Prólogo

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"Já conheceu um idiota? Desses que entorta os lábios em um sorriso cínico e te olha como se você fosse um nada?"

Antes de ganhar uma vaga como estagiária na biblioteca municipal da cidade, Kendra Bennett teve a oportunidade de mergulhar no mundo dos livros. Era uma paixão que mantinha desde os seus oitos anos de idade. Cresceu vendo sua mãe, uma amada professora de língua portuguesa, ensinar aos seus alunos do primário a importância da literatura nos dias de hoje. Não poderia contar nos dedos todos os títulos que passaram por suas mãos e, mesmo assim ela queria mais. Queria explorar todo esse universo que a literatura proporciona, precisava estar em contato com os livros vinte e quatro horas do dia, ou ao menos, metade dele.

Não quis fazer faculdade ou se especializar em alguma coisa, só queria trabalhar com algo que a envolvesse no mundo dos livros e por quê não a biblioteca? Que outro lugar melhor que esse? Antes de qualquer coisa, Kendra teve que fazer uma mini prova ainda que não soubesse qual seria a finalidade dela mas, acreditava que fosse para testar seus conhecimentos sobre a literatura. Para saber o quanto ela conhecia sobre os livros. Seus pais a apoiaram em todas as decisões que tomava, não pegavam em seu pé para que se especializasse em algo, tiveram orgulho quando viram a filha passar em primeiro lugar naquela mini prova e até mesmo ousaram dar-lhe uma chave de presente.

Uma moto. Essas bizz de 125 cilindradas na cor lilás. Poderia afirmar que foi amor à primeira vista. Desde que tirou sua carta ela ainda não havia conseguido o dinheiro para comprar uma condução e ter ganho de presente foi algo mágico.

Foi bem recebida na biblioteca, até poderia afirmar que sentiu-se em casa. Dividia seu trabalho com um rapaz que apreciava música, passava cada segundo com seus fones no ouvido e sempre estava alheio a qualquer assunto. Isso no fundo era bom para ambas as partes, o lugar permanecia tranquilo e sua paz também. Bom, eles tinham suas regras, qual biblioteca não tem? Não eram muitas na verdade mas, a principal era uma que estava escrita em uma plaquinha branca, com letras em vermelho e esparramada por cada sessão do lugar. Faça silêncio!

Às vezes quebravam essa regra, mas isso só acontecia quando milagrosamente Joãozinho — o rapaz que apreciava músicas —, tinha algo para contar. Alguma coisa relacionado aos seus encontros fracassados. Ele fazia questão de afirmar que nenhum homem da cidade prestava, afirmava o quanto queria conhecer outros lugares e encontrar sua outra metade.

Kendra por sua vez, sempre preferiu os personagens dos livros como a sua outra metade, talvez, até sonhasse em encontrar por entre as prateleiras o seu príncipe encantado. Fã número um de romances impossíveis e amores não correspondidos, ela dividia sua imaginação com cenas férteis de livros.

Até imaginou a cena.
Ela ali reorganizando os livros pela segunda, talvez terceira vez no dia, distraída enquanto se concentrava em alguns títulos e então, algo lhe chamaria a atenção. Um rapaz, talvez mais velho, bem apresentável e com os olhos pregados na prateleira. Passando os dedos calmamente pelos títulos a fim de encontrar o eleito, Kendra se aproximaria — não saberia dizer  se teria coragem de verdade, mas não lhe custava nada sonhar. — daria um sorriso amigável e puxaria um assunto. Relacionado aos livros, claro. Daria sua opinião e indicaria um dos seus preferidos. Talvez, perguntasse antes qual o gênero que ele gostaria de ler, mas ainda assim, daria sua sugestão. Ele aceitaria. Sorriria. E como forma de agradecimento a convidaria para um jantar.

É, Kendra sempre teve esse tipo de imaginação fértil. Joãozinho vivia dizendo que ela deveria descer das nuvens e se jogar na nigth. Que a vida de verdade era aquela fora dos livros e que ela estava bem longe de ser uma história de contos de fadas.

— Sabe? Achar um homem de verdade. Dar uns beijos de verdade. Viver de verdade! — ele disse uma vez. Ficou chateado por Kendra ter preferido ir para a casa terminar seu livro do que ir ao clube com ele. Não era nada pessoal. Só que eles tinham preferências diferentes.

O Destino EscreveuWhere stories live. Discover now