Um grito desesperador reverbera pela vila. Scarlet senta na cama de uma só vez, seu coração bate agitado pelo despertar apressado e um suor frio desce por sua nuca, mesmo com o tempo frio que faz ainda pela manhã.
Latidos fortes podem ser ouvidos e ela se levanta apressada, enfiando suas botas em seus pés descalços e indo em direção à porta.
- Scarlet! Não pode sair, deixe que estou indo! – Diz Camélia, que caminha com dificuldade em direção à porta da casa.
Ignorando a mãe, ela veste sua capa escarlate e apanha sua faca e o arco e flecha.
Ainda que o dia estivesse frio como estava e o sol ainda se espreguiçando nas colinas à distância, Scarlet sabia bem o mal que ele poderia lhe fazer. Ela cobre até mesmo seu rosto da claridade e anda apressada no sentido dos latidos que estão se tornando menos frequentes e mais distantes.
Scarlet caminha com uma flecha segura junto ao arco, apesar dele estar apontando para baixo. Não demora para que ela chegue a uma casa facilmente identificável das demais por sua porta arrombada. A madeira fora estraçalhada, como se fosse feita de meros gravetos. Há um choro contínuo vindo de dentro da casa e Scarlet avança com cautela. Ela sabe a quem pertence essa casa, assim como a todas as outras da vila.
- Olá! – Ela diz, enquanto passa pela soleira da porta e retira o capuz.
Dentro da casa está abafado e escuro, por causa da falta de hábito dos seus olhos com a claridade lá de fora. Mesmo antes de seus olhos se habituarem, o cheiro adentra suas narinas, impregnando tudo. Cheiro de sangue, sangue fresco.
Aos poucos seus olhos se habituam a luz da casa e ela percebe o rastro de sangue que fora deixado no caminho até a porta, onde ela está parada.
Sua respiração está apressada e ela tenta controla-la o melhor possível para que ela pare de atrapalhar seus ouvidos, que já contam com a batida de seu coração como se ele fosse saltar de seu peito.
O rastro de sangue segue até um pequeno quarto. A primeira cama que está visível está desarrumada e vazia, mas ao olhar para o outro lado, ela vê uma mulher deitada, com parte do corpo para cima da cama e parte no chão, como se tivesse caído ao se levantar. Seu sangue colore a cama, suas roupas, seus cabelos encharcados. Seu pescoço está estraçalhado, como se tivesse sido golpeado inúmeras vezes, "não, não golpeado, mordido", ela logo corrige seus pensamentos.
A face da mulher está virada para baixo e, só então seus ouvidos voltam a escutar. Um rapaz jovem está agachado próximo ao corpo, chorando com todo seu corpo e segurando um menino junto dele.
- Tamai... – Scarlet se ouve dizer, deixando o arco no chão e levantando uma de suas mãos, na direção dele.
Tamai levanta a cabeça e a encara. Nos poucos segundos que leva para reconhece-la, sua expressão muda, tornando-se irada. Ele se levanta de uma só vez, fazendo com que o irmão chore ainda mais forte, tentando alcançar o corpo da mãe.
- Isso é sua culpa!
- Tamai, me escute! Quem fez isso? – Scarlet pergunta com a voz trêmula e os olhos já marejados.
Nesse momento, dois homens adentram o pequeno quarto, um deles não suportando a visão do corpo e se retirando em corrida para fora da casa. Um deles é o representante da guarda da rainha que fica na vila e o outro, seu aprendiz.
- Minha nossa! Essas criaturas precisam ser detidas. – Ele diz, mais extasiado pelo momento do que realmente preocupado com a morte de uma mulher.
- Isso é sua culpa, sua meretriz! Você trouxe a desgraça para vila com aquele assassino! – Tamai começa a falar. O guarda vai até ele e tudo que Tamai faz é jogar o irmão para cima do guarda e partir em direção à Scarlet, que começa a dar passos hesitantes para trás.
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Scarlet - A Garota da Capa Escarlate (COMPLETO)
Short StoryExistem contos de fadas sem magia? É a partir desse ponto que a história da Chapeuzinho Vermelha foi reescrita, tirando o elemento 'x' dos contos de fadas: a magia e trazendo elementos do tradicional contos em uma versão mais adulta e levemente pica...