06. O ADEUS

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Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade...

- Oswaldo Montenegro

- O que quer que eu faça? - perguntei, retirando a manta de mim. Cassie a segurou e procurou por peças de roupa mais longas, talvez para me esconder.

- Algumas partes do seu corpo são invisíveis, certo? - confirmei com a cabeça - Acho que com esforço você pode se tornar completamente invisível.

- Já tentei isso. - admiti - Essa não é a primeira vez que tento fugir daqui. Nenhuma das outras vezes funcionou. Além disso, eles ainda veriam um par de calças flutuante.

Cassie apalpou minhas costas, deixando, juntamente, uma sensação de formigamento agradável. Suspirei nervosamente, sem querer decepcionar a menina.

- Não se você tirá-las. - falou. No mesmo instante, me apartei dela com uma expressão assustada.

- O quê?!

- Podemos seguir por passos. - sugeriu, rindo como se eu tivesse dito algo extremamente engraçado - Primeiro, tente ficar invisível por completo. Depois, suas roupas.

- Ficou louca? E se eu nunca mais me visse no espelho? - não sei como, mas algo nos olhos de Cassandra me dizia que ela tinha certeza que isso daria certo.

Não sobraram muitas alternativas, então fechei os olhos e me concentrei nos barulhos mais agradáveis possíveis. O chacoalhar das folhas era um deles. O uivo do vento chegou a provocar cócegas em minhas orelhas congeladas. Eu sequer pude ouvir a voz de Cassie.

Quando abri meus olhos novamente, olhei para meus braços, anteriormente nus. Eles sumiram! Assim como tudo o que não estava coberto por tecido. Cassie me olhava com espanto e orgulho, descansando as duas mãos na cintura.

- Sabia que iria funcionar! Tenho que admitir, é estranho não olhar para seu rosto. Ele fica mais bonito quando visível. - declarou - Agora, remova suas roupas.

Essa era a parte que me deixava vermelho de vergonha. Não sabia se eu ficaria completamente invisível, por isso pedi que ela ficasse de costas. Retirei tudo o que tinha das vestimentas. Aparentemente, tudo deu certo. Não conseguia me ver, o que era estranho.

- Posso olhar? - ela retirou as mãos dos olhos e se voltou para mim, traçando o olhar de um lado para o outro.

- Se você conseguir... - minha garota sorria como uma criança. Ela tentava me encontrar, mas sem êxito. Começou, então, a seguir os comandos da minha voz.
Partimos para o resto do plano. Cassie pegou minhas roupas e a manta. Eu abri a porta vagarosamente, tendo o maior cuidado para não chamar atenção indesejada. A garota seguia por trás de mim, relutantemente. Após segundos de completo silêncio parti até a cozinha, onde 3 dos homens estariam reunidos. Perto da geladeira, havia um vaso, que acabei derrubando no chão propositalmente. Os 3 baixaram a guarda e se viraram para onde o estrondo teria se originado. Essa era a deixa de Cassie.

Ela correu até a porta de saída da casa sem provocar um ruído sequer. Tenho que admitir, ela conseguiria fazer um papel de fantasma melhor do que eu. Eu era um completo desastrado! Quando conseguimos sair, comemoramos com um beijo e um abraço tão apertado que devo ter quebrado uma costela.

- Deu certo! - ela sussurrava entre ligeiros pulos de felicidade, enquanto eu colocava minhas roupas - Agora vamos lá. Feche os olhos e concentre-se na minha voz.

MIRROR ;; millard n. ( ✓ )Where stories live. Discover now