19. A QUEDA DO ANJO

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n/a: Hey there. Desculpa pela demora 😶

Tira a poeira das asas, meu anjo, já tá na hora de voltar a voar...

- Leandro Soriano Ferreira

Já se passaram 4 longos dias desde que chegamos ao Recanto; Bentham nos abrigou aqui como se fôssemos refugiados. Nesse tempo, conseguimos pesquisar mais informações sobre Caul e sobre os ukrastis, algumas até importantes. Sharon usava da sua habilidade, mesmo estando praticamente esgotada devido a ambrosia, para esconder o "estabelecimento" de advocacia, desta forma ninguém entraria aqui e nos interromperia.

Sharon era uma espécie de peculiar ilusionista. Ele conseguia transformar algo no que ele quisesse que as pessoas vissem. Num piscar de olhos, seu barco poderia se tornar invisível. Um rato parecia um rinocefante. Uma casa poderia desaparecer se ele se concentrasse. Era incrível! Graças ao nosso pequeno exército, tudo aparentava estar em seus eixos, até essa manhã.

- Não! - ouvimos a trépida e rouca voz de Horace. Ele estava descansando em um dos dormitórios que Myron nos emprestou enquanto estávamos aqui. Sem pensar duas vezes, saí correndo em sua direção, eu era o único. Tinha que admitir, a parte egoísta de mim esperava que ele tivesse uma visão sobre Claire. Não gostaria de desperdiçar a oportunidade de saber como ela estava. Cheguei no quarto, ele estava da mesma forma que eu havia visto quando o conheci no orfanato.

- Horace, acorda! - balancei seu corpo mole, ele estava congelando. Estapeei sua bochecha esquerda e finalmente o garoto acordou. Horace estava perdido, procurando por um ponto fixo - O que houve? No que você pensou?

- Alex. - gaguejou, olhando para os meus olhos - As asas dele... serão arrancadas.

Meus olhos arregalaram, será que isso era verdade? Será que ele teria suas asas tiradas por alguém? Quem faria uma coisa dessas, senão Caul?

- C-Como assim, Horace? - pedi - Não brinque numa situação dessas.

- E por que eu o faria? Eu vi com os meus próprios... bem, com a minha própria mente.

- Foi Caul, não foi? Ele fará isso a Alex!

A resposta demorou a ser dita. Sabia que Horace estava pensando na pessoa responsável por isso, então insisti.

- Olha, é importante que você-

- Cassie. - ele me interrompeu. À menção do nome dela, meu coração murchou - Ela o fará. Ela será a ruína de Alexander.

Ficamos em silêncio, sem saber o que fazer ou dizer. Isso era impossível! Cassie é nossa amiga. Horace deve ter imaginado o que eu estava pensando, já que me deu um olhar de culpa, como se sentisse pena de mim. Ou de nós.

Ou de Alex.

De repente, alguém bateu na porta com voracidade. Pelo tom da voz, descobri ser Sharon. Ele estava muito agitado. Deixamos que se pronunciasse.

- Meninos, andem logo. - falou, sendo interrompido por pesadas respirações - Partiremos agora para salvar sua amiga.

Antes de obedecermos ao semi-gigante, trocamos olhares. Apesar de Horace não me ver, ele e os outros já tinham se acostumado com isso. Seguimos até a sala de estar, onde todos estavam reunidos e senti uma mão gélida tocar em minhas costas, portanto fui obrigado a girar. Era Alex. No instante que eu o encarei, meu estômago se encolheu. A premonição de Horace voltou a fazer presença na minha cabeça.

- Oi, Mill. - disse ele, agindo como se nada de ruim estivesse prestes a acontecer. Evitei olhar para ele - Escuta, estávamos pensando em como invadir o covil de Caul e... você está bem?

Horace chegou perto de mim e pigarreou, como quem dissesse "fique calado". Apenas afirmei com a cabeça, demorando 2 segundos para notar que ele não me via, assim como qualquer pessoa.

- Sim, estou. Do que você estava falando mesmo?

Então continuamos a falar, trocando dados que obtivemos nesse tempo em que ficamos por aqui e organizando táticas. O plano parecia simples demais: Sharon nos levaria para a Vala Perdida, o suposto lugar onde Jack vivia, e tomaríamos Cassie enquanto outros peculiares despistavam Caul e meu irmão do caminho. Agora não era só Horace que tinha um mal pressentimento sobre isso tudo. Eu também fui afetado.

- Todos a bordo! - gritou Sharon de seu longo barco. Parte de mim gostaria de saber como ele teria conseguido um bote tão grande, mas não era uma boa situação para tal questionamento. Sharon nos ajudou a entrar na embarcação, diminuindo assim a probabilidade de cairmos nas águas fétidas e negras do rio. Richard chegou a perguntar se Pierre não poderia nos teletransportar até a vala, mas era impossível. O garoto francês não tinha uma memória fotográfica do local e, de acordo com Myron, nenhum peculiar chegou a registrar imagens da Vala Perdida. Até o próprio nome sugeria algo.

Após minutos de medo e ansiedade, chegamos em terra firme. Graças ao encanto de Sharon ninguém sequer olhou para nossa horda peculiar, provavelmente estávamos invisíveis. Ah, o destino e suas amargas ironias... Ao encostar o barco na terra, Sharon nos ajudou a sair. Se não fosse tão grotesco, misterioso e rabugento, diria que o homem era um verdadeiro cavalheiro.

- Bem-vindos à Vala Perdida. População: 156 peculiares e uma tribo de canibais. - disse Sharon, esticando os braços esqueléticos que eram encobertos pelas vestes negras - Mas não se preocupem. Se vocês não desviarem do caminho certo, as chances de serem devorados ou mortos em outras circunstâncias serão..

- Mínimas? - sugeriu Emma, um pouco esperançosa.

- Menores. - o gigante a corrigiu. Myron o reprovou por ter assustado as crianças, e então pediu que todos prestassem atenção à sua voz. Antes que ele pudesse falar, porém, fomos interrompidos por uma flecha extremamente pontiaguda, que atravessou o caule de uma das árvores do lugar.

- O que foi isso? - alguém perguntou com a voz embargada.

- Isso foi o aviso de que vocês serão destruídos, - uma voz diferente surgiu do outro lado. Era Caul, acompanhado de Jason. Meu irmão segurava Cassie por umas amarras que pôs em seu corpo - bando de peculiares estúpidos.

A maioria dos peculiares perto de mim cerrou os punhos, Alex abriu as asas para nos defender.
- Solte-a, seu monstro imundo! - o garoto alado brandiu, como se estivesse na guerra. As asas metálicas faziam um barulho diferente neste dia, como se ele as tivesse polido.

- Ah, não. Receio que eu não possa fazer isso, querido. - Caul replicou calmamente - Mas se quiserem tirá-la de mim, fiquem a vontade para tentar. Devo alertar, porém, que morrerão no processo.

Alex parecia mais determinado, depois de Jack ter dito aquilo. Ameaças sempre o faziam rir. As asas começaram a se movimentar, erguendo o menino pelos ares. Ele estava a poucos metros de atacar Jason, quando de repente Caul estalou os dedos. Não sabia o que poderia acontecer de ruim por causa disso, mas ao fazê-lo, um garoto da nossa idade, que estava próximo a Jason e Cassie, fez um gesto com as mãos. No mesmo instante, o corpo de Alex se desintegrou pelo ar como areia. O vento levou as partículas para um lugar distante, sobrando apenas uma das penas metálicas no chão.
Meu coração parou, tudo estava quieto demais por alguns segundos. Todos os peculiares, até Myron, ficaram chocados demais para dizer alguma coisa. Então eu percebi algo: A previsão de Horace estava certa! Mas não eram suas asas as únicas que seriam arrancadas.

Sua vida também seria.

n/a: Estamos oficialmente chegando aos capítulos finais. Muito obrigada pela consideração e por ter chegado até aqui. Bônus: tô quase pulando pela casa pq a minha mãe comprou Contos peculiares 😍 Bjos e até o próximo (vou tentar atualizar logo)

MIRROR ;; millard n. ( ✓ )Where stories live. Discover now