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Nova Iorque - E.U.A -  Uma semana depois.

Deu um gole na garrafa de Whisky, perambulava pela sala de sua casa com os pés no chão livres de qualquer sapatos altos, pensando, deixando que o som da guitarra e a voz de Matt Healy ecoassem com força pelo metro quadrado da sala, a expressão estava séria e atenta ao contrato que tinha em mãos. Trajava uma lingerie de lavagem escura, e por cima uma blusa de botões aberta cobria seu corpo pálido, deixando sua barriga e metade de seus seios a mostra, aquela blusa era de Camila, e Lauren podia jurar sentir o cheiro familiar naquele tecido.

Elouquecida, sedenta por memórias.

Os olhos verdes começavam a pesar e perderem o foco. Estava ficando bêbada e se quisesse terminar de organizar todos aqueles contratos da Empire espalhados pelo sofá, precisaria parar de beber. Mas ela não queria parar de se embedar, de sentir aquele amargo tão prazeroso descendo rasgando por sua garganta. Por Deus, nada no mundo era tão amargo quanto perder Camila, nem mesmo o maldito Whisky.

Maldita latina.

Praguejou mentalmente de forma enraivada, jogando o papel no sofá. Logo em seguida deu mais um gole na garrafa, limpando a boca com as costas da mão esquerda.

Abriu a porta de entrada e saída da cafeteria, que logo emitiu um barulho causado pelo sino preso na parte superior da porta, era um detalhe mínimo, mas que Camila escutou por tantas vezes, que tornara familiar em sua vida. Distraída pela pressa e por estar focada em guardar sua carteira na bolsa, trombou seu corpo magro e esbelto com o de outra pessoa, essa era mais alta por estar de saltos altos e um pouco mais forte, forte o suficiente para quase leva-la ao chão.

Fechou os olhos, ela podia sentir o perfume da latina, ela podia sentir aquela pele encostando na sua, ela sentia. E aquilo causava sensações que ela não queria sentir mais.

Riu irônica após abrir os olhos, as lembranças eram tão reais, tão ilusórias, tão amargas quanto o maldito Whisky.

Maldita latina.

Pensou pela segunda vez dando mais um gole, um grandioso gole na bebida. Aquele gosto parecia tão compatível com a merda da sua vida no momento, mas ela não podia culpar Camila, se ela própria fogia de si mesma, de seus fantasmas, porque Camila era obrigada a ficar? Riu irônica. Exatamente, Camila não é obrigada a ficar.

E ela não ficou.

Maldita latina.

Negou sentindo lágrimas mais vez ultrapassarem sua fraqueza, negou pela milésima vez, sentindo as mesmas lágrimas recheadas de rancor e culpa descerem queimando por seu rosto mais uma vez formigantes, dolorosas.

Sua aparência estava péssima, ela estava péssima. Os últimos meses foram deploráveis e com uma atuação imperfeita de que estava tudo bem, nem mesmo sua máscara de frieza e arrogância estavam sendo suficientes, os vestidos caros desenhados sob medida por sua tia e o batom vermelho já não pareciam tão intimidantes. A maquiagem já não era suficiente para tampar suas olheiras, os olhos verdes e cheios de egocentrismo e confiança estavam vazios, opacos, cheios de uma falsa indiferença. Ela fingia não se importar com as revistas de fofocas, ela fingia não se importar quando saía alguma notícia de Camila em algum tablóide, ela tentava não deixar seu coração disparar quando ouvia o maldito nome ecoar pela boca de alguém. Ela tentava não se deixar sobrecarregar pelas responsabilidades ao assumir a presidência da Empire.

Maldita latina.

- Porra! - Gritou arremessando o objeto com a bebida contra a parede. O barulho da garrafa se partindo em mil pedaços não era tão alto quanto o barulho do seu coração sendo despedaçado naquele dia, sendo despedaçado em milhões de pedacinhos tão pequenos quanto os rastros daquela garrafa de Whisky agora espatifada no chão.

Passou a lingua pelos lábios carnudos sentindo o gosto salgado das lágrimas arderem em seu paladar, sentindo a culpa voltar aos poucos. Ela não podia culpar Camila por ter ido embora, a culpa era de si mesma certo? Mas culpar alguém é tão mais fácil, tercerizar sua dor é tão menos doloroso do que assumir toda a responsabilidade.

- Eu me entreguei por inteira a você Karla... - Sussurrou baixinho com a voz rouca encarando o nada, sua visão a essa altura estava tão desestruturada quanto seu piscicologico. - E você me devolveu em pedaços - Completou após focalizar os cacos de vidros espalhados pela sala, não praguejou ter quebrado o Whisky caríssimo, não sentiu pena de Mariah que na manhã seguinte limparia aquela bagunça. - Maldita latina.. - Fungou enquanto mais e mais lágrimas desciam, colocando a mão na boca. - Seria tão simples se a culpa fosse sua. - Abafou um soluço, mesmo estando sozinha, sentia que seu estado era deplorável, mas tão deplorável, que estava com vergonha das paredes, do nada.

- Aonde você vai? - Perguntou com fúria nos olhos esverdeados. - Fala sério Camila, ela quer te pegar! - Berrou andando de um lado para o outro no apartamento localizado perto do central park. - Acha que não vejo ela te comendo com os olhos?

- Eu não quero nada com ela Lauren! Eu sua noiva! - exclamou Camila  - O que posso fazer? Ela é uma das modelos que vou fotografar, quer que eu faça o que?

Lauren parou frente a frente com a latina, encarando-a de forma dura, ríspida. Os olhos verdes expressavam uma fúria gigantesca.

- Você não vai naquela festa. - Falou lentamente de forma autoritária.

Camila riu. Como sempre não deixando-se intimidar pela voz imponente da Jauregui.

- Vou fingir que não escutei isso. - Respondeu a cubana com a voz incrédula. - Você não manda em mim Lauren. Eu não vou deixar. Eu não aguento mais essa merda, você já saiu no tapa com uma colega minha de trabalho por conta desse seu ciúmes besta e ridículo - Passou as mãos pelo rosto que a essa altura estava vermelho. - a gente briga toda hora, você me manda milhões de mensagens fazendo a mesma pergunta como se eu tivesse algum motivo para mentir pra você. Isso não é normal, e eu não vou romantizar seu ciúmes como se estivessemos em um romance barato de Hollywood!

- Eles não são bestas! Eles tem motivos. -  Apontou o dedo para a latina.

- Não aponta o dedo pra mim! - Empurrou a mão da empresária. - Nunca mais... - Sussurrou aproximando-se da americana. - Eu disse: Nunca mais erga esse dedo para mim Lauren Michelle! - Completou baixo, mantendo o controle que sempre faltou na empresária.

O verde no castanho, uma batalha silenciosa sustentada por olhares. O ombro de ambas as mulheres desciam e subiam frenéticos, por conta da adrenalina que consumia o corpo de cada uma.

- Você gosta de me ver assim né? Você é uma filha da puta, você adora me provocar, será que você gosta de mim mesmo? Será que gos-

Foi interrompido por um tapa certeiro no rosto, fechou os olhos verdes e deixou que lágrimas escorrecessem por suas bochecha coradas.

Camila abriu e fechou a boca enquanto mexia a mão freneticamente que acertara o rosto da empresária, incrédula com o que acabara de fazer. Mas não pediria desculpas, a Jauregui havia merecido o tapa. E decidiu no intervalo de três segundos o que iria fazer no próximo minuto. Lauren ter duvidado do seu amor era o mesmo que soletrar com todas as letras que não confiava nela.

Aquilo teria de acabar.

- Gosto Lauren, e é por isso que estou terminando com você nesse exato momento. Isso está passando dos limites, ou melhor, acabou de passar. É melhor a gente parar por aqui. Isso nunca daria certo, somos diferentes de mais.

Lauren negou sentindo aquelas malditas lembranças pisotearem seu coração, seria tão mais fácil se não tivesse se apaixonado, se tivesse mantido a pose de mulher inatingível, tão mais fácil se Camila não tivesse aparecido em sua vida, enfrentado-a com unhas e dentes, com garra, destruindo camada por camada de sua indiferença..

- Maldita latina.. - Praguejou deixando que suas costas escorregassem pela parede, até que a mesma desabasse no chão. O silêncio lá fora machucava,  e as luzes no cômodo de sua sala cegavam seus olhos sensíveis pelo choro. A culpa despedaçava cada átomo de seu corpo.

Ela desejava morrer.

I Have Questions (2° Temporada Video Game)Where stories live. Discover now