Capítulo 6.

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"My world has gone to pieces."


Abrir os olhos e encarar aquele cômodo caindo aos pedaços me dava náuseas. Puxei o ar com força. Consegui sentar-me na cama e percebi que a TV ainda estava ligada. Pelo programa que passava eu sabia que já era quase hora do almoço. Eu tinha dormido bastante.

– Quer comer algo? – Me assustei com a presença repentina de John. Eu não havia escutado nenhum sinal dele na casa. Balancei a cabeça em forma positiva e ele me liberou das amarras. – Quer café da manha atrasado ou almoço adiantado? – Um quase sorriso apareceu em sua boca.

– Almoço adiantado. – Respondi sem vontade. Eu não tinha fome para nenhum dos dois, porém ficar sem comer seria estúpido da minha parte. Não posso me dar ao luxo de escolher quando minhas refeições vão acontecer e nem o que comerei. Sentei-me a bancada e observei John. Seu rosto estava marcado pelas olheiras enormes abaixo de seus olhos verdes e sua expressão demonstrava cansaço extremo. Ficar chapado tinha suas consequências. Das mais leves até as mais graves. Ele estava limpo e com os cabelos ligeiramente arrumados, mas ainda assim mantinha a aparência geral de acabado. Notei pequenos arranhoes em suas costas largas expostas pela falta de camisa e machucados nos punhos. Imaginei que ele tivesse se debatido contra a parede e a socado. Algo assim. Ele se virou e percebi que na lateral de seu abdômen haviam algumas marcas vermelhas começando a se tornarem roxos hematomas. Ele havia se socado? Eu não poderia saber ou perguntar. A arma na cintura de seu moletom cinza me fez arrepiar. Com os olhos ele chamou minha atenção. Pigarreei envergonhada por espiá-lo. Mesmo que meus pensamentos não fossem nada pervertidos ele poderia pensar que eram. Minhas bochechas começaram a queimar. Desviei meu olhar dele e encarei a bancada velha.

John ignorou-me e jogou um prato para mim. Cutuquei o pedaço de pizza e fiz uma careta.

– É o que tem. – Falou antes mesmo que eu questionasse.

– De que século é essa pizza?

– De ontem! Fiquei com fome durante a madrugada. – Ele se recostou na geladeira e tomou um gole de suco de laranja direto da caixinha.

– Você nem dormiu, não é?

Ele se recusou a responder. Deu mais um gole no suco e me encarou como se não me devesse explicações. Fiquei irritada. Em alguns momentos ele realmente se esforçava para me agradar e cuidar de mim, em outros simplesmente me tratava com indiferença. Tão contraditório. Decidi então que ele merecia meu desprezo também. Afinal, ele tinha tirado de mim minha liberdade. Não merecia nada além de repulsa da minha parte.

Aproveitei um guardanapo e caneta que estavam jogados em cima da bancada e comecei a rabiscar algumas coisas enquanto beliscava a pizza vagarosamente. Algo parecido com um homem e uma borboleta saíram no papel. Senti falta dos meus desenhos. Queria tanto ter minha vida de volta.

– Estou pensando em umas modificações no quarto... – Puxou assunto. Não fiz questão de olhá-lo ou responder. – Pra te deixar mais confortável.

– Já terminei. Vai me amarar agora ou posso ir ao banheiro primeiro. – Terminei o papo antes mesmo dele começar. O que poderia me deixar confortável naquele lixo de quarto? Nem um milagre.

Ele com certeza estranhou minha rispidez, mas não falou nada. Entendi o silencio como uma falta de objeção e fui para o banheiro. Enrolei um pouco e voltei para o quarto. Esperei que ele viesse me amarrar e assim ele o fez.

– Vou sair. Não sei se vou demorar.

O tempo passava vagarosamente. Os programas e filmes na TV pareciam intermináveis. Já devia ter escurecido a essa altura e meu estomago roncou vazio. Eu só tinha comido um pedaço de pizza. Lamentei pensando nas minhas antigas refeições. Comida de verdade já que eu sabia me virar na cozinha.

DARK PARADISEWhere stories live. Discover now