Capítulo 5

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O verão não parecia acabar, insistia em continuar na grande São Paulo. O ar sobre o asfalto tremulava causando efeitos ópticos que prendiam a atenção de Pandora, sentada no banco da frente de uma picape encolhia-se no banco, olhava para estrada e para serra. A descida para a baixada santista era glamorosa durante a semana, sem trânsito, sem confusão, apenas a bela e amigável vista. O motorista, também conhecido como Gustavo, mexia no rádio procurando algum tipo de música que o agradasse.

- Isso que acontece quando eu te deixo fazer a playlist de viagem. - Desabafou frustrado desistindo de achar algo de seu gosto.

- Para de reclamar, aceita que dói menos, você escolheu essa comida horrorosa...

- Que eu gosto. - Interrompeu a outra.

- Então eu tenho o direito de escolher a música horrorosa que eu gosto.

O argumento da menina pareceu fazer efeito, Gustavo se conteve ao volante e a suas comidas. Era meio de semana, uma bela quarta-feira de manhã. Terça a noite ambos estavam no gigante apartamento sem saber o que fazer, daí veio a ideia: ir para a praia. Tentaram se convencer do contrário, falando um para o outro que era melhor ficar em São Paulo e cumprir com suas respectivas obrigações, falharam miseravelmente.

Gustavo com seus vinte e um anos mais um mês se encontrava dividindo o apê com a melhor amiga, começou com "Posso dormir uma noite aqui? ", "Tem algum problema se eu passar a semana? ", e acabou ficando. O menino não se importava era bom ter alguém por perto para fazer companhia. Contudo, nunca viu a amiga tão perdida como estava, escutava o choro durante a noite, via as lágrimas secas durante a manhã e sentia o sorriso forçado durante a tarde. Aquela viagem faria bem a Pandora, ou pelo menos ele esperava que sim.

Nunca espere algo de um Destino que está querendo brincar.




- Que pulseira linda! - A voz estridente de Milena trincou o ouvido de Pandora.

- Sim, de fato. Mas precisamos continuar, estamos com o horário apertado.

- Pelo amor de Deus, Pandora. Minutos não farão diferença. - Viu os olhos da amiga rolarem.

Pandora parou do lado da amiga e esperou enquanto a outra fuçava entre as bijuterias na banquinha. A Av. Paulista estava cheia, o que estava fazendo ali mesmo? Ah, sim, era o aniversário de Gustavo. Mas, o aniversário dele já tinha acontecido. Olhou ao seu redor confusa, uma sensação de Dejavu tomou conta de seu corpo por inteiro. Sentiu uma mão velha tomar-lhe o pulso com um pouco de rispidez.

- Que belas mãos! - A voz rouca de quem parecia ser a dona da banca causou calafrios na menina. - Ficariam ainda mais bela com um anel.

- Super concordo! - Milena disse em um tom alto garimpando nas caixas cheias de anéis. - Deveria usar um anel, Pandora.

- Mas, eu... eu já... eu já estive aqui antes.

Um sorriso de escárnio brotou nos lábios da velha mulher.

- Que belas mãos! - Pandora se sentiu zonza com a repetição da fala. - Não deveriam ficar sem um anel, são tão belas. - Percebeu que o pulso estava ficando cada vez mais apertado - Não deveriam, não precisa pagar minha jovem. Leve.

Despertar - Batalhas InvisíveisWhere stories live. Discover now