Capítulo Vinte

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Vovó Halstead foi uma mulher absolutamente incrível. Comandava com punhos de aço a parte das empresas que lhe cabia, parecendo ter uma força incansável que a fazia mais eficiente do que qualquer um com menos idade. Além de inteligente, ela era muito sábia e sempre tinha uma palavra ou outra para dividir. Uma vez, quando tinha cerca de treze anos, não lembro ao certo as circunstâncias, ela me disse algo de que nunca esqueci:

"Felicidade, aquela de verdade, que aquece nossos ossos, é frágil, cristalina; é algo que você tem que cultivar dia a dia, senão ela se desintegra como um copo caindo no chão, e não importa quantas vezes você remende as coisas, ainda pode ver a cola entre os cacos."

Eu não era alienada. Já havia levado muito golpes da vida e observei, impotente, quando o sentimento bom que julgava ser sólido se despedaçava como alguém atirando uma bola de ferro contra uma janela. É verdade que isso não aconteceu muitas vezes, porque a cada ano engrossava ainda mais a capa de proteção que construíra para não me sentir vulnerável, mas quando aconteceu foi como assistir cada pedacinho de tudo que acreditava ser estraçalhado.

Chegava a ser tragicamente peculiar como nunca via esse tipo de destruição chegando. Supunha que existiam sinais de que algo tão... impactante estava para acontecer, mas também era razoável acreditar que estava cega demais para os avisos no caminho. Literalmente vendo o mundo com óculos cor de rosa até tropeçar na realidade e cair de cara no chão.

Deveria ter imaginado que nada poderia ser tão bom... que logo eu estaria caindo.

Mas, não.

Não previ que mais de quatro meses de felicidade iriam evaporar tão rápido e de maneira tão fulminante.

O dia em que esfolaram meu rosto no chão foi vinte e sete de dezembro, dois dias depois de voltarmos de Manchester.

– Babe? Zayn? – chamei, entrando em casa. – Ufa – o alívio em meus braços foi imediato ao soltar as sacolas sobre o sofá.

Franzindo o cenho, analisei os vergões vermelhos que elas deixaram em meus braços. Talvez por estar sentindo pena da pele sensível de meu antebraço, não percebi meu namorado se aproximando.

– Zayn! – dei um pequeno pulo no lugar ao levantar a cabeça e encontrá-lo tão perto. – Você me assustou. Conseguiu falar com a sua mãe?

Ao invés de me responder, contudo, Malik continuou parado no mesmo lugar, muito sério. Decidida a ignorar seu mau-humor, que certamente provinha de um cochilo interrompido, abaixei-me sobre as sacolas para procurar o embrulho que queria lhe mostrar.

– Você tem que ver o pres-

– Onde esteve?

Seu tom de voz duro como gelo deveria ter sido a primeira dica.

– -sente que eles compraram. Ahá! – disse finalmente encontrando a caixinha vermelha sobre as roupas recém-adquiridas, voltei a me endireitar.

A segunda dica, o jeito fixo como ele olhava para minhas sacolas.

Onde esteve?

Franzindo o carro, coloquei a mão livre em minha cintura.

– Zayn, babe, que aconteceu?

– Onde você esteve? – deu um passo para trás em resposta ao que dei para me aproximar. – Aliás, não responda. Eu sei exatamente onde você esteve. O mundo todo sabe.

– O quê?

A situação era tão bizarra que cometi o erro de rir em meio a minha pergunta, o que fez com que a postura de Zayn endurecesse ainda mais.

Meio AmargoWhere stories live. Discover now