na verdade ele é realizado, mas do jeito dela. A Xuè Yīng sempre realiza o nosso desejo... Mas o sacrifício é grande e ela já estava pagando caro no fato de desejar que a paz e que Yin Chang tivesse a paz.
     Ele a esquecera, não tinha nenhuma lembrança dela e nem saberia quem é ela, mesmo se ela quisesse, porque o sacrifício foi esse.       O trajeto até seu quarto lhe parecia longo e cansativo, nunca em toda a sua vida esse trajeto lhe parecia tão longo como naquele dia, ela não sabia se era por causa do vestido que lhe parecia pesado ou por causa da dor que lhe cobria como uma manta. Mas enquanto andava até seu quarto no lado leste do castelo, ela pensava se poderia de alguma forma retomar aquela amizade-não-amizade com seu eterno amor, se fossem apenas desconhecidos que estavam se vendo pela primeira vez talvez fosse mais fácil, mas eles já foram inimigos declarados e ela sabia que seria essa imagem que Yin Chang teria, a única imagem dela que restava, ou seja, a imagem que os outros tinham dela não a imagem que o verdadeiro Yin Chang conhecia.
    Suspirando ela vira num corredor dando de cara com seu pai parado na porta do seu quarto, ele tem a face limpa como se tentasse transmitir uma imagem de alguém calmo, mas quem o conhecia sabia que por dentro ele estava entrando em erupção como um vulcão ativo depois de tanto tempo inativo.
— Pai, o que o senhor está fazendo aqui? — Ela pergunta enquanto olha para as suas damas de companhia que se encontram paradas de cabeça baixa ao lado do seu pai.
— Filha, podemos entrar? Preciso conversar com você! — Volkan fala enquanto com o cajado bate no chão fazendo com que uma das amas que se encontravam ao lado do mesmo se dirigisse a porta e a abrisse.
   Mira gira os olhos para aquele ato de seu pai e entra no quarto.
    Seu quarto tem uma cama grande no centro com tecidos e travesseiros escarlates, sua penteadeira se encontrava com a tiara de sua mãe em cima e umas pequenas joias que sua avó lhe deixou, se parasse para pensar, o quarto de Mira seria o quarto de uma mulher feita, mas tinha um pequeno detalhe que era infantil... Do lado da janela que dava para o jardim comum tinha uma pequena gaiola pendurada e dentro um pequeno beija-flor, que durante o dia visitava os jardins atrás de pólens e depois voltava para a gaiola.
— Meu pai, o que o senhor deseja? — Pergunta enquanto observa as suas amas colocarem em cima da cama um vestido branco, longo, com as mangas longas e rendadas.
— Minha filha, iremos a um jantar no Reino de Kon! — Volkan fala enquanto com a cabeça acena para as amas que se curvam e depois vão até Mira e a puxam para uma divisória de biombo que se encontrava do lado esquerdo do quarto.
— Num jantar? — Ela pergunta e deixa que as amas lhe tiram o vestido que antes lhe sufoca.
— Sim, fomos convidados para um jantar muito importante.
     Volkan, depois que falou vai até a gaiola de ouro e fica a brincar com o pequeno beija-flor que sua esposa deixou com Mira, mesmo sabendo que Yuri ainda protege a sua amada filha, ele ainda teme rque as escolhas que tomará a partir de agora sejam as mais dolorosas para sua filha.
— Sim, vamos no jantar de coroação do Yin Chang.
— Como? Espera... — Mira dá um tapa na mão da ama que está penteando seus longos cabelos negros e sai de trás da divisória apenas com uma fina e delicada camisa longa de tecido vermelho.
— Sim, o Yin Chang foi escolhido para representar o Reino de seu pai.
— Mas pai... Ele mal fez o acordo e voltou a ser quem é.
— Eu sei, mas o Kadar e eu estamos preocupados com o que ele possa fazer, não é apenas pelo fato dele ser um dos únicos imortais mais poderosos que existem, mas porque ele pode escolher uma das princesas e unir forças.
— O senhor está com medo dele algum dia virar as costas para os Reinos e unir forças com algum inimigo?
— Sim.
— Então o jantar não é para a coroação dele, mas sim para que vocês possam saber quem ele vai escolher? — Ela pergunta, sua voz parece que se quebraria a qualquer momento. Quando se deu conta que choraria, se dirige para a divisória e encontra as amas ajoelhadas no chão a aguardando — Podem continuar.
— Sim, Kadar acha que mesmo que ele tenha voltando a ser quem é ele ainda é misterioso e frio.
    Mira tenta manter as lágrimas escondidas, mas não consegue, suas lágrimas deslizam pela sua pele e as amas, ao se darem conta que a princesa está chorando, tentam não prestar atenção, mas não tem como... A forte e guerreira princesa do Reino de Umlilo está chorando? Elas começam a tirar a fina camisa da princesa de cabeça baixa enquanto ela morde o lábio para reprimir um soluço que, com certeza cortaria o coração daquelas mulheres que viviam a cuidar da princesa.
— Minha senhora, preciso que me deixe cuidar de seus cabelos! — Uma das amas fala com a cabeça baixa para que a princesa não veja em seus olhos o quanto a dor dela lhe parece uma adaga.
— Sim, pode cuidar deles. — Mira fala enquanto se dirige para um pequeno ofurô, que em seu interior possui nas águas pétalas, do qual exala um delicioso cheiro de rosas.
     Ela entra no ofurô e joga seus cabelos para fora, enquanto uma das amas penteia seus cabelos, a outra pega um pequeno frasco e despeja o líquido nas mãos e passa a fazer uma massagem na princesa, que parece não estar prestando a devida atenção, fazendo com as amas troquem um olha preocupado.
      Mira não conseguia pensar em nada, apenas que se seu Yin Chang escolhesse outra mulher no seu lugar, ela seguiria os mesmos passos que sua mãe trilhou, então, num momento em que sua dor lhe era insuportável, ela decidiu que o conquistaria, nem que para isso fosse preciso usar de seus dotes femininos.
— Me deixem bonita o bastante para que o brilho das paredes do castelo fiquem ofuscadas! — Ela fala com um olhar determinado, algo que fazem as amas se lembrarem de uma antiga história que rondava pelo castelo... A mãe da princesa tinha dito as mesmas palavras quando foi conhecer o Rei de Kon e bem, a amante do seu marido também.
— Sim, sua alteza!

    O Antigo Rei do Reino de Kon estava na sacada a olhar a aurora boreal enquanto pensava se devia ter dito para o Yin Chang a verdade em relação Mira, mas sabia que não podia se envolver, já que o destino foi mudado.
— Meu pai, o senhor tem que se arrumar! — Ele ouve alguém falar e se vira.
     Ao se virar encontra Yin Chang com as roupas do Reino de Kon o olhando, suas roupas eram brancas com pequenos bordados dourados, a calça branca parecia grudar contra suas coxas, enquanto a camisa quase da cor de gelo lhe destacava os músculos, que eram ocultados pela longa capa branca, que nos punhos possuía bordados dourados que se destacavam.
— Sim, mas estou aqui apenas pensando em como você cresceu muito rápido, meu filho!
— Meu pai, tive que crescer se quisesse viver!
— Eu preferia que você ainda fosse um pequeno menino a correr atrás do seu irmão, não um homem que já perdeu tantas coisas antes de uma tenra idade. — Kadar fala, seus olhos parecem tristes.
      Ele se lembra da mãe do Yin Chang, que sacrificara tudo que tinha por uma vingança que lhe cegara os olhos e a fizera deixar o filho sozinho, Kadar vira para olhar a aurora boreal e coloca as mãos atrás das costas. Yin Chang ao ver seu pai na posição de um homem sábio se põe ao lado dele e passa a observar a aurora boreal.
— Sabe, meu filho... Às vezes temos que fazer sacrifícios que nos sãos dolorosos.
— Sim, eu sei meu pai!
— Espero que você faça uma escolha sabia no dia de hoje e seja muito feliz.
— Meu pai, o senhor tem algum conselho a me dar?
     Kadar olha para Yin Chang e vê que seu filho ainda tinha algo de quando ainda era um jovem rapaz, sorri e passa a mão em seus cabelos, fazendo com que Yin Chang sorrisse e olhasse para ele com um olhar de filho.
— Posso apenas lhe dar o seguinte conselho... Siga seu coração que saberá fazer as escolhas certas, mas lembre-se sempre que o seu dever é com seu povo, precisa encontrar a mulher que, além de princesa, é uma guerreira que lutará com você no campo de batalha para proteger aqueles ao qual vocês têm como dever proteger.
      Depois de dar o conselho, Kadar se vira para frente e passa a pensar se Yin Chang poderia chegar a amar Mira, já que o destino de várias pessoas, não apenas dele ou do Volkan se encontravam nas mãos da jovem princesa do Reino de Umlilo.
      Kadar e Volkan acreditavam que aqueles dois jovens poderiam sim ficar junto, mesmo que o destino deles não fossem ficar juntos, eles um dia poderiam em fim viver aquele amor unilateral que Mira tinha pelo Yin Chang?
       Bem, talvez fosse possível se não fosse por uma pessoa, uma princesa que de boba só tinha mesmo a cara, Derya estava escondida atrás de um pilar perto da sacada ouvindo a conversa dos dois, ela sabia que se quisesse ser um dia uma rainha, que teria o seu reinado por vários e vários anos, teria que colocar as mãos no mais poderoso dos reis e que a partir daquele momento esse seria Yin Chang e que em breve seria imperador do Mundo Imortal.
      Sabendo que a partir daquele dia ela teria que usar todo seu charme de donzela em perigo para fazer Yin Chang a ver como uma rainha não daria certo e que o Rei do Reino de Kon está já fazendo uma indicação de princesa, ela tomaria medidas drásticas, usaria todo o seu poder de princesa de confiança para fazer a cruz daquela que é a mais indicada.
      Derya desde de muito pequena ouvia que um dia seria uma rainha, uma das rainhas mais belas que existia no mundo imortal, até que conheceu Abhay e se apaixonou pelo príncipe de Kon, fazendo dele o seu Rei Poderoso, aquele pelo qual ela seria capaz de tudo, e bem, ela tinha algo dele... Apenas a amizade, já que ele se encontrava tão apaixonado por uma mortal, uma simples mortal que de nada tinha apenas uma espada e uma arma. Derya, ao se dar conta de que Abhay nunca a amaria tinha pensado em fazer de tudo para tê-lo, mas no momento em que Yin Chang foi declarado o Rei mais poderoso que existia, seus olhos se voltaram para ele. Ela queria ele apenas por causa do poder e o status de mais poderosa e bela rainha que se tinha notícia.
      Sorrindo ela sabia que lhe escolheria, ela era a imagem clara de uma rainha, uma mulher que abaixaria a cabeça quando ele falar e faria o que ele falasse para fazer, mas por trás estaria planejando fazer daquele reinado único.

A corte da Ganância- 1º livro da Trilogia Palácio (Degustação)Where stories live. Discover now