Capítulo 13

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Sam começava a se preocupar com a possibilidade de levar o primeiro toco de uma garota em toda a sua vida, quando as portas automáticas do shopping se abriram e Diana passou por elas. Ela estava com uma roupa casual e não demorou muito para localizar com os olhos a mesa da praça de alimentação em que Samuel estava sentado.

- Então, quais são as opções de filmes?

Ela perguntou, parecendo completamente a vontade. Sam não esperava que ela fosse tão direta. Ele havia escolhido sua roupa mais sexy e exagerado no perfume, mas ela parecia não se importar, com seus All Stars surrados e seu cabelo rebelde.

Sem jeito, ele indicou com o dedo os filmes em cartaz. Acabaram por escolher uma daquelas comédias românticas das quais não se espera muita coisa. Diana insistiu em pagar seu próprio ingresso, mas Sam comprou pipoca e refrigerante.

- Então, sempre convida suas patroas para o cinema? - Perguntou Diana, enquanto andavam lentamente na fila que entrava para a sala de exibição.

Sam se perguntou se ela se divertia com a ideia de ser "patroa".

- Na verdade, eu não estou muito acostumado a trabalhar para alguém. Escritores são meio autônomos.

- Sério? Não tem muita pressão da editora ou coisa assim? Achei que você fosse a galinha dos ovos de ouro da literatura nacional!

Ele deu um meio sorriso.

- Sim, tem um pouco de pressão - Disse, lembrando-se de Rita - Mas eu me saio bem. Sempre cumpro meus prazos com bastante antecedência.

Samuel empalideceu. Um homem vinha em sua direção, acenando freneticamente. Ele sabia quem era.

- Sammy! - Disse Ricardo, se aproximando - Porque não me avisou que vinha ao cinema?

Sam estava sem palavras. Não esperava ser visto com Diana por ninguém. Deixou-se abraçar por Ricardo, enquanto sentia o rosto corar de vergonha.

- Er... Ricardo, essa é Diana Siqueira... Diana, esse é meu amigo Ricardo.

Eles apertaram educadamente as mãos.

- Diana, heim? - Disse o amigo - Sam me falou de você.

Samuel engasgou, enquanto Diana lhe lançava um olhar fuzilante.

- Espero que coisas boas - Ela retrucou, sem perder a compostura.

- Ah, claro! - Mentiu Ricardo. Pelo menos ele era bom nisso. - Coisas ótimas! Bom, vou deixar vocês sozinhos... Me liga, Sam!

Ele deu um tapinha complacente no ombro de Sam e se afastou, apressado.

- Samuel, eu pedi discrição. - Diana falava baixo, mas Sam podia perceber que estava furiosa.

- Eu fui discreto! - Ele argumentou.

- Não pareceu.

- Eu não contei pra ele que... Eu menti... Eu disse que... - As palavras saiam forçosamente.

- Disse o que? - Ela quis saber.

- Eu disse que a gente estava saindo - Soltou Sam, e só percebeu a mentira que tinha falado quando ela já pairava pelo ar.

E Diana ficou corada. Instantâneamente. Sem jeito, desviava o olhar freneticamente como quem tenta acompanhar um jogo de ping pong.

- Isso vai ferir sua reputação. Sair com alguém como eu. - Diana disse, entregando o ingresso para a funcionária do cinema.

- Do que você está falando? - Perguntou Sam, mas ela não respondeu. Não precisava. Sam sabia extamente ao que ela se referia. Qualquer pessoa que olhasse Diana Siqueira e Samuel Oliveira juntos, saberia ao que ela se referia.

O filme transcorreu em silêncio. Sam, periodicamente, dava uma olhada para a poltrona ao lado afim de verificar que Diana estava acordada. Ela não riu nos momentos engraçados e não chorou nos momentos emocionantes. As vezes ela parecia nem respirar. Sua pipoca estava praticamente intocada, mas os olhos estavam vidrados na tela. Samuel se perguntou se estaria morta.

- É um bom filme. Clichê, mas bom. - Disse Sam, enquanto saiam do cinema.

Diana apenas concordou com a cabeça. Ela caminhava rapidamente, e Sam tinha que apressar os passos para alcança-la.

- Você quer comer alguma coisa? - Ele perguntou, em uma tentativa desesperada de puxar assunto.

Ela parou repentinamente e se virou para encará-lo. Em seu rosto havia seriedade.

- Escuta, Samuel. Você não precisa fazer isso, ok? Você não precisa sair por aí comigo e... Ser visto comigo e inventar mentiras constrangedoras para os seus amigos! Você só tem que escrever sobre mim, não precisa ser legal nem nada assim... Isso não está no seu contrato!

Os lábios de Diana tremiam ferozmente, e uma mecha de cabelo revolto caia sobre sua testa.

- Mas eu quero... - Respondeu Sam, sem hesitar - Eu quero sair com você. Você é uma boa companhia.

A expressão de Diana anuviou por alguns segundos, depois voltou a mais completa fúria. Ela rumou para frente e disparou no dobro de sua velocidade normal.

Samuel se precipitou, agarrando-a no braço direito.

- Espera aí! - Ele disse, já nervoso - O que aconteceu?

Piscinas de lágrimas começavam a se formar em seus olhos e tremiam a medida que ela as segurava para não cair. Quando falou, sem tom era controlado o suficiente para não chamar a atenção de ninguém, mas repleto de mágoa.

- Ninguém, nem uma vez na vida, quis ficar em minha companhia só porque era agradável. Ninguém. E você quer que eu acredite que justamente você, o playboyzinho famoso que desfila pela cidade com loiras peitudas posando para a imprenssa e pra quem "por acaso" eu estou pagando R$ 15.000,00, quer a minha companhia? Simplesmente por querer?

E então, a ficha de Samuel caiu. Ela achava que ele estava dando em cima dela! Interpretara que Samuel encarava os R$ 15.000,00 como um pagamento por um programa ou algo assim. Geralmente, Sam se sentiria ofendido. Mas eram R$ 15.000,00. Certamente ele não queria passar a impressão de que era um garoto de programa, mas com certeza seria mais fácil extrair informações de Diana se ela imaginasse algumas coisas...

Até que ponto Samuel iria para garantir seus luxos?

- Eu gosto de você. - Ele disse, e as palavras sairam de sua boca como um mentiroso profissional. - Eu realmente gosto de você.

Ele afrouxou a mão e Diana soltou o braço. As lágrimas sumiram de seus olhos e seu rosto passou para a mais completa confusão.

- Você não pode estar falando sério... - Ela disse, mas Sam viu em sua expressão que ela queria que fosse verdade. Talvez Samuel estivesse fazendo um favor para Diana. Fazendo-a sentir desejada.

Ele deu um passo para frente e seu rosto estava perigosamente perto do da garota. Ele podia ver seus olhos brilhando.

Então, como se um encanto se quebrasse, ela desvincilhou o olhar e saiu a passos largos pela praça de alimentação do shopping.

Samuel não a seguiu. Deixou que a garota se afastasse, esperando profundamente que nunca mais voltasse a vê-la.

Nem todo o dinheiro do mundo valia tanta loucura.

Do jeito que eu souOnde histórias criam vida. Descubra agora