Prisioneiro da Paixão II - 9

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"Pai, porque você fez isso comigo? O que eu te fiz? Por que você não quer ficar mais perto de mim? A minha mãe fala que é problemas na sua vida, mas eu tenho certeza que eu fiz alguma coisa errada. Minha vó está sempre tão triste. Meu avô xinga o senhor, mas eu já peguei ele chorando olhando sua foto pequeno. O tio Rafa veio aqui ontem, e ele também não está legal... Paizinho, volta pra gente, vai? Por favor.

Eu te amo muito, Clarinha"

Isso me partia o coração e todas as vezes em que eu abria os e-mails dela, eu chorava. Nesse tempo que passei fora do rio, eu me comunicava com ela mais por e-mail mesmo, mas eu ligava uma vez por semana para o celular que a mãe tinha comprado. Ficávamos conversando por horas, juro, eram horas, sempre tivemos uma boa conversa... nesses papos, eu sempre terminava chorando com ela suplicando pra eu voltar. Mas toda vez que eu estava tentado a voltar um filme rodava na minha cabeça:

"- Rafa, não faz isso, pelo amor de Deus! Você é muito importante na minha vida, Rafinha, não faz isso, por favor.

- Chega! Você não me merece, você não merece ninguém perto de você... faz um favor pra todos nós, fica aqui direto, não volta não! Todo mundo tá muito melhor sem você."

Isso me dava um aperto no peito tão grande que as lágrimas eram inevitáveis. Ele me mandava e-mails, minha ex, até minha mãe, mas aos poucos, com o passar dos meses, foram diminuindo até o ponto de eu só me comunicar com minha filha. Isso só comprovava que eu não era importante, que depois do choque do meu sumiço, eles se acostumariam com minha ausência e seguiriam com suas vidas.

Nesses 7 meses, eu beijei na boca, óbvio, por mais triste que eu estava, tinha ganhado minha liberdade e um jeito que eu achei de curar minha dor era saindo e tentando me divertir, afinal aquela era minha nova vida. Não quis namorar, alguns rapazes quiseram, mas comigo era só ficar mesmo, não queria saber sobre esse negócio de amor, assim me especializei em turistas #rsrs pois tudo era passageiro. Poderia ser de qualquer nacionalidade, era bonito, me deu mole, dava uns beijos numa boa... sexo era com poucos, só os que me excitavam muito, o que era raro. Mas tenho que admitir, todas as noites, quando eu deitava pra dormir, eu lembrava do beijo do Rafael, nenhum desses beijos que eu tinha agora se comparavam ao que ele tinha me dado. As vezes também me pegava pensando nele, lembrando dos nossos momentos, fantasiando como seria se estivéssemos juntos, como um casal... Mas eu sempre brigava comigo mesmo por ter esses pensamentos com ele, porque na realidade eu não queria nem vê-lo novamente, ou eu me enganava pensando assim. De qualquer modo eu não admitiria me apaixonar pelo Rafael, mas pelo visto era algo incontrolável.

Nessa minha nova vida, eu já tinha criado um grupo de baladinhas pra farrear, como morava sozinho, as festinhas eram na minha casa. No restaurante eu era um maitre de respeito e muito elogiado. Meu chefe dizia que eu era um achado, pois sabia acolher bem as pessoas sem parecer aquele falso amigão. Estava me saindo bem... se não fosse a dor da separação da minha filha, dos meus pais, dos meus amigos... eu estaria bem.

Minha maior satisfação ali era poder sair do trabalho com minha vara de pescar, ir para a praia e tomar um bom vinho ou qualquer outro destilado e pegar uns bons peixes, enquanto ouço os clássicos da MPB. Aos poucos, a mim foram se juntando outros pescadores da madrugada.

Então assim eu levava uma vidinha pacata, sem muito stress, só as preocupações do dia-à-dia, coisas que eu tirava de letra. Mas a falta que minha filha fazia me castigava a alma. Não sabia mais quanto tempo eu aguentaria sem vê-la, sem abraçá-la... em uma dessas crises de saudades eu fui até a estátua da Brigite e fiquei lá, olhando a foto dela, que sempre levava comigo e as lágrimas eram inevitáveis. Eu amava tanto aquela menina...

- Pai?! – Ouvi sua voz me chamando, só poderia ser um sonho... – Pai? É você? – Sim, era a voz dela, mas era tão absurda a ideia dela estar me chamando que abri os olhos e levantei a cabeça para conferir. Ao fazer isso me deparei com seu rosto, o rosto mais lindo da face da terra, era ela, ali, em Búzios.

Prisioneiro da Paixão - 2ª TemporadaWhere stories live. Discover now