Partindo

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POV's Andrew

Anne.

Era a única coisa que pensava quando acordei no hospital e percebi o meu estado. Pontos nos braços e com certeza no rosto, já que sinto um incômodo perto da boca e sobrancelhas.

O pior de tudo era não estar sentindo minhas pernas. Eu simplesmente entrei em desespero até que o médico viesse falar comigo. Ele explicou que chegamos aqui e todos estão bem, ou pelo menos não em estado tão crítico.

O doutor e meus pais estavam na porta quando acordei depois de um breve cochilo e me concentrei em escutar a conversar.

- Ele vai ficar bom, com fisioterapia e o tratamento certo, será rápido. - ouvia o médico dizer aos meus pais. - Temos um ótimo fisiot... - ele continua dizendo, mas minha mãe interrompe.

- Fisioterapia? - ela olha para o pai imediatamente - Seu irmão... Ele é fisioterapeuta, certo?

Meu pai concorda após hesitar por um instante.

- Mas ele mora na Suécia. - meu pai diz e se mostra claro a discordância.

Fecho os olhos com força e passo a mão no rosto, me esquecendo completamente dos curativos, fazendo uma careta de dor. Eu não quero de jeito nenhum ir, eu não vou simplesmente deixar a Anne aqui. Eu não posso ficar longe dela mais nenhum segundo, eu amo ela de um jeito que não sei explicar, em tão pouco tempo passamos tantas coisas e eu me apaixonei tão rápido, chega a ser patético.

Ao abrir os olhos novamente me vejo sozinho no quarto, sem médico, enfermeira ou meus pais na porta do quarto. Eu queria conseguir me levantar dessa cama e correr pra ver Anne. Dizer o que sinto, apesar de já ter dito tantas vezes, dizer a ideia maluca e sem noção da minha mãe e que eu não quero ficar longe dela, além de querer me desculpar pelo que aconteceu.

...

- Querido, acorda. - escuto a voz da minha mãe e vejo-a assim que abro meus olhos.

- Mãe... - começo a dizer, mas ela me interrompe.

- Suas coisas já estão arrumadas e tudo já esta ajeitado. Sairemos daqui hoje mesmo.

Engulo em seco e sinto um frio percorrer a espinha. Ela ao menos comentou comigo antes de decidir simplesmente ir.

- Pra... casa, certo? - digo me ajeitando na cama.

- Sobre isso... Só estou fazendo o melhor pra você.

- Não! Mãe, eu não vou pra porra da Suécia, tá? Eu quero ficar aqui com a Anne, meus amigos! Aqui tem fisioterapeutas bons pra caralho, beleza? Você acha que é o melhor pra mim, mas não é! Você não sabe o que é bom pra mim! - despejo tudo isso e me sinto mais aliviado.

Minha mãe recua um passo e fica quieta, boquiaberta por uns instantes. Posso ter elevado um pouco demais o tom de voz, mas ela quer mesmo me tirar do país?

- Você vai e ponto! Que eu saiba você ainda não tem vinte e um anos e enquanto não tiver tenho o direito de tomar decisões por você! Você vai! - ela diz tudo rápido e respira fundo, andando pelo quarto e ajeitando o cabelo.

- Mãe, eu não posso ir... - suplico.

- Andrew, você vai. Já está tudo certo. - ela diz e sai do quarto rápido, fechando a porta e me deixando sozinho, imerso em meus pensamentos.

Eu não posso simplesmente deixar tudo aqui. Sinto meu nariz pinicando e meus olhos embaçados. Minha mãe vai mesmo fazer isso comigo? Com a Anne? As lágrimas escorrem e não me importo em secá-las. Eu estou com raiva e com vontade de esvair isso de dentro de mim, mas não consigo nem sair dessa droga de cama hospitalar.

Passo o dorso da mão nas bochechas e respiro fundo. Se eu tiver que terminar a faculdade lá, serão quatro anos longe. Quatro anos é muito tempo. Será que a Anne me aceitaria depois disso? Depois de tanto tempo?

....

Está anoitecendo e o avião sai em algumas horas. Não sei como minha mãe convenceu o hospital a me deixar ir e isso me deixa puto. Eu não quero ir.

Recebo olhares no aeroporto por estar de cadeira de rodas e com curativos no rosto, sorte estar de jaqueta e esconder o resto dos pontos. Esse acidente só me trouxe coisas ruins.

Até agora, depois da pequena discussão com a minha mãe no quarto, não falei mais com ela e isso não vai acontecer tão cedo. Me senti traído por ela não ter conversado comigo antes, não ter pedido minha opinião que seria completamente 'Não' e, pior ainda, ela está me tirando da Anne.

Porra.

Essa garota não sai da minha cabeça nem por um segundo. Tudo que eu penso gira em torno dela. Rio debochado sozinho de mim mesmo, lembrando de que alguns dias atrás eu estava pensando no futuro, arquitetando planos e ela estava neles. Eu quero ela pra minha vida. Nos formar juntos, casar, ter filhos. E isso vai ter que esperar ou nunca chegue a acontecer por causa da minha mãe que nem deu tempo de me despedir da Anne. Mas nem eu mesmo sei se teria coragem de me despedir. Se tivesse ido até o quarto dela, ela me vendo nessa situação, e enquanto eu encarasse os olhos azuis da minha garota, que não se igualam a de ninguém, eu não sei o que faria. Mas agora é tarde demais pra arrependimentos, quando ela receber alta vai notar minha ausência, não vai saber pra onde fui ou quando vou voltar pra tê-la em meus braços de novo.

Se eu fosse ela, acho que não aceitaria.

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Love Story  Where stories live. Discover now