/7 - RECUPERAR MINHAS ASAS/

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Ótima leitura a vocês...

REN

A humana me levou para a praia.

Voltar aquele lugar me deixava arredio, como se fosse uma prova de que eu tinha caído e continuava adorando meus irmãos. De quê, agora eles estavam muito melhor do que eu.

Ela estendeu dois cobertores em cima das dunas e jogou os dois travesseiros nas mantas, e deitou-se com um meio-sorriso. Segui seu exemplo, com a exceção do sorriso. Não entendia como os humanos gostavam tanto de sorrir.

— Por quê gosta de vir aqui? — indaguei.

— Não é que eu goste de vir exatamente aqui — hesitou e virei a cabeça para olhar seu perfil. Estávamos bem juntos, nossos ombros estavam mais do que se tocando —, mas quando estou com muitos problemas, deito na grama e olho para o céu.

— E do que adianta? Acha que Deus está olhando para você? — a frase tinha saído mais áspera do que pretendia e vi quando Analu se retraiu um pouco.

— Ele não está?

Permaneci em silêncio. Na verdade eu não sabia, nós não ficávamos na presença do Senhor constantemente. Tínhamos somente uma função a cumprir, matar as trevas que vinham na direção do Céu e dos humanos.

Mordi os lábios quando lembrei que possuíra asas. E que desprezava os mortais. Agora veja onde estou. Quanta ironia.

— É bonito, não é? — me olhou.

Aqueles olhos verdes pareciam enxergar minha alma, não sabia se era desconfortável a ideia, ou... se gostava de seu jeito. Então lembrei do humano idiota que tinha me socado e feito-me morder a língua.

Era para mim ter levantado e acertado-o com bastante força. Mas aí deduzi que não tinha mais a força de um anjo, e poderia me machucar bastante e não fazer nenhum estrago nele.

Fiquei aturdido quando vi o que Kevin fez. A dor que senti, no céu não sentíamos dor. Morríamos, mas o sofrimento não existia. Mas confesso que gostei quando Analu expulsou o palerma de sua casa.

— Ren?

— Hm? Ah, sim, é bem bonito.

As estrelas estavam realmente belas no céu quase preto. A lua era cheia e o vento gelado fazia minha pele se arrepiar, mas... a proximidade com a humana amenizava um pouco a situação.

Ficamos em silêncio, enquanto ela lentamente se espreguiçava e virava em minha direção, Analu ficou na posição fetal e fechou os olhos. Deixei que fizesse, não tinha contado a ela, mas antes de sairmos, peguei minha espada.

Não conhecia muito o mundo dos humanos, mas existia perigo em todo lugar. Se alguém se quer se aproximasse, defenderia sua vida... até por quê precisava ajudá-la para recuperar minhas asas e o perdão de meu Pai.

Imaginei que se contando a verdade não faria com que o processo fosse mais rápido.

Cruzei os braços, não sabendo por onde começar. Se bem que ela saber que eu era um anjo, ter me ajudado sem preocupações e me alimentado com aquela gosma branca e marrom, e não surtar.

Tinha sido um ótimo início.

— Analu?

Houve silêncio e sua respiração ficou mais centrada. Observei seus traços cuidadosamente. Suas sardas estavam bem acentuadas e seus lábios tinham um meio-sorriso que estreitou meu coração. Droga. O que estava acontecendo comigo?

Antes que pudesse pensar, meus lábios foram de encontro aos seus e delicadamente os tocaram. Mas ela não abriu os olhos nem deu sinal de que tinha se acordado.

Aninhei-a em meus braços para Analu não morrer de frio e fechei os olhos.

Esperando que o dia amanhecesse.   

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