𝟎𝟐𝟎| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

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𝟐𝟎

Luiz fez o papel dele. Foi ao enterro de Vanessa, colocou flores em cima do caixão, forçou algumas lágrimas e quando voltaram a fechar o túmulo, caminhou para fora do cemitério. Estava cheio de repórteres na frente e ele não perderia a chance de ganhar em cima daquilo.

Em pouco tempo, Luiz foi cercado por vários repórteres de diversas emissoras. Inventaria algumas mentiras e quem sabe não se redimiria diante da mídia? Isso, manipularia os fatos na entrevista.

— Senhor Luiz, uma palavrinha, por favor. — Chamou uma entrevistadora enquanto corriam atrás dele. — Fale com a gente!

— Não, por favor. Agora não. — Luiz negou, fingindo uma falsa tristeza. Limpou o canto dos olhos com a costa das mãos.

Luiz continuou seu percurso para fora do cemitério, mas quando a mesma entrevistadora pediu por uma palavrinha novamente, ele cedeu.

— Como é que o senhor está se sentindo? — Perguntou a mesma e levou o microfone para perto da boca dele. Os câmeras gravavam tudo atentos.

— Eu era casado com a Vanessa há mais de dez anos. A amava, mas infelizmente eu me envolvi em uma relação extraconjugal. — Disse se lembrando do flagra que Vanessa havia dado nele e na sua secretária. Ele contaria de fato uma meia verdade. — Vanessa descobriu e em um acesso de raiva, desejo de vingança, ela inventou de tudo, inclusive manipulou aquele vídeo. — Tampou os olhos com as mãos e esfregou as têmporas, forçando um choro. — Tudo que eu queria era ter tido tempo de pedir perdão para a minha mulher... — Disse sínico em tom de lamento.

Os repórteres concordavam com a cabeça, compreensíveis, mas não se comoveram muito com a história.

— A polícia ainda está investigando a possibilidade de não ter sido suicídio. — Informou outra entrevistadora, deixando o assunto em aberto.

— A Vanessa... Ah, é muito difícil dizer isso. — Luiz negou com a cabeça. — A Vanessa era alcoólatra, estava deprimida e isso é uma doença. Nós não podemos julgá-la. — Cobriu os olhos novamente, fingindo emoção.

— Sobre o vídeo que a falecida gravou com diversos depoimentos ao seu respeito, o senhor não tem nada a dizer? — Dessa vez era um do sexo masculino.

Luiz ainda fingia chorar, pensando em como fugiria daquela pergunta.

— Pera... é muita emoção. Não vou falar mais não. — Luiz desconversou e voltou a colocar os óculos escuros. Saiu de lá apressado em direção ao seu carro.

Os repórteres saíram logo em seguida, satisfeitos com o conteúdo adquirido.

— Acabou de ficar viúvo. Respeitem, por favor. — Carlos, o seu assessor, falou e seguiu Luiz para o carro.

Luiz dirigiu rapidamente para a sua casa e quando chegou, encontrou um amontoado de pessoas em frente a ela

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Luiz dirigiu rapidamente para a sua casa e quando chegou, encontrou um amontoado de pessoas em frente a ela.

— Que tanto de polícia é essa aqui?! Porra... — Luiz resmungou baixinho para o seu assessor e abaixou o vidro do carro enquanto um policial se aproximava mais deles. Havia também muitos jornalistas gravando aquela cena.

— Seu Luiz, você vai ter que me acompanhar até a delegacia. — O policial informou pacientemente, encostando a mão no carro. Luiz olhou rapidamente para Carlos, que deu de ombros sem entender nada.

— O que é isso? — Luiz abriu os braços. — O que exatamente está acontecendo aqui?

— Você foi visto pelas câmeras de segurança do hotel em que sua esposa morreu.

Luiz ficou alguns segundos em silêncio. Aos poucos, o desespero começou a bater.

— Escuta aqui, eu não vou a lugar nenhum sem o meu advogado. — Ele negou.

O policial respirou fundo, cansado da mesma rotina, e retirou Luiz a força de dentro do carro.

Em pouco tempo a notícia foi se espalhando por todo o país. A matéria "O candidato Luiz Schumacher é suspeito de assassinar a própria esposa" estampava todos os jornais.

Quem lucrou muito com aquilo foi a jornalista Lucy, que tinha bastante informações para passar na televisão.

— As imagens de segurança confirmaram que o político, Luiz Schumacher, foi flagrado entrando no quarto da falecida Vanessa Schumacher.

Naquele instante começou a transmitir as imagens de Luiz invadindo a força o quarto de hotel em que Vanessa estava hospedada e fechando a porta.

Bernardo e Afonso assistiam concentrados à reportagem. Estavam felizes pois tinham enfim conseguido o que tanto eles queriam.

— A suspeita de suicídio foi afastada definitivamente e o político está em prisão preventiva. — Lucy continuou. — Além disso, a polícia encontrou diversos documentos de fraudes que comprovam a acusação da vítima antes do seu assassinato.

Bernardo gargalhou e vibrou muito no sofá. Não fazia nem ideia de onde havia surgido aqueles documentos, mas tinha sido muito útil.

— Acabou para o Luiz... — Bernardo murmurou e chocou sua garrafa de cerveja na de Afonso, brindando.

Na televisão ainda passava imagens de Luiz sendo preso.

— Estamos aqui com o assessor de Luiz, o senhor Carlos, que acaba de assinar um acordo de delação premiada. Como está se sentindo?

— Estou me sentindo traído, acho que como todo povo brasileiro. Luiz sempre me dava muitos papéis para assinar, documentos, e eu confesso que não lia. Eu confiava nele. Era meu amigo acima de tudo e quem não confiaria? — Carlos sorriu sem mostrar os dentes. Ele sabia que podia ganhar muito em cima daquilo.

— É verdade que está pensando em entrar para a política?

— Primeiro eu quero colaborar com a polícia e depois eu quero me candidatar. Se eu ganhar, quero corrigir todo o mal que Luiz fez a esse Estado.

Afonso olhou sério para Bernardo e comentou.

— Não acredito que ele vai trair o próprio amigo. — Afonso disse um pouco perplexo. Ainda não estava acostumado com aqueles tipos de pessoas.

— Ele nunca foi tão fiel a Luiz quanto está sendo agora, traindo-o. — Bernardo respondeu, sarcástico.

Atrás dos dois havia várias caixas empilhadas, afinal Bernardo estava de mudança, sairia mundo a fora sem um destino certo, e Afonso recentemente havia descoberto que seria pai. Estava de caso com uma garota de programa e os dois estavam dispostos a recomeçarem suas vidas juntos, mas aí era outra história.

 Estava de caso com uma garota de programa e os dois estavam dispostos a recomeçarem suas vidas juntos, mas aí era outra história

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