Capítulo 55

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Estava com sede, muita sede! Mas o meu corpo parecia implorar por mais sono. E eu não conseguia acordar de verdade. Cheguei a fazer na minha mente, todo o trajeto até a cozinha pra beber água, pude até sentir o gosto da água. Mas o meu corpo parecia não querer reagir e ir até lá. Cogitei pedir ao William, que estava agarrado em mim e respirando profundamente, para ir buscar a água, mas ainda era noite, ele acordava cedo pro trabalho, presicava de mais descanso do que eu.
Então me forcei a realmente acordar. Abri os olhos me deparando com Wil, ele é tão lindo dormindo e seus labios estavam tão próximos aos meus, que não resisti. O beijei lentamente pra não acorda-lo, com cuidado sai da cama e no automático segui pra fora do quarto.
Peguei um copo e o enchi com água, bebendo tudo em um só gole. Ah!!!! Nada é tão bom, quanto beber água quando se está com muita sede. Então o enchi novamente e me virei pra voltar ao quarto, caminhando devagar.
- Filha... - Essa voz! Ergui o olhar a encontrando. É a minha mãe! O copo cai da minha mão se estilhaçando no chão. A encaro enquanto ela ergue a mão parecendo querer me amparar e se aproxima depressa, mas os cacos não a deixam chegar muito perto.

- Isabela? Tudo bem? - Perguntou. O som da sua voz, a forma que fala o meu nome, trouxe de volta lembranças a muito muito adormecidas. Como um click! Como o escuro! Como a chuva! A chuva e o escuro da noite que ela morreu! Ela não morreu! Ou morreu? Não ela está aqui. Mas ela caiu no rio e se afogou. Então ela conseguiu sair do rio? Sim, ela está aqui! Tudo bem, eu já entendi tudo, ela se perdeu na floresta, como eu naquela noite, mas ela nunca foi encontrada, porque nós paramos de procurar; e só agora ela encontrou o caminho de casa.

- O que ouve? - A voz rouca de William penetra em meus ouvidos chamando minha atenção. O encontro na porta do quarto, apenas de calção. Ele parece respirar aliviado quando me vê. - Bela? Tá tudo bem? - Seus olhos me analizam de cima em baixo. Então se aproxima, mas não muito, os cacos espalhados pelo chão não permitem. - Eu vou buscar algo pra limpar isso, não se mexa. - Quando ele se move, eu entro em pânico.

- NÃO! Não me deixa aqui. William... - Imploro. Então ele para, me olhando confuso. Respiro fundo, tentando não chorar.

- Tudo bem, estou aqui. - Ele diz, mas não está, não da forma que eu gostaria que ele estivesse. - Fala comigo... O que ouve?

- O que ela faz aqui? - aponto com o olhar. E ele olha pra minha mãe ao seu lado. E depois volta a me encarar.
- Ela... Você não se lembra?
- Lembrar o que?
- De ontem... - Ontem! Ontem! O que aconteceu ontem? ... Rafael sai do quarto de hóspedes, refrescando a minha memória. Lembro que o meu pai estava sangrando, William bateu nele, porque ele agarrou o meu braço e ele gritou, gritou alto...

" Ela mentiu... Ela fingiu que estava morta... Ela te abandonou... Ela fugiu com o amante... " A voz do meu pai, ecoa na minha mente, me arrancando lágrimas.

- Eu lembro. - Digo apenas, olhando minha mãe fixamente. As suas feições não mudaram, ela continua idêntica as fotos, só que agora, tem as marcas da sua idade. Idade essa que eu nem sequer sei...

- A senhora... não morreu aquela noite afogada no rio. - Ela confirma com a cabeça. - Então onde esteve todos esses anos?

- Filha... - Fecho os olhos deixando as lágrimas escorrerem, eu sempre sonhei ouvir sua voz me chamando assim. - É uma longa história, e eu vou explicar tudo pra você, mas antes é melhor você sair dai, pode acabar se machucando. - Nego sem parar.

- Porque me abandonou? Eu valia tão pouco pra você?

- Não... Não, você era a minha vida, minha filhinha...

- Então... Porque? - Dei de ombros e cai em um choro desesperado. Minha mãe se cala, enxugando suas próprias lágrimas e me olhando com pena. Eles me olham com pen, todos el Até mesmo... William! É humilhante, voltar a ser diga de pena é humilhante. E por mais que eu queira, não consigo parar, meu corpo treme entre soluços e lágrimas.
Lágrimas que de intensificam quando vejo William afastar os cacos com o pé, se aproximando devagar. Então ele gentilmente me abraça com força, me escondendo no seu peito, os seus braços me mantem de pé, mas não podem evitar a dor que me dilacera por dentro.

Migalhas De AmorWhere stories live. Discover now