XXXIV - O primeiro dia

58 4 6
                                    

"Os braços e os ombros latejavam de dor enquanto observava o horizonte. Ficou impressionada com a beleza da paisagem."

in A Conspiração de Augusto, Nagle, A., Editorial Estampa, 2006



No dia seguinte, ou algumas horas depois pois não havia um nascer do sol para decidir o correr do tempo e separá-lo entre dia e noite, tudo parecia menos complicado. Tinha dormido o suficiente para relativizar todos os meus problemas. A presença de Luke Skywalker do outro lado da porta do meu quarto contribuía também para a minha paz e felicidade.

Quando chegámos ao abrigo estava à nossa espera uma refeição, mais chá de fygre, roupas novas para mim sobre a cama. Um conjunto azulão e cinza de calças e jaqueta, complementado com uma blusa clara e roupa interior lavada. De onde Iko desencantara todos aqueles mimos, perfeitamente adequados às nossas necessidades mais prementes, era um mistério, mas desconfiava que o mestre Eilin estava por detrás das dádivas e se o cavaleiro Jedi não as estranhava, nem fazia perguntas sobre elas, era porque julgava o mesmo. Confiei que ele agradecesse secretamente ao pequeno ser divino e que o fizesse em nome dos dois.

Após ter tomado um banho escaldante, que me amoleceu os sentidos e preparou-me para desligar o corpo, Luke cuidou dos hematomas do meu rosto, usando unguentos que Iko lhe trouxera num tabuleiro. Não havia bacta, mas aquilo servia perfeitamente, explicou-me o Jedi enquanto humedecia uma ligadura que depois passou no meu lábio e na face, junto ao olho esquerdo. Ardeu-me, mas não me queixei. A dor fazia parte do processo de cura. Evitei, o máximo que pude, os olhos de Luke que se impregnavam de ternura, daquela bondade que lhe era inerente.

Bebi um pouco de chá, comi qualquer coisa, mas não tinha muita fome. Encostei-me a uma parede da sala enquanto Luke foi, por sua vez, refrescar-se. Iko espreitava-me, de vez em quando, verificando o meu estado. Recordo-me de lhe ter sorrido, de ter ouvido a água a correr na casa de banho e de ter adormecido. Ao espreguiçar-me descobri que estava na cama e que o silêncio reinava dentro do abrigo. O cavaleiro Jedi tinha-me enfiado debaixo dos cobertores. Levantei-me, entreabri a porta. Vi-o a dormir com Iko no tapete, o monstro passava um braço por cima dele. Sorri com aquele quadro de cumplicidade inocente. Regressei à cama e terminei aquilo que seria uma espécie de noite retemperadora de sono.

O treino que me iria converter num Jedi podia começar.

Fiquei a saber que o mestre Eilin tinha decidido com Luke Skywalker que os meus ensinamentos iriam decorrer em lugar diferente do lado sombrio de Luyta. O planeta era inóspito e demasiado monótono, com uma noite perpétua e uma grande parte da superfície coberta por uma densa floresta. O espaço não se apresentava como o melhor para que desenvolvesse os exercícios que devia realizar para aprender a servir-me da Força. A parte iluminada também não era adequada, pois devido ao sol permanente estava coberta por um extenso deserto, desprovido de água, onde as temperaturas elevadas eram insuportáveis, mesmo para alguém natural de Tatooine. A opção foi para uma das luas que orbitavam aquele mundo. Era crucial que nos mantivéssemos perto do mestre Eilin, que assim nos podia continuar a proteger e lançar avisos quanto às movimentações de Kram.

Luyta possuía três satélites naturais, sendo dois deles densamente povoados, com cidades desenvolvidas tecnológica e comercialmente. O terceiro era uma pequena lua de paisagens aprazíveis, mas privado de população fixa. A única construção que aí existia era um entreposto comercial de má fama, que acolhia muitos dos contrabandistas que faziam os seus negócios no lado sombrio de Luyta. Por albergar tantas personagens duvidosas, nunca se desenvolvera uma colónia estável nessa lua, o que a tornava num sítio sossegado e discreto. O mestre Eilin aconselhara Luke Skywalker a seguir para essa terceira lua e que levasse Iko para nos acompanhar. A criatura dos lagos Kendon fora designada para me proteger e não poder cumprir a sua missão deixava-o deprimido. Além disso, conhecia o esconderijo de uma nave espacial, situado na antiga base imperial, e que teríamos de usar para alcançar a lua. Se entretanto não tivesse sido descoberta pelas tropas de Kram que se tinham apoderado do complexo e que patrulhavam os corredores de saída do planeta, em busca dos fugitivos que o seu senhor tão encarniçadamente perseguia.

A Criação da LuzWhere stories live. Discover now