Capítulo 1

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Olá, Pois bem, achei válido passar por aqui para dar uma palavrinha com quem estiver lendo o Despertar. A ideia inicial é que o Despertar seja o primeiro de três (ou quatro, estou decidindo) livros que narrem a aventura que Pandora e os demais personagem irão passar em meio ao caos da batalha. Não, não é um livro sombrio, ou pelo menos não tem intensão de ser :). O cronograma de postagens será de um capítulo por semana, talvez dois, muito provável que aconteçam no final de semana, caso aconteça algum atraso eu prometo que aviso aqui. 

O estilo de narração também é um pouco diferente, a minha voz aqui como escritora não é a voz do narrador, ok? Quem já leu Dragões de Éter vai identificar o tipo de narração com mais facilidade. Vocês se acostumam :D

Obrigada pela sua atenção, espero que goste da narrativa!

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A temperatura chegava em torno dos 30°Celsius, as largas calçadas da Av. Paulista estavam cheias, pessoas corriam para lá e para cá como se não houvesse tempo para nada, um fato muito recorrente em toda humanidade: pressa. Para tudo e para todos. Se fosse uma doença com certeza seria a mais infecciosa. O metrô da grande cidade estava com problemas de funcionamento, em pleno horário de pico a cidade estava parada. "Por favor, aguardem o próximo trem, estamos com um atraso de 10 minutos devido a um problema técnico na estação Ana Rosa" era a mensagem que ecoava pela estação Brigadeiro de cinco em cinco minutos.

- Problemas técnico, tá certo. No mínimo alguém se jogou na linha do trem de novo.

A voz estridente de Milena reclamava sobre a situação. Pandora que estava ao seu lado deu uma cotovelada. Reprovou com olhares e quando percebeu que a amiga não iria parar agiu.

- Para, Mi. Estamos com tempo de sobra, vamos chegar a tempo. - Argumentou enquanto puxava a outra para um canto - E você nem sabe o que aconteceu e fica falando besteira.

A estação estava cheia, provavelmente o trem que estava chegando não iria acomodá-las dentro dele. Foram para a ponta da frente sentido Vila Madalena. Pandora encostou as costas na parede e cruzou os pés, Milena que estava um pouco incomodada pela repreensão da amiga deu as costas.

- Você sabe que provavelmente foi isso, Pandora. Sempre tem um louco para se matar, o que me dá raiva é que acontece só nos dias que eu decido sair. - Falou ainda de costas.

- Pobrezinha de você, não é mesmo, Milena? - Ainda sendo ignorada Pandora continuou - Louco? Parece que alguém esqueceu como é a depressão.

Milena virou subitamente, estava espantada e não conseguiu pensar em algo para responder. Era como se tivesse ocorrido a um segundo atrás, Pandora tinha aquela lembrança cravada em sua mente. Mais ou menos um ano antes dessa cena que estava sendo narrado agora, Pandora mais Milena estavam em um hospital. Após ser diagnosticada com depressão e seus pais ignorarem o fato, Milena foi de mal a pior, quase todo dia uma tentativa de suicídio acontecia. Se Pandora não tivesse a encontrado naquele banheiro a tempo Milena teria morrido sangrando pelos pulsos. E foi assim que as duas foram parar em um pronto socorro. Depois do ocorrido seus pais finalmente perceberam que tinham uma filha doente e que deveria ser tratada corretamente. Fingir que está tudo bem, não faz tudo ficar bem, e os pais de Milena quase pagaram um preço alto demais para aprenderem essa preciosa lição. Deixo essa dica aqui de graça, considere um presente de um amigo, não me agradeça.

Milena melhorou, passou a conseguir a ter uma vida normal de novo. O problema era que a garota não tinha muita empatia. Por ninguém, por nada.

- De qualquer jeito, a gente não sabe o que foi. Fica quieta que a gente tá no horário. - Pandora olhou no fundo dos olhos da amiga e andou para frente passando pela mesma.

Andou até a faixa amarela de segurança no chão. Ouviu o apito da porta se fechando. Como o previsto as duas não haviam conseguido entrar. Nunca esperaram pelo próximo trem. Uma história inteira pode mudar com simples decisões. Decidiram ir a pé até a Estação Consolação, pois um segundo aviso falava que o próximo trem demoraria mais 15 minutos para chegar, elas estavam no horário mas se esperasse não estariam mais, só Deus sabia como Pandora odiava estar atrasada para compromissos. Decidiram partir.

Nossa querida, querida, pressa. Se as meninas aguardassem apenas um minuto já seria o suficiente, elas iriam descobrir que o recado estava errado, o próximo trem chegaria em menos de dois minutos, contudo não foi isso que aconteceu, então não vamos divagar sobre o que poderia, vamos divagar sobre a realidade. É nessas horas que o "Poderia" parece muito mais bonito e agradável. Maldito seja quem inventou as escolhas simples.



Queria eu, seu querido narrador, que todas as tardes fossem calmas como aquela que se passava no Grande Portão. Gabriel estava sentado sobre uma pedra alta meditando. O corpo delineado por músculos mantinham a postura ereta, a figura parecia passível concentrado em algo além.

- Está atrapalhando minha concentração, Emma. Fale o que quer que seja. - Disse com um tom neutro, talvez até impaciente.

- Como estou a te atrapalhar se nem mesmo fiz barulho? Você sabe o quão esguia posso ser. - A menina se orgulhou de seu próprio talento.

De fato, Emma era silenciosa, se não quisesse ser notada não seria, a não ser por alguém que tivesse o dom de Gabriel.

- Sua presença me incomoda, isso já basta para perder minha atenção. - Abriu um dos olhos para olhá-la - Além do mais, você se impregna desse perfume. - Voltou a tentar meditar.

- Sabe, sempre me perguntei como você não havia ficado louco aqui.

Olhou para o lugar onde estavam, era silencioso e verde, estavam em uma espécie de montanha levemente inclinada, os raios de luz se distribuíam em faixas realçando certas coisas e deixando outras em tons pastéis. Havia névoa por todos os lado, várias árvores e arbustos e uma trilha com lascas de madeira que levavam até o Grande Portão, que na verdade era mais um buraco que cortava o topo na montanha, parecia um arco natural e o dever de Gabriel era guardar a entrada. Isolado.

- Traz paz ficar longe de confusão. Deveria saber disso. O que veio me falar? Ande, quero relaxar novamente.

Mentiu, Gabriel não relaxava, não, ele conseguia atingir um estado de conexão com a natureza ouvindo as boas e as más histórias, quase divino, mas não relaxado. Apenas. Sentiu no ar a vacilação da áurea de Emma, suspirou pesado e abriu ambos os olhos e a encarou com firmeza.

- Começou, não? Foi por isso que você veio?- A voz máscula perguntou quase que retoricamente.

- Sim, começou. - Confirmou Emma desviando os olhos para baixo. -Eu preciso avisar os demais postos, logo mais a primeira leva chega. -Deixou o tom petulante de lado - Alguns nunca deveriam terem sido chamados, cuidado, Gabriel. - Viu ele rolar os olhos. - Se não por você, faça-o por mim. - A voz era sincera e ele sabia disso.

Os olhares se cruzaram e com um aceno de cabeça ela se foi, tão rápida quando o vento. Respirou fundo ainda sentindo o perfume dela no ar misturado com o cheiro dos pinheiros. Relaxou os ombros e voltou a se concentrar, precisava fazer isso antes que o caos fosse instaurado, e ele sabia que não demoraria muito.  E eu como um bom amigo posso afirmar: não demoraria muito para chegar e demoraria um eternidade para passar. 

Despertar - Batalhas InvisíveisUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum