Evolução - Parte 2

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MUCHAS GRACIAS era a única coisa que Damon sabia falar em espanhol. As aulas do Sr. Z, além de incompreensíveis por causa do forte sotaque mexicano que ele tinha, pareciam não ter fim. Engraçado, quando o momento era bom o tempo passava rápido, mas quando o momento era ruim parecia que o próprio Satanás desacelerava o tempo para ver o pobre Damon sofrer.

Como aquele dia em em que Damon discutiu com a mãe dele no carro. O engarrafamento e o sol escaldante não ajudavam em nada, a música clássica que deixava os ouvidos de Damon zunindo, e a pertinente pergunta da mãe dele...

– Filho, se você for não tem nenhum problema – falou a mãe dele com uma voz doce que só ela tinha. – Pode se abrir comigo, saiba que eu te amo acima de tudo. O fato de você ser gay...

– Eu já disse que eu não sou gay... – Damon falou pela quadragésima vez, de acordo com a contagem dele.

Além de ser o esquisito da família, ainda tinha que le dar com esse apontamento. Damon não era gay, ele sabia disso. Mas as pessoas pareciam querer conhecê-lo melhor que ele mesmo, isso era chato, muito irritante. Damon acreditava que o mundo seria melhor se as pessoas parassem de se incomodar com a vida alheia. A única arma de Damon contra isso era tentar convencer às pessoas sobre si mesmo.

– Mas a sua tia Genilly...

– Ela tá errado, ok? Começando pelo o nome estranho dela – ele não queria ser rude, mas a sua mãe não estava cooperando.

– Damon, eu e seu pai decidimos que seria melhor para você que, se não se abrisse com nenhum de nós dois, você fosse para um psicólogo – ela disse num tom banal, mas Damon sabia que essa era a maneira dela amenizar a situação. – Eu já sabia que você não iria querer se assumir agora, e que...

– Mãe, eu já disse, eu não sou gay – ele não gritou, mas se esforçou para falar baixo. – E não quero essa consulta com esse psicólogo aí. Eu sei o que eu sou e o que eu não sou.

A música clássica já estava alta no carro, o violino e o piano num tom rápido que Damon não entendia como isso poderia acalmar alguém.

– E agradeceria se acreditassem em mim pelo menos uma vez – ele finalizou. O suor desceu pela testa acompanhado de uma coceira irritante.

O calor era tanto que Damon se transformou no próprio calor. E a música clássica, ah a música clássica. Damon queria quebrar aquele rádio naquele mesmo instante.

– Acreditamos em você, mas seria prudente que...

– Chegamos! – Ele exclamou. Agradeceu a Deus por esse livramento.

Nos arredores do Martin Ruelle School havia poucos alunos, aqui e ali, como formigas ao redor de um formigueiro. O campus era grande, raramente se via muitos alunos num amontoado só. Pelo menos isso cooperava, Damon estava tendo um péssimo dia, e estava longe de acabar.

Ann, o que? Ah, claro – a mãe de Damon parou o carro subitamente, e em cima de uma rampa para cadeirantes. Damon se perguntava porque não pegava o ônibus e se arriscava em vim com a mãe dele. Havia muitas coisas que Damon perguntava para ele mesmo. – Pense no que eu disse, um psicólogo...

– Tá mãe, tchau – ele abriu a porta com um empurrão e saiu sem ouvir o resto. Era bom estar livre do diálogo inconveniente, do calor insuportável, da música clássica e das respostas que tinha que dar.

Ele sequer olhou para trás, nem para se despedir da mãe. Era a primeira vez que Damon fazia aquilo.

Ele seguiu reto pela a trilha de concreto olhando ao redor e se certificando de que não estava atrasado. O Sr. Z não perdoava, nunca, em nenhuma hipótese. Damon acelerou os passos ao pensar nisso, não estava a fim de responder alguma pergunta do Sr. Z sobre espanhol. O velho era chato, velho, era difícil entender o que ele dizia, as aulas eram insuportáveis. É, o dia não era nada bom para Damon.

Adolescentes em CriseWhere stories live. Discover now