Capítulo 36

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Quando o celular desperta, eu respiro fundo querendo mais algumas horas de sono. Aperto Bela que está sobre o meu peito, ainda dormindo e estico o braço, desligando o celular. São 6:00 da manhã, está frio e não quero largar a minha mulher, mas preciso.
— Você já vai? — Ela sussura, quando me mecho. É muito bom saber que está acordada.
— Nesse instante, vou apenas para o banheiro. — Beijo seus cabelos e ela me dá espaço deitando no seu travesseiro.
Vou ao banheiro e quando volto, eu a agarro por trás, cheirando seu pescoço.
— Coloquei o celular despertar meia hora antes hoje. — Sussurro.
— Porque?
— Para ter tempo de me despedir de você. — Quando termino a frase, ela se solta e vira de frente me abraçando forte.
— Eu estava imaginando outra coisa. — Digo tentando me afastar pra beija-la.
— Só mais um pouquinho. — Ela sussura e eu me rendo, a agarrando mais forte.
— Você vai voltar logo não é? — Sorrio.
— Sim, em quatro ou cinco dias estou de volta, não é tanto tempo.
— Vou sentir sua falta. — Suspiro. É bom ouvir isso.
— Eu também. — Beijo seu ombro e então ela se afasta, me dando acesso a sua boca. A beijo rolando pra cima dela, definitivamente vou sentir falta disso.
Depois de me perder em seu corpo, sem pressa, muito lentamente, beijando e mosdiscando cada parte, fazendo ela gemer meu nome como um mantra. Eu  a levo para tomar banho comigo, e  continuo beijando-a sem parar.
— Você vai se atrazar. — Ela murmura, mas não parece tão preocupada, pois me beija novamente e eu a prenso contra a parede. Logo lhe alcanço uma toalha e vamos para o closet.
— Não vai levar umamala? Posso fazer enquanto você toma café. — Observo ela somente de camisola, cabelos molhados, tentando me ajudar.
— Não é necessário, só vou levar um casaco. Tenho muitas roupas no meu apartamento lá.
— Ah... Tá bem. — Termino de abotoar a minha camisa e estendo a mão pra ela. — Venha tomar café comigo. — Bela me abraça e a beijo mais uma vez, antes de guia-lá para a cozinha. Candelária já tem a mesa pronta e nos deixa sozinhos.
— Vou deixar Pedro a sua disposição, se precisar sair por favor ligue pra ele. Não quero você vá sozinha a lugar algum, sim?
— Sim, obrigada. Depois do susto que levei ontem, eu prefiro mesmo que ele me acompanhe.
— Que bom.
— Quer mais um pedaço de bolo? — Concordo com a cabeça e ela me corta um pedaço, colocando no meu prato.
O telefone começa a tocar e eu seguro sua mão impedindo que ela levante. — Tudo bem, eu atendo, deve ser o Rafael.
— Ta bem. — Levanto e pego o telefone.
— Alô?
— Alô. Bom dia.
— Bom dia. — Digo.
— Eu gostaria de falar com a Mai. — Franzo a testa. É a voz de um homem e não gostei dessa intimidade que ele acha ter com ela.
— Com quem? — Pergunto.
— Com a Maite. — Hum, assim está melhor.
— Quem deseja?
— Arthur. — Aperto o telefone com força. Como eu não reconheci a voz do imbecil? Penso em desligar, mas antes eu  preciso saber o que esse idiota quer com a minha mulher. Então caminho de volta até a mesa. Maite está recostada na cadeira me olhando.
— É o seu ex namorado. — Estendo o telefone pra ela. Que me olha franzindo a testa.
— Arthur? — Pergunta surpresa.
— O próprio. — Jogo o telefone sobre a mesa e me sento no meu lugar. Maite me olha por um instante e pega o telefone.
— Alô?... Sim... Oi... —A encaro enquanto  ela escuta o imbecil falar.
— Tudo bem. E você? — Respiro fundo o que lhe importa se ele está bem?
— Que surpresa você me ligar. Como conseguiu esse número?... Ah, claro a  Amanda. — Maldita Amanda. Embora não tenha certeza que foi ela mesmo. Talvez Bela esteja me enganando e ela mesmo tenha passado o número. Que merda. O que estou pensando? Ela não é assim. Ou é? Não...
— Lembro sim, sobre a leucemia não é? — Franzo a testa sem entender, do que eles estão falando. — Não sei, acho que
não vou poder... Tudo bem, vou pensar sobre o assunto.... Ta bem... Tchau. — E enfim ela desliga.
— O que ele queria? — Pergunto sem hesitar. Não tenho muito tempo.
— É... Ele me convidou pra participar de um projeto que ele está desenvolvendo.
— Projeto?
— Sim, no hospital do Câncer, para as crianças com leucemia.
— Ah... Mas você não é nenhuma médica. — Digo. E ela desvia o olhar.
— Sou uma psicóloga. — Diz apenas.
— Está pensando em aceitar? — Falo indignado. Não vou deixar ela trabalhar com ele, passar horas ao seu lado, sem chance. — Não vou permitir que você trabalhe ele. — Ela me olha franzindo a testa. E abre a boca, mas não fala nada. Então nega com a cabeça.
— Você é o meu marido, William. Não é o meu dono. — Mordo o lábio com força. Não posso acreditar que ela está mesmo querendo ir trabalhar com ele.
— Não era isso que você falava, quando gemia dizendo que era minha. — Ela ergue a sombrancelhas e então acena com a cabeça, desviando o olhar do meu. 
— De qualquer forma. Não é você que decide isso. — Suspiro zangado.
— Só não quero ninguém me chamando de chifrudo, quando verem, que você está saindo com seu ex. — Ela nega.
— Não, William. Ninguém vai te chamar te chifrudo, porque eu não vou dar nenhum motivo pra isso. — Mordo meu lábio com força, pra não acabar falando besteiras.
— Você deveria saber o tipo de mulher que tem em casa. — Ela diz nitidamente magoada, com a voz embargada. E então se levanta e vai para o quarto. 
— Mas que.... Merda. — Jogo o meu  quadanapo sobre a mesa. É só esse cara aparecer que tudo dá errado, maldito.
Se ele pensa que vai ter minha mulher trabalhando com ele, está enganado, muito enganado.
Pego meu celular e percebo que estou muito atrazado, droga. E ainda tenho que passar na agência antes de ir pro aeroporto.
Olho a porta do quarto entreaberta, nos dois precisamos terminar essa conversa e resolver essa merda. Levanto e entro no quarto, abrindo a porta devagar, ela está deitada sobre as cobertas, de costas para mim, seu bumbum empinado e as pernas de fora, como é gostosa.
— Maite... — Ela não me olha. — Nos dois precisamos conversar, mas eu estou muito atrasado agora... Então podemos nos falar quando eu voltar? — Espero sua resposta, mas ela apenas abraça o travesseiro mais forte.  — Tudo bem, me liga se precisar de mim. — Pego o meu casaco sobre a cadeira e a olho mais uma vez. Que droga. Me viro saindo do quarto. E antes que eu desista saio do apartamento.
Parece que tudo está contribuindo pra me estressar hoje, o trânsito está parado e vou chegar muito, mas muito atrasado. Droga, bato as mãos sobre o volante. Eu odeio brigar com ela e me sentir assim, como se alguém tivesse apertando o meu coração com a mão, me deixando sufocado.
Meia hora depois do que eu planejei consegui chegar na agência. Caminho direto para a minha sala sem falar com ninguém e me sento na minha cadeira, buscando os papeis que preciso levar para Nova York. Pego o telefone.
— Clara, chama uma taxi pra mim e fala pro Rafael vir aqui. — Desligo e imprimo tudo que preciso, antes que ele chegue.
— Está atrasado. — Ele diz se sentando e me entregando uma pasta com outros papeis.
— Eu sei disso. Porque essa pasta?
— Você precisa assinar tudo isso antes de ir. — Respiro fundo e pego a pasta, começando a assinar.
— O que ouve? Porque está com essa cara?
— Porque a sua irmã, está tentando me enlouquecer.
— A Maite?
— Você tem outra irmã? — Ele nega.
— O que ela fez? — Dou de ombros. Não quero falar sobre isso. — Pode me falar William, anda, o que ela fez? — Solto os papeis e encaro ele. Eu preciso mesmo desabafar ou vou explodir de raiva.
— O que ela fez... — Digo pensando, na sua voz doce e no seu corpo perfeito. É uma diaba que me envolve e me deixa louco. — Bom, já não bastava ela ter deixado aquele imbecil do ex namorado, abraçar ela na festa, agora ela também quer ir trabalhar com ele.
— Trabalhar?
— Sim, o maldito teve coragem de ligar lá em casa hoje de manhã convidando ela pra participar de um projeto num hospital pra crianças com câncer e não sei mais o que.
— Mas... E dai? — Jogo a caneta, rindo sem humor.
— Como assim e dai? — Ele dá de ombros. — E dai que eu não vou deixar ela passar oito ou mais horas com ele todo santo dia.
— Oh... Entendi. — Vejo que ele está se segurando pra não rir. Idiota. Volto a minha atenção para os papeis, lendo meio por cima e assinando um a um.
É quando o telefone toca.
— Sim. — É a Clara me dizendo que o taxi já chegou. — Ótimo, eu já estou indo. — Volto a assinar os papéis.
— William...
— Que é? — Falo sem o olhar.
— Vou lhe dar uma coisa pra pensar enquanto estiver no avião.
— Humm. Sobre? — Digo já imaginando se tratar de alguma campanha.
—  Assim... por acaso. Você já percebeu que está apaixonado pela Maite? — Ergo a cabeça, largando a caneta e o encaro. Rafael ergue a sombrancelha como se esperasse a minha resposta.
— Não. — Digo.
— Não percebeu?
— Não, não estou apaixonado por... ela. — Digo a ultima palavra sem ter certeza e franzo a testa pensando sobre isso.
— Bom, então eu acho que você deveria rever os seus conceitos do que é estar apaixonado.
— Porque acha isso?
— Porque? — Aceno. — Bom, deixe me ver... Todo esse cuidado e essa proteção exagerada que você tem com ela, não é algo comum. Sem falar que você chega
atrasado todos os dias, isso quando não falta. E você tinha que se ver como saiu daqui ontem, completamente apavorado se algo tivesse acontecido com ela.
— Só estava preocupado. — Tento me explicar, mas não posso enganar a mim mesmo. Só eu sei o que senti quando ela não me respondia mais.
— Não é apenas isso, você só faltou enlouquecer quando ela simplesmente  abraçou o ex e está enlouquecendo de novo agora, porque não suporta a ideia que pode perder ela pra ele. Não é a  verdade? — Apenas o encaro sem falar nada, mas realmente eu não suporto a idéia de pensar neles juntos.
— E agora eu lhe pergunto William, quando contarmos a verdade pra ela e você não precisar mais estar casado, está disposto a terminar tudo? — Passo a mão pelo rosto e apoio os cotovelos na mesa.
— Eu não sei. — Respiro fundo.
— Você não precisa me responder, Will,  apenas pense sobre isso, vai ter muito tempo no avião. — Concordo. — Tenha uma boa viajem e pode deixar que eu cuido de tudo aqui. Dá um abraço na minha mãe por mim.
— Sim. — Ele acena um tchau e se vai, me deixando com milhares de dúvidas. Me afundo na cadeira e tento respirar, porque tudo tem que ser tão difícil?

Encontro a minha poltrona e me sento confortável, alguns minutos depois o avião decola. Pela janela posso ver o céu e as nuvens, gosto de avião, me trás uma sensação de paz, embora agora eu ainda me sinta angustiado e inquieto. Fecho os meus olhos por um instante lembrando dela, de como me abraçou forte quando acordei e como não se importou por ser 6:00 horas da manhã e fez amor comigo.
Se não fosse aquela maltida ligação eu tenho certeza que ela me acompanharia até a porta e me daria um grande beijo de despedida. Respiro fundo, eu odeio quando brigamos e nos afastamos. Mas quando se trata daquele imbecil, eu não consigo mesmo me controlar.
As palavras de Rafael começam a ecoar na minha mente. Será que estou mesmo apaixonado por ela? Bom, tudo que ele disse, aponta que sim. Mas afinal, o que é estar apaixonado? Nunca me importei com o termo e nunca o usei. Eu tinha meu trabalho, minha família e transava com algumas mulheres, mas nada sério, era apenas sexo, e paixão nunca se encaixou nessa rotina.
Confuso eu pego o meu celular no bolso e entro no Google, pesquisando "Apaixonado" logo surgiu o significado. "[que ou aquele que está dominado por paixão amorosa, por amor intenso e profundo; enamorado]"

Releio duas vezes antes de pensar. Bom,  dominado... Talvez eu esteja, ela domina meus pensamentos, todos os dias. Agora paixão amorosa e, amor intenso e profundo? É os dois? Estar apaixonado é sentir amor e paixão ao mesmo tempo?
Bem, talvez eu não possa nomear o que seja, paixão, amor, mas eu sei que sinto algo por ela, algo especial e intenso, algo que nunca senti antes.
Até hoje de manhã, eu tentava dizer a mim mesmo, que o cuidado era porque Isabel me pediu e que o ciúmes, era só um sentimento de posse porque... não sei porque, mas Rafael bagunçou tudo isso. E agora não posso mais mentir pra mim mesmo, preciso descobrir o que sinto por ela e encarar isso de frente.

Novamente a palavra apaixonado surge na minha Mente, mas se eu realmente estou apaixonado. Como isso aconteceu? Como ela... Me envolveu dessa forma? Estou tentando lembrar de algo, algum momento que tivemos, ou algo que ela me disse, pra explicar a mim mesmo como fui me apaixonar por ela.
Talvez quando eu a vi, encolhida no canto da sala, pedindo com o olhar que eu a protegesse, nós homens gostamos disso, de ser protetores.
Ou talvez quando ela me sussurrou que era virgem, porra, é talvez seja isso, eu fiquei pasmo e depois me senti um puta de um sortudo por ser o primeiro.
Ou talvez não seja nenhum momento e sim ela, ela inteira, seu jeito doce, seu corpo perfeito, sua timidez, seu sorriso, seu beijo, seu lado menina, e também o seu lado mulher, que me faz querer ser um pervertido, ela me excita, de um jeito... um sorriso e já fico de pau duro. E tirando todo esse tesão e intensidade na cama. Gosto quando ela se preocupa com as  pequenas coisas, como e se eu almoçei ou se quero comer algo antes do jantar. E quando deita sobre meu peito, me perguntando como foi o dia e em como dorme abraçada a mim, me remexo na poltrona, sentindo a falta do seu corpo, querendo a ter nos braços agora. Sorrio lembrando, que de madrugada, quando vou ao banheiro e logo depois volto para a cama, ela volta pros meus braços bem rápido, mesmo quando ainda está meia dormindo.
Olho pela janela rindo sozinho. Estou mesmo tentando entender como eu me apaixonei por ela? Seria mais fácil eu perguntar como não me apaixonar por ela. Nesse instante, lembrando de cada momento e cada detalhe com calma, eu percebo o quanto ela é incrível e única. E em como eu tenho muita sorte, por ser o único homem que teve o prazer de conhece-la por completo.
Me recosto na poltrona, vai ser mesmo uma longa viajem.

















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